DESEJOS DE MULHER
Wagner Fontenelle Pessôa |
Esta
conversa de desejos intensos e singulares que as mulheres sentem durante a
gravidez, é algo que sempre me encafifou. Porque eu posso compreender que as
transformações químicas ou psicológicas por que passam as grávidas, no período
da gestação, causem nelas a necessidade de comer certas coisas ou as faça ficar
mais emotivas.
Parece que, nestes casos, é o
próprio organismo que, para compensar as transformações bioquímicas por que
passa a futura mamãe, cria nela essa compulsão, do mesmo modo que, em certos
períodos do mês, um grande número de mulheres sente aquele quase desespero por
comer chocolate.
A maioria dos homens, aliás,
compreende mal esses acessos femininos pela ingestão de chocolate, que as
acometem de quando em quando. Pois
grande parte deles entende que, estando a mulher num daqueles períodos em tudo
parece despertar nelas um ódio mortal ou uma tristeza profunda, uma barra ou
duas de chocolate consegue acalmá-las e reequilibrar as coisas.
Não é verdade. O chocolate, aí, não
é a solução, mas parte do problema. Porque as causas que despertam nelas essa
“fúria assassina” ou “essa vontade inexplicável de chorar”, são as mesmas que
nelas despertam aquela vontade desesperada de comer um chocolatinho...
Portanto,
se você se acha muito esperto porque, identificando esse estado de ânimo
alterado na sua parceira, comprou para ela alguns bombons, fique sabendo, que
só irá apaziguar uma parte da fera. E que ainda corre risco de vida. Mas
deixemos o trato deste interessante tema aos especialistas e voltemos aos
desejos das grávidas, que foi o que motivou este texto.
Como eu dizia, posso compreender
certos desejos das grávidas, tanto os de natureza emocional, quanto os de
natureza gastronômica, pelas razões sobre as quais já falei antes. Mas tenho cá
comigo, uma forte desconfiança — quase certeza — de que algumas mulheres também
se aproveitam disto para dar vazão a fantasias, extravagâncias e esquisitices,
que nada têm a ver com a sublime perspectiva de trazer alguém a este mundo.
Sinceramente,
posso entender que uma grávida sinta vontade de comer cajá verde ou carambola
madura. Mas não há quem me convença da autenticidade de um desejo em que a
gestante queira comer abricó, que além de tudo, seja colhido pelo marido,
pendurado de cabeça para baixo, como se fosse um morcego!
É sério, não estou brincando! Já
ouvi contar dessas coisas e até muito pior! A última foi de uma mulher que
queria comer jabuticaba, às quatro horas da madrugada. Mas só servia se fosse
colhida pelo desafortunado pai da criança. Tenha santa paciência! Vai me
convencer que isso lá é desejo de grávida para ser levado a sério?
Mas em matéria de desejo bizarro, a
história mais ridícula que eu conheço — ridícula para o marido, é claro! — foi
a de uma, lá na terra do meu pai, que começou a sentir desejos de ver o “Chico
Ferreira, melado de óleo”. Pois o citado Chico, besuntado de óleo, era um
mecânico, que tinha uma pequena oficina na cidade. E o marido, com medo que ela
perdesse a criança, passava com a “desejosa”, várias vezes ao dia, pela porta
da oficina, cabisbaixo, para que a mulher matasse o seu esquisito desejo.
Cabisbaixo,
porque a mulher havia confidenciado essa loucura para alguém e a história se
espalhou. Cidade pequena, todo mundo sabendo e o marido “pagando aquele mico”.
Falando
sério: “Chico Ferreira melado de óleo”? A gestante jurava que isso era só um
desejo de mulher grávida. Sei lá... Pode até ser!
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