Editorial da semana: O TER E O SER

Parece que no seu interminável conflito, o TER vai levando o SER de vencida, neste mundo e, sobretudo, em sociedades como a brasileira, em que um presidente semi-analfabeto se gaba, publicamente, de não possuir curso algum, de ter tido uma mãe analfabeta e de não falar nenhum idioma estrangeiro. Quando o mais adequado seria usar o seu exemplo para mostrar o quanto foi difícil chegar até onde chegou, justamente por não haver estudado.
Num mundo globalizado em que a competição anda de braços dados com a competência, onde vence a primeira quem dispuser, em maior escala, da segunda, esse ex presidente do Brasil exercita o “achismo” à larga, sem compromisso com as consequências das palavras que pronuncia, no exercício do cargo ou fora dele. Comete gafe em cima de gafe e faz afirmações levianas, como esta recente, de dizer a culpada pela monumental vaia que a Dilma levou “são as elites brancas”.
Pensa que, com declarações deste tipo, vai ganhar pontos e popularidade com negros e outras etnias, mas não faz mais do que estimular uma discriminação ao contrário, que não ajuda, em nada, à integração racial na sociedade brasileira e no imaginário de todas as raças, que devem e precisam coexistir com inteligência e respeito neste país.
O descompromisso do ex presidente brasileiro com a verdade e o bom senso, é uma de suas características mais conhecidas e sobejamente evidenciadas, em episódios anteriores a este. Como, por exemplo, naquele em que justificou a compra, pelo seu filho, de uma propriedade de 47 milhões de reais, ganhando, como ganhava, até recentemente, mil e quinhentos reais por mês. A explicação do “papai barbudo” foi a de que o filho era “um Ronaldinho nos negócios”: um verdadeiro fenômeno! E nada mais disse, nem lhe foi perguntado.
Mas retomando a contenda entre o TER e o SER, uma das coisas que se pode dizer em favor do SER, é que ele permite uma plenitude, que o TER jamais assegura a qualquer pessoa. Um ser humano pode, por exemplo, ter quase tudo, mas não conseguir ser espirituoso, ou refinado, ou sutil, ou querido pelos que convivem com ele. Enquanto quem é, verdadeiramente, sempre será e será para sempre.
Pois devia estar pensando nisto aquela professora, que ministrava aos seus alunos uma aula sobre as diferenças entre os ricos e os pobres, tentando demonstrar que, por mais que uma pessoa possuísse bens materiais, ela nunca teria tudo.
Foi quando uma aluna, a Júlia, levanta o dedo
— Senhora, mas meu pai tem tudo: TV, telescópio, DVD, Mercedes...
— Tudo bem, diz a professora, mas será que ele tem uma lancha?
Júlia reflete e diz:
— Bem, uma lancha ele não tem.
A professora disse: 
— Viu, não podemos ter tudo.
— Professora, disse Artur, meu pai tem tudo: TV, telescópio, Mercedes, lancha...
— Sim, responde a professora, mas será que tem um avião particular?
Depois de refletir um pouco, o Artur também responde:
— Não, um avião particular, ele não tem.
— Está vendo como não se pode ter tudo na vida? Disse a professora.
Joãozinho levanta o dedo e diz:
— Professora, mas o meu pai é poderoso e agora tem tudo! Pois no sábado passado, quando minha irmã apresentou o namorado dela, torcedor do Corinthians, tatuado e de bonezinho, com a beirada da cueca aparecendo por dentro da calça, o papai falou prá nós:
— PQP! ERA SÓ O QUE ME FALTAVA!
Como ficou demonstrado, mesmo aqueles que preferem o TER ao SER, não podem mesmo ter tudo... Ora, pois!

Drº Wagner Fontenelle Pessôa, advogado, professor do curso de Direito e professor aposentado pela rede federal de ensino. Articulista e cronista diletante, com dois livros publicados e dois em fase de preparação.

Um comentário

Claudia Otoch disse...

Sempre oportunos os comentários do Dr Wagner. Sob o formato bem humorado, a exposição da verdade que não quer calar: Da imbecilidade aliada à corrupção, que se aproveita da falta de dicernimento para expalhar "máximas" que muitos não têm a capacidade de contestar. Justamente aqueles que seguem vivendo da caridade das bolsas isso ou aquilo, e que, infelizmente, votam nesses que aí estão.