Encontro para pensar o Brasil

    Goiânia (GO) — “A ciência quer ser ouvida.” Esse é o discurso mais repetido em praticamente todos os eventos que compõem a programação da 63ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que ocorre esta semana na Universidade Federal de Goiás (UFG). Mais do que apresentar pesquisas de ponta, o maior evento científico da América Latina, que deve reunir até a próxima sexta-feira cerca de 10 mil pessoas por dia, tem o objetivo de mostrar como o conhecimento científico pode ser útil na resolução dos problemas que afligem os brasileiros. A solução para a fome, a violência urbana, a precariedade da educação, os problemas relacionados à corrupção ou os desastres ambientais, dizem os cientistas, deve passar pelo que é pensado e produzido nos centros de pesquisa Brasil afora. Todos esses temas, e tanto mais, estão representados nos diversos painéis e mesas redondas do encontro. Segundo a presidente em exercício da SBPC, Helena Nader, a sociedade precisa aprender a valorizar a ciência como uma forma de se pensar as políticas públicas. “A ciência não se baseia em preconceitos, em posições políticas, ou ideológicas, em pontos de vista. Acho que essa imparcialidade pode ajudar o Brasil a trocar a luta de ideias — em que pelo menos uma das partes sai descontente — pela busca do consenso”, defende a cientista, biomédica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e que amanhã toma posse definitivamente no cargo à frente da entidade que agrega quase 100 associações científicas nacionais.
A defesa da participação científica na elaboração das políticas públicas ficou evidente recentemente durante a polêmica discussão do novo Código Florestal. A SBPC e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) elaboraram em fevereiro um livro reunindo mais de 300 artigos sobre a questão. “Toda a discussão sobre o tema tem sido polarizada entre os representantes do agronegócio e os ambientalistas. Essa discussão passa apenas pelo interesse de dois grupos, e não os do Brasil”, afirma Helena. “É inegável que é preciso preservar o meio ambiente e a água, mas também não é possível ignorar que 60% do PIB nacional vem do agronegócio, e que a produção de alimentos tem um papel cada vez mais importante. Daí a necessidade de uma discussão mais isenta, que só a ciência pode promover”, acredita a presidente da SBPC, para quem a votação da nova legislação deve passar pela Comissão de Ciência do Senado Federal.
Por: Max Milliano Melo, Correio Braziliense

Nenhum comentário