Municípios pequenos com grandes problemas
Tedi |
A
operação “Ave de Fogo”, desencadeada pela Polícia Federal em Conceição de
Macabu, semana passada, é mais um capítulo que envolve supostas irregularidades
em municípios pequenos, alguns extremamente carentes. Antes de Conceição, São
Francisco de Itabapoana, em 2012, e Cambuci, em 2010, foram alvo de operações da
PF e do Ministério Público. Para o historiador Aristides Soffiati,
irregularidades ocorrem independente de haver muito ou pouco dinheiro
envolvido: “Faz parte da nossa cultura política, usar o cargo para se
aproveitar dele, seja desviando verbas ou beneficiar parentes e amigos”.
Em
Conceição, o desvio, segundo o delegado da Polícia Federal, Júlio Ribeiro, é de
R$ 4 milhões. Esse valor representa
cerca de 5% do orçamento previsto para 2014, que será de R$ 80 milhões. Em 2013
o orçamento foi de R$ 74 milhões.
Na
última quarta-feira, a Polícia Federal realizou operação no município,
resultando em dois presos - um deles filho do ex-secretário municipal de
Serviços Públicos. Contra Tedi, havia um mandado para que prestasse depoimento,
porém ela não estava na cidade.
Ela
compareceu à Delegacia da Polícia Federal de Macaé sexta-feira e depôs durante
mais de seis horas. Seu advogado, François Ribeiro, garante que não há nada nos
autos contra ela.
Além
dessa investigação criminal, Lídia Mercedes vem enfrentando outra batalha,
desta vez na esfera eleitoral. Ela teve o mandato cassado dia 18 de novembro,
por unanimidade, no Tribunal Regional Eleitoral (TRE). No dia 21, o segundo
colocado nas eleições de 2012, Cláudio Linhares, assumiu a prefeitura de
Conceição de Macabu.
São
Francisco teve prefeito cassado
Penúltima
na avaliação do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) e com um
orçamento de pouco mais de R$ 100 milhões anuais - só para ter uma ideia, esse
valor é menos do que Campos recebeu em dois meses referentes a royalties. Mas
os poucos recursos não impediram as intensas disputas políticas, no passado
marcadas, inclusive, por homicídios. Em março do ano passado, a pequena São
Francisco de Itabapoana também foi sacudida por uma operação da Polícia
Federal, que culminou com a prisão do então prefeito Beto Azevedo, dois
empresários, e ainda o então secretário municipal de Saúde e o ex-titular da
pasta.
A
operação “Renascer” tinha como base acusação de desvio de verbas federais da
saúde. Foram cumpridos mandados de busca no gabinete do prefeito, na secretaria
e numa clínica envolvida.
O
prefeito foi solto e voltou ao cargo, mas acabou cassado pela Câmara dos
Vereadores dois meses depois e, em seu lugar, assumiu o vice-prefeito Frederico
Barbosa Lemos.
A
retirada de Beto, porém, não resultou em paz no município. Frederico Lemos
enfrentou divergências na Câmara Municipal e fez campanha à reeleição sem o
apoio do líder de seu então partido, o PR de Anthony Matheus.
Quem
saiu vitorioso foi seu opositor, Pedrinho Cherene.
Professor
destaca controle das mídias
De
acordo com o historiador Aristides Soffiati, “faz parte da nossa cultura
política usar o cargo para se aproveitar dele, seja desviando verbas ou
beneficiar parentes e amigos”.
O
professor diz que o controle através da imprensa e das mídias sociais tem
contribuído para mudar esse quadro. “Tem algo diferente acontecendo. A imprensa
investiga melhor que a polícia. Aí começa a investigação policial e do
Ministério Público. Já houve vários casos de políticos que acabaram afastados e
punidos”.
Ele
acredita que tendência pode ser de uma diminuição desses casos por força dessa
pressão social: “Qualquer telefonema pode ser gravado. Qualquer um pode filmar
ou fotografar. Estamos somos vigiados para o bem ou para o mal”.
Cambuci
com vários prefeitos na mira
Cambuci
é outro município que sofre com denúncias de irregularidades através dos
mandatos. O ex-prefeito Oswaldo Botelho foi afastado por decisão da Justiça
duas vezes – a última em janeiro de 2012. Sua administração foi marcada por
operações do Ministério Público, secretários presos, denúncias de
irregularidades. O último afastamento foi por decisão no Tribunal de Justiça, a
pedido do MP para garantir a instrução processual, “como única forma de
assegurar a preservação do regime democrático de direito e o resguardo da ordem
pública e administrativa no curso das ações judiciais principais”. Vavado não
conseguiu voltar ao cargo, mas disputou a prefeitura ano passado, não sendo
eleito.
Outro
que enfrentou denúncias foi Agnaldo Peres Mello. O Ministério Público Federal
em Campos propôs ação de improbidade administrativa contra ele por desvios de
verbas do Ministério do Meio Ambiente.
O
Ministério Público divulgou em 2012 que o ex-prefeito Pedro Mendes teve a
prisão decretada a pedido do Ministério Público do Estado por descumprir ordem
judicial. Depois, Mendes afirmou que se tratava de um equívoco.
Suzy
Monteiro(Folha da Manhã)
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