105 anos de Mário Quintana
Nasci em Alegrete, em 30 de julho de 1906. Creio que foi a principal coisa que me aconteceu. E agora pedem-me que fale sobre mim mesmo. Bem! Eu sempre achei que toda confissão não transfigurada pela arte é indecente. Minha vida está nos meus poemas, meus poemas são eu mesmo, nunca escrevi uma vírgula que não fosse uma confissão. Ah! Mas o que querem são detalhes, cruezas, fofocas... Aí vai! Estou com 78 anos, mas sem idade. Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a Eternidade.
Nasci no rigor do inverno, temperatura: 1 grau; e ainda por cima prematuramente, o que me deixava meio complexado, pois achava que não estava pronto. Até que um dia descobri que alguém tão completo como Winston Churchill nascera prematuro - o mesmo tendo acontecido a Sir Isaac Newton! Excusez du peu... Prefiro citar a opinião dos outros sobre mim. Dizem que sou modesto. Pelo contrário, sou tão orgulhoso que acho que nunca escrevi algo à minha altura. Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação. Um poeta satisfeito não satisfaz. Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Assim Mário Quintana falou de si mesmo, aos 78 anos, em 1984. Na sequência, um pouco de seu pensamento sobre:
O Eterno Espanto: Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez?
O amor: O amor só é lindo quando encontramos alguém que nos transforme no melhor que podemos ser.
As estrelas: A noite acendeu as estrelas porque tinha medo da própria escuridão.
Amar: Amar é mudar a alma de casa.
Amizade: Quando o silêncio a dois não se torna incômodo.
O sorriso: O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores.
Melancolia: Maneira romântica de ficar triste.
Dupla delícia: O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Ansiedade: Quando sempre faltam muitos minutos para o que quer que seja.
Compreensão: Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.
Um bom poema: Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente ... e não a gente a ele!
Analfabetos: Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.
Linha Curva: O caminho mais agradável entre dois pontos.
Linha Reta: Linha sem imaginação.
Amanhecer: Quando abro a cada manhã a janela do meu quarto é como se abrisse o mesmo livro numa página nova...
O poder da poesia: Porque a poesia purifica a alma...e um belo poema — ainda que de Deus se aparte —
um belo poema sempre leva a Deus!
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