REFLEXÕES SOBRE A PEDAGOGIA DO MESTRE (2)

Em Gênesis- 3, encontramos: “Deus chamou o homem. Onde está você, Adão?”. Alguém de nós consegue pensar que Deus não soubesse onde Adão estava? Claro que sabia. Se assim é, por que, então, Ele chamou Adão? Ele não queria saber onde Adão estava fisicamente. Não, não. Deus está dizendo: Adão, veja onde você foi parar. Quando Deus nos pergunta algo não é para saber o que fizemos para nos julgar. Ele apenas deseja despertar e ativar nossa consciência.
Precisamos aprender a distinguir entre nossas atitudes e as atitudes divinas. Se sabemos que alguém está escondido (e essa pessoa é suspeita ou acusada de algo), cheios de orgulho e vaidade vamos até onde essa pessoa se encontra, com aquele ar superior de “te peguei!”. Não vamos para acolher o outro. É diferente, muito diferente com o Pai. Ele não nos procura para nos humilhar, quando erramos, mas para nos convidar à reflexão e reparação do mal que praticamos
Pensemos, agora, no ponto de vista de Adão, aquele que se escondeu. Eu, você, não somos diferentes de Adão. Para nos defender, muitas vezes nos escondemos na mentira, na omissão... ou apontando o erro alheio para, com ele, justificar nossas falhas. “Sou assim porque meu pai/minha mãe/a escola/aquela professora/aquele colega...” Da mesma forma que Adão se escondeu, nós também nos escondemos. A vergonha e o orgulho nos esconde, nos camufla, porque é mais fácil esconder do que assumir nossos erros.
Conhecendo nossas fraquezas e o demérito da luz no seu povo, séculos mais tarde Deus nos envia Jesus. Em Mateus: 5, 14-16, Jesus nos fala: “Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte. Nem se acende uma vela para se pôr debaixo de uma vasilha, mas no candelabro, para que ilumine todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam suas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.” O que significa ser luz no mundo? As palavras “vós sois a luz do mundo” nada têm a ver com amor-próprio, orgulho, preconceito ou discriminação. Eliminam todo e qualquer prejuízo da intransigência, pois para Deus não há escolhidos e enjeitados, há apenas almas a serem aquecidas por seu amor e iluminadas pelo conhecimento da Verdade que liberta. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Ser luz no mundo é iluminar o mundo com aquilo que você recebeu. Iluminar o ambiente para que possamos nos encontrar e evitar que outros tropecem. Iluminar os caminhos, preservar os valores de humanidade, de cultura, de amor à arte, de fraternidade, de harmonia, de paz, de alegria, neste mundo tão necessitado deles. Lembrar às pessoas que existem outras possibilidades de vida além dessa rotina que vemos nos jornais, revistas, internet e programas de TV. Nem só de escândalos vive a sociedade humana, mas também de beleza, de felicidade, de solidariedade.
É preciso, diz o Cristo, que “eles vejam suas boas obras”, deixando claro que cada um de nós deve contribuir com o seu contingente possível de amor aos semelhantes para que desta forma possam “glorificar o Pai”. Se cada cristão, nestes vinte séculos de cristianismo, houvesse atendido à determinação do Mestre, cumprindo fielmente sua missão, a situação mundial hoje seria outra. Não encontraríamos, hoje, tantas crianças e jovens sendo vítimas de irremediáveis cegueiras. “Conduzir a humanidade para um lugar sempre mais belo e de liberdade sempre mais perfeita, é obra educativa, onde quer que se realize e quaisquer que sejam os seus processos...” Precisamos de educadores – e entendemos que todos que temos contato com o outro, em especial com as crianças e jovens em formação o somos – capazes de gestos generosos e luminosos, que acendam, que tragam vida aos que procuram. Essa atitude humana e consciente estará sendo a atitude real dos que se fizeram diretamente responsável pelo problema de educar? Está sendo a NOSSA atitude? Estaremos com nossas intenções voltadas para essa contemplação atenta dos que esperam a palavra esclarecedora que a educação lhes deve dar? Os muitos interesses secundários não estarão sufocando, muitas vezes, o instante e a porção mais importante do grande problema da vida?
Ousamos repetir o questionamento de Deus a Adão. Pai, mãe, responsável, onde está você? Onde está você aluno/professor/funcionário/coordenador/diretor? Essa pergunta é para todos e cada um de nós. Não para que respondamos aqui e agora. Para que cada um se responda a si mesmo, com sinceridade. E que, por nossas mãos, palavras e atitudes, muitas gerações possam ser iluminadas pela luz do saber que liberta, emancipa.
No arquivo do blog no mês de junho você encontrará o artigo:Reflexões sobre a Pedagogia do Mestre(01) 

2 comentários

Anônimo disse...

Prezado amigo,sua reflexão à figura do Adão nos leva a refletirmos porque muitas vezes queremos nos esconder de nossas ações. Para ir mais longe aproveitando a carona, penso que ao expressarmos, acabamos expondo, mesmo sem querer a nossa personalidade, que dependendo do instante e lugar pode macular nosso caráter, pois a nossa língua como nos diz São Tiago é como uma fagulha que incendeia a floresta inteira. Na história bíblica em cena o primeiro pecado foi originado pela língua a "mentira" de( Lúcifer), o segundo foi uma atitude, a de (Adão)"desobediência" à ordem de Deus. Daí para frente desencadeia uma série de pecados, e sua reflexão está corretíssima quando diz que tentamos justificar nossos erros com os erros alheios.A dimensão divina é difícil de compreendermos, quando o criador quer nos perdoar não importando o tamanho da nossa falha. Pois para Ele basta uma atitude: reconhecer que erramos e querer consertar.Como ser humano penso da seguinte forma:Antes de tomar uma atitude, pergunte para Deus se Ele a aprova? Assim as chances de erros serão mínimas, pois quem vai executá-las seremos nós.Cirábio Ramos

BLOG DO CARLOS JORGE disse...

Professor.Obrigado por sua participação e comentário;estamos sempre abertos a publicar bons artigos.ABcs