Em artigo, Eike culpa ex-diretores por seu fracasso
O empresário Eike Batista, dono do conglomerado EBX,
publicou nesta sexta-feira (19) artigo de página inteira no jornal O Globo
dando explicações para o derretimento de seu império. Ele acusa consultorias de
renome e ex-diretores da petrolífera OGX por terem lhe passado informações que
não corresponderam às reais condições de produção da empresa. No artigo, Eike
afirma que acreditou no cenário otimista que haviam lhe apresentado e se diz
solidário com os investidores que perderam quase todo o investimento feito na
petrolífera. Segundo ele, esses problemas contaminaram as outras empresas de
seu conglomerado. “Fui tão surpreendido quanto cada um de meus investidores,
colaboradores e todo o mercado”,afirma.
O “mea culpa” de Eike, curiosamente, foi feito praticamente
às vésperas do pagamento de R$ 400 milhões ao BNDES relativos a um
empréstimo-ponte, concedido pelo banco em 2011 a OSX, empresa de construção
naval, e que vence agora em agosto. Outro financiamento nas mesmas condições,
no total de R$ 518 milhões, feito à LLX, empresa de logística responsável pela
construção do porto do Açú, vence em setembro. Esses empréstimos são na prática
adiantamentos de um financiamento maior, que nesse caso totalizaria R$ 1,344
bilhão, aprovado em junho de 2012, para construção do estaleiro do empresário
em São João da Barra, no Norte do Rio de Janeiro.
Eike reconhece que quebrou várias outras empresas antes de
quebrar as que compõem hoje o Grupo EBX. Ele cita, por exemplo, uma montadora
que fabricava jipes, diversas minas no exterior e uma empresa para concorrer
com os Correios. Em seguida, explica que mineração e exploração de petróleo são
atividades de alto risco, mas os retornos são elevados. “O que deveria ter
feito de diferente?”, questiona-se o empresário, para ressaltar que talvez
tenha errado no modelo de financiamento, recorrendo ao mercado de ações.
Eike afirma no artigo que se pudesse voltar no tempo não
recorreria ao mercado de ações para se financiar, mas não explica, no entanto,
se foi erro, sorte ou privilégio que teve em relação aos empréstimos do BNDES
para suas empresas, que somam mais de R$ 10 bilhões, e são oriundos, vale
ressaltar, de recursos públicos. Parte desses empréstimos, segundo o próprio
banco, possuem garantias, mas cerca de R$ 300 milhões não tem qualquer tipo de
cobertura. Além disso, seriam essas garantias parte de seu patrimônio
empresarial, que está perdendo valor diariamente?
Apesar de toda a crise que vem enfrentando, o midiático
empresário não perde a fleuma e afirma em seu artigo que “se enxerga e
continuará se enxergando como um parceiro do Brasil”. Cabe então a pergunta:
parceiro só para contrair dívida, sem dar nada em troca? Um parceiro que
chafurda em obrigações que não honra é tudo que o Brasil não precisa. Por fim,
Eike afirma que “a cada dia sua cabeça fervilha com ideias novas, que nascem do
nada e tomam forma aos poucos”. Pelo que se vê, seria melhor que ele não as
executasse, mas apenas desse a descarga.
Fonte:Campos 24 horas
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