A VIÚVA DO CAPATAZ

Wagner Fontenelle Pessôa                     
Nhô Chico era um proprietário de terras, bem estabelecido no interior do Ceará. Possuía uma propriedade de porte razoável, um rebanho que lhe garantia uma boa produção leiteira e um carnaubal, bonito de se ver. Que, juntos, lhe possibilitaram, com relativa tranquilidade, criar a família e mandar os filhos estudarem na capital.
            E quando chegou no tempo de os meninos fazerem o ensino médio e superior, com eles também se foi dona Mercedes, sua mulher e mãe das crianças. Assim, ficou a casa da fazenda entregue aos cuidados de Almerinda, empregada da mais alta confiança do casal, que já estava a seu serviço, desde uns trinta anos antes.
            Almerinda fora casada com Arlindo, um capataz que Nhô Chico tivera e que deixara de ter, quando o moço, desmontando de uma mula sem a devida atenção, posicionou-se em local incorreto e levou um coice aprumado, um palmo abaixo do umbigo, que o deixou rendido, cabisbaixo e inútil para os afazeres do matrimônio. E estando o fato consumado, Arlindo, caiu numa tristeza profunda e, sendo ou não sendo por isto, acabou morrendo, algum tempo depois.
            A viúva ficou, deste modo e para sempre, a serviço dos patrões. Ajudou a criar as crianças e a cuidar dos afazeres domésticos, com uma dedicação a toda prova. Assim, quando dona Mercedes se foi, em companhia dos filhos, Almerinda passou a cuidar, da roupa e da alimentação de Nhô Chico, atenta às suas ordens e chamados.
         Houve um dia, porém, em que, recebendo para o almoço um velho companheiro e também proprietário rural da região, lá pela hora da sobremesa e do café, Nhô Chico fez um desabafo ao amigo:
            — Eu não ligo de ficar sozinho por aqui. O que, às vezes, me atormenta é a falta da mulher, compadre! Que eu não tenho mais idade de ir atrás de rapariga e nem de frequentar certos ambientes, para resolver essas coisas.
         O amigo esticou o olhar na direção da cozinha e baixando o tom da voz, insinuou:
            — E essa aí, não alivia as suas urgências, não?
            Nhô Chico disse que não, que aquilo não tinha cabimento. Almerinda já trabalhava na casa há mais de trinta anos, era quase uma agregada da família! Que ele nem conseguiria fazer uma coisa dessas, botando o olhar na serviçal. Ao que o amigo contestou:
            — Que nada! Você coloca um pano no rosto dela e nem se lembra de quem é!
            O dono da casa riu, mas, quando a visita foi embora, uma ideia de jumento começou a tomar forma na cabeça de Nhô Chico. Que andou para um lado e para o outro, medindo, a passo, a extensão e a largura do quarto, até que, tomado de coragem, chamou:
            — Almerinda, venha cá e me traga uma fronha, por favor!
            Daí a pouco apareceu a viúva, com a fronha à mão, que Nhô Chico, sem lhe dar tempo para entender do que se tratava, enfiou-lhe na cabeça. E, deitando-a na cama, apesar de sua relutância e resistência, consumou o que pretendia.
            Depois do feito, Almerinda deixou o quarto aos prantos, envergonhada, cobrindo o rosto com as mãos. E Nhô Chico, passado o entusiasmo do momento, quedou-se mortificado, tentando avaliar o tamanho do problema que teria de enfrentar, em decorrência de sua atitude tresloucada. Passou a noite entregue à insônia, sem saber como encarar a serviçal no dia seguinte e nem atinar com o que lhe poderia dizer.
          Propositalmente, no dia amanhecido, saiu do quarto mais tarde e já encontrou a mesa posta para o seu café, como era de rotina. Mas nem sinal da empregada. Enquanto quebrava o jejum, matutava no que fazer. E a única coisa que lhe ocorria era pedir-lhe desculpas. Até que, armando-se de coragem para enfrentar o constrangimento inevitável, chamou, na direção da cozinha:
            — Almerinda... Venha até aqui, por favor.
            E lá de dentro, antes que ela se mostrasse no vão da porta, veio a resposta:
            — Eu levo a fronha, Nhô Chico?

            São as trapaças da sorte... Afinal de contas, quem é que há de entender as premências de uma viuvez? 

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