Crônica da semana: POBRE CORAÇÃO DE ESTUDANTE!


Wagner Fontenelle Pessôa                         

Aluno é sempre aluno, não importando em que época tenha frequentado os bancos escolares. É certo que a relação entre eles e os professores tem estado muito mais descontraída e informal — às vezes, até um pouco demais — e isto me faz lembrar de uma frase que a minha bisavó, um tanto avançada para o seu tempo, costumava repetir:
            Na minha época, dizia ela, fazíamos tudo o que vocês fazem hoje; só que com mais hipocrisia...
            Acho que esta é a chave da compreensão. Os alunos continuam a fazer o que sempre fizeram e a agir como sempre agiram. Só que com menos hipocrisia.
            Copiar um trabalho todinho de um ou mais livros, com a esperança de que o professor nos fosse dar uma nota apenas pela capa e pelo número de páginas, era coisa comum para a minha e para outras gerações de estudantes. E eles continuam a fazer a mesma coisa... Só que, agora, copiam da Internet. Ou seja, é a mesma pouca vergonha, com muito mais tecnologia.
            E aquela insuportável mania de copiar a matéria de uma disciplina durante as aulas de outra? Isto é coisa que qualquer docente odeia, mas não há quem consiga impedir os alunos de fazerem. Você reclama com o copista numa aula e ele fecha o caderno, com a cara de quem não entende a sua intransigência. Pois. logo na aula seguinte, lá estará ele fazendo cópia da matéria atrasada outra vez. E se não for o mesmo, será um outro aluno qualquer.
            Também tem aquele tipo, “ enrolado e enrolador”, que passa o ano letivo todo querendo levar o professor “no bico”. Falta prá caramba, requer segunda chamada das provas em quase todos os bimestres e a justificativa será sempre a mesma: que está enfrentando uns problemas excepcionais, para justificar a sua péssima frequência e desempenho.
            Tive uma aluna que, num só ano letivo, separou os pais, sofreu ameaça de sequestro — o que a impedia de ir à aula, segundo a sua justificativa — estava sendo perseguida por um ex-namorado e o marido da vizinha ainda tentava seduzi-la... É possível acreditar em tanta desgraça junta?
            Quanto à disciplina... Ah, isto realmente mudou muito! Já não há mais tanto rigor e formalismo, como na relação dos alunos com a escola e com os professores ou funcionários, que havia noutros tempos. Porém, o passar dos anos não apagou das minhas lembranças a sensação de medo que nós tínhamos, quando éramos flagrados numa falta disciplinar. Parecia que o mundo ia todo desabar na cabeça da gente, porque a possibilidade de voltar para casa com uma suspensão era a certeza de que teríamos de enfrentar outros castigos e punições, no plano familiar.
            Por isto, quando o pobre aluno se via nesta aflitiva situação, tentava apelar para a comiseração do Chefe de Disciplina. Que, via de regra, era uma besta quadrada, que não tinha comiseração nenhuma e nem conhecia o significado desta palavra. Pois ainda confirmava a "sentença de morte", para o pobre condenado, com uma expressão de alegria estampada no rosto e a ironia da fala:
            Vou lhe dar três dias de descanso, moço!
            Era como uma facada no coração. Até o Anjo da Guarda sentia a estocada! Era a morte antes da própria execução!
            Pois foi numa dessas que o meu irmão, em desespero, tentou um último recurso, ameaçando a cavalgadura que o sentenciava:
            Se o senhor me suspender, eu me jogo da ponte, quando for para casa!
            De nada adiantou, pois o Joênio, que era o Chefe de Disciplina não se comoveu com a ameaça e ainda fez pouco do "quase suicida":
            Pois então pule do lado esquerdo, que tem mais pedra e você morre mais depressa. Porque, do lado direito, tem mais água e você pode custar a morrer.
            Como sofria, naqueles tempos, um pobre coração de estudante! 

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