Crônica da semana/ PAI EXTREMOSO

Wagner Fontenelle Pessôa                          
O compromisso que tenho com o editor do Blog, de lhe mandar o texto de uma crônica, a cada início de semana, no dia de hoje coincide com uma comemoração que lisonjeia a todos os pais: aos que valem alguma coisa e aos que não valem coisa alguma! Porque, sendo este o segundo domingo de agosto, estamos em pleno Dia dos Pais! E quem instituiu a data, só pensou em condição e não pensou em qualidade.
            De um jeito ou de outro, a coincidência fez nascer em mim a ideia de que, talvez, o mais apropriado fosse incluir nestes apontamentos semanais algum desses casos de pais amorosos e dedicados, que perseguem, para seus filhos, o melhor futuro que estes possam ter. Pois, com efeito, a garantia de um futuro próspero e feliz para a sua prole, é só o que um pai amoroso há de querer.
            Andei, por isto, garimpando e cascavilhando, naquelas gavetas da memória, onde guardo uns casos divertidos — que ouvi, que vivi ou que sonhei — em busca de algum que me pudesse, neste momento, servir de tema ao que pretendo contar. Foi quando me deparei com este aqui, vindo de outros tempos, numa época em que aos pais era permitido dar palpite em tudo o que dissesse respeito ao destino daqueles que ajudara a trazer ao mundo. Até mesmo, nas coisas do amor.
            O sujeito era um fazendeiro de boas posses e negócios estabilizados, que se
casara com uma mulher bastante bonita e dela ganhara uma filha, que, desde muito pequena, evidenciara uma enorme semelhança física com a mãe. Mas a menina já ia pelos seus doze anos, quando a mulher do ruralista morreu, em decorrência de algum problema que não vem ao caso e nem importa para o enredo.
            Tomado de uma viuvez inconsolável, o homem nunca mais se casou e passou a dedicar-se, exclusivamente, a duas coisas na vida: seus negócios e sua filha, que, com mais algum tempo, chegaria à adolescência. Foi então que, enfrentando o dilema de separar-se da garota, resolveu, que a menina seria mandada para um colégio de freiras na cidade grande, já que, sem a presença materna, seria esta uma forma de garantir a sua formação moral e a necessária preparação para o papel que lhe caberia no futuro, de dona de casa e mãe de família.
            Desde então, seus encontros com a filha ficaram limitados às viagens que, de vez em quando, precisava fazer à capital ou aos períodos de férias, quando ela retornava aos domínios do seu pai viúvo. Depois de vários anos e já tendo a garota concluído seus estudos como professora, voltou diplomada ao seu lugar de origem. Era, agora, uma linda mulher e, como previsto, parecidíssima com a mãe.
            Não foi preciso muito tempo, portanto, até que um rapaz do lugar, filho de um outro proprietário rural, começasse a aparecer pela fazenda, a pretexto de coisas sem importância ou sem pretexto algum, até que, em certo momento, o pai percebeu que havia um namoro em andamento por ali. Resolveu, então, por a situação em pratos limpos, como se diz, chamando o rapaz para uma conversa particular.
            Disse-lhe que entendia o que estava havendo, mas queria, desde logo deixar algumas coisas bem claras. E, no seu modo tosco, mas bem intencionado de pai amoroso, foi logo explicando:
            — Escute, rapaz... Essa menina perdeu a mãe muito cedo, mas foi criada com todo esmero e cuidado. Foi por isto mandada para um colégio de freiras, onde aprendeu só o bom e o melhor de uma vida sadia. Formada dentro dos princípios morais e cristãos, foi preparada para ser uma esposa e mãe da melhor qualidade, quando Deus determinar a hora!
            Fez uma rápida pausa e continuou:
            — Aprendeu de tudo, sobre como cuidar de uma casa e como educar os filhos no caminho do bem. Portanto, eu quero um namorado que tenha respeito por ela e que não fique empatando o caminho da menina, se não estiver pretendendo levá-la ao altar! Está me entendendo?!
            Algo constrangido o rapaz disse ao fazendeiro que ficasse despreocupado, que ele gostava muito de sua filha e que as suas intenções eram as melhores possíveis! Que tudo era só um questão de esperar o tempo certo, mas que, o caminho do altar, para eles, já estava sendo pavimentado. E que o namoro, ficasse ele sossegado, era pautado pelo amor e pelo respeito.
            Tranquilizado, o viúvo achou que era o momento de afrouxar um pouco o laço no pescoço do rapaz. E com o propósito de valorizar mais ainda as virtudes da filha, diante do potencial pretendente, puxou o rapaz pelo braço e acrescentou, em tom de confidência:
            — E tem mais... Se a menina "puxou à falecida", você vai revirar os olhos, na hora das "coisas"!

            Isso, sim, é que é ser um pai extremoso! 

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