O CAMPEÃO E A NADADORA

Essa facilidade com que milhares de pessoas encontram parceiros e por eles se apaixonam, nos caminhos da internet, pode ser explicada e entendida, a partir de uma série de variáveis. Mas, seguramente, existem dois fatores que são os que mais estimulam e intensificam essas paixões, cujo berço é a tela dos computadores.
            De um lado, esta sensação de que, no mundo virtual, estamos relativamente anônimos e seguros. Uma impressão equivocada, aliás, porque é na rede mundial de computadores, ao contrário, que estamos mais expostos, hoje em dia. De outro, a possibilidade que existe, nesta circunstância, de se fantasiar, de forma ilimitada, sobre a pessoa que está do outro lado da conexão.
            A enganação é mútua e recíproca, o que permite a um velho — feio e inteiramente fora de forma, mostrando fotos de dez anos antes — dizer-se um "gatão de meia idade". Do mesmo modo que possibilita a uma coroa, mais caída do que viaduto em Belo Horizonte, exibindo algumas imagens dos seus tempos de glória, descrever-se como uma balzaquiana, "um pouco acima do peso".
            É muita gente mentindo e muita gente fantasiando sobre as mentiras, próprias e alheias! O que, afinal de contas, traz a felicidade geral aos internautas, embora, aqui e ali, seja motivo de algumas decepções e causa de ressentimentos, entre os enganadores e os enganados.
            A pergunta que alguns se fazem, no entanto, é se, antes desses transitórios romances e paixões virtuais, as coisas eram piores ou melhores, mais ou menos decepcionantes, já que o contato era direto, sem muito espaço para fantasias e, por consequência, sem margem a tantos enganos.
            Pode-se dizer que sim, mas essa resposta não tem um valor absoluto. Porque, mesmo com o contato direto, as pessoas também fantasiavam, dentro do espaço possível para isto. Como na história daqueles dois turistas, que desacompanhados, se conheceram num hotel da Itália, em que ambos estavam hospedados. Ele, um homem bonito e de porte elegante; ela, um monumento de mulher, linda e com um corpo escultural.
            A atração foi imediata! De tal forma, que combinaram, desde logo, irem jantar juntos. E, na sequência, partiram para uma boate. Na volta para o hotel, direto para o apartamento dele, de onde ela saiu, quase ao nascer do sol. Foi uma noite de puro prazer, que deixou o sujeito convencido de que encontrara a mulher perfeita para se casar!
            Depois do café, que tomaram à beira da piscina, com o sol aquecendo aquela fulgurante paixão, ele pediu licença e, subindo ao trampolim mais alto, saltou de lá, com movimentos e piruetas de uma beleza inesperada. Repetiu a exibição mais duas vezes, com a óbvia intenção de impressionar a moça. E aí, veio sentar-se ao seu lado. Mas foi a vez dela pedir licença e lançando-se na piscina, atravessou-a, seguidas vezes, a nado... Com a desenvoltura e numa velocidade de fazer inveja a qualquer Cesar Cielo!
            Ao voltar, acreditando que tinham naquilo mais um ponto de afinidade e sem esconder o seu entusiasmo, ele lhe disse:
            — Eu fiz parte da equipe de saltos ornamentais em duas olimpíadas. E sou capaz de apostar que você também nadou pela equipe olímpica do seu país, não foi?
            Ao que a linda moça lhe respondeu, com um certo tom de descaso:
            — Que nada! É que eu sou prostituta em Veneza e atendo em domicílio.
            Como podemos perceber, tais enganos também ocorrem fora do mundo virtual... 

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