OS BRASILEIROS NEM MUDARAM TANTO...
Há uma velha anedota, que evolvia um desses astrólogos midiáticos, que já foi adaptada para vários políticos, do Sarney ao Lula. Mas a tal piada diz que o presidente da República teria chamado ao Alvorada o Walter Mercado, aquele picareta que, com sotaque portenho, vendia pela tevê o direito de se conhecer o futuro e de se encontrar a felicidade pelo telefone.
Meio angustiado com a sua queda nos índices de aprovação pela opinião pública,
o presidente queria saber o que o futuro lhe reservava, em termos de
popularidade. O adivinho teria fechado os olhos e, após alguma concentração,
começou a dizer, com o seu sotaque carregado:
— Vejo-o em um carro, passando por uma larga avenida... Enquanto o povo, aglomerando-se de ambos os lados, acena para o senhor....
— E o povo está feliz? Interrompeu o presidente.
— Sim... Muito feliz! Esclareceu o vidente.
— E eu, também estou acenando para o povo? Teria perguntado o mandatário..
— Não senhor... Foi a resposta do vidente, que arrematou dizendo: porque o caixão está lacrado...
Acho a historieta divertida, sobretudo porque me lembra o fato de que, muito antes de a mídia televisiva entupir as nossas casas de tudo quanto pode ser comercializado pelo sistema de televendas, quem vendia predições e orientações astrológicas para as nossas vidas, era o rádio. Embora com menos ferocidade e um pouco mais de pudor.
Acredito que não haja neste país nenhuma pessoa com mais de 40 anos que não saiba, por exemplo, quem foi o Omar Cardoso, talvez o mais afamado brasileiro nesse ramo de negócio, que continuou a vender a sua "marca", mesmo depois de morto. Por meio de um grupo de espertos futurólogos, autointitulados “os discípulos de Omar Cardoso”.
Nos anos 70, eu também me lembro, havia na cidade de Fortaleza um desses magos, que fazia muito sucesso e que adotava o sugestivo pseudônimo de Professor Kardo Alikan. Coincidentemente, também tinha um sotaque portenho e dava conselhos aos ouvintes, sobretudo em questões financeiras e afetivas, num programa de rádio que contava, então, com uma apreciável audiência, na capital cearense.
Todos os dias, de segunda a sexta-feira, lá estava ele, pelas ondas do rádio, dizendo coisas, aos seus ouvintes e consulentes, tais como:
— Não se desespere, minha filha, que ele voltará para você....
É certo que muita gente levava suas previsões a sério, o que lhe garantia o sucesso do programa. Mas outros — e muitos outros — escutavam as suas predições no rádio, de vez em quando, por mera diversão.
Era este, por exemplo, o caso de um certo funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, que saindo do trabalho, costumava ligar o rádio do carro no programa do astrólogo, assim como faziam alguns dos seus colegas de trabalho.
Pois houve um dia em que o bancário estava num restaurante à beira mar, quando, de uma mesa próxima, ouviu alguém falando, com aquele sotaque carregado e aquele timbre de voz conhecido. Virou-se e não conteve a reação:
— Professor Kardo Alikan! Que prazer encontrá-lo! Sou ouvinte do seu programa... Eu e vários companheiros de trabalho, lá do BNB...
O astrólogo não se fez de rogado. Demonstrando satisfação pelo reconhecimento público, tratou-o de forma afável e ainda informou:
— Tenho muitos clientes naquele estabelecimento creditício, meu rapaz. Muitos mesmo!
Surpreso com a informação, o bancário não se conteve e perguntou ao astrólogo:
— E o pessoal de lá tem tanto problema assim, professor?
— Não! Esclareceu melhor o vidente. As consultas são muitas, mas os problemas são sempre os mesmos: falta de dinheiro e chifre!
Como se vê, daquele tempo para cá, os brasileiros nem mudaram tanto assim...
— Vejo-o em um carro, passando por uma larga avenida... Enquanto o povo, aglomerando-se de ambos os lados, acena para o senhor....
— E o povo está feliz? Interrompeu o presidente.
— Sim... Muito feliz! Esclareceu o vidente.
— E eu, também estou acenando para o povo? Teria perguntado o mandatário..
— Não senhor... Foi a resposta do vidente, que arrematou dizendo: porque o caixão está lacrado...
Acho a historieta divertida, sobretudo porque me lembra o fato de que, muito antes de a mídia televisiva entupir as nossas casas de tudo quanto pode ser comercializado pelo sistema de televendas, quem vendia predições e orientações astrológicas para as nossas vidas, era o rádio. Embora com menos ferocidade e um pouco mais de pudor.
Acredito que não haja neste país nenhuma pessoa com mais de 40 anos que não saiba, por exemplo, quem foi o Omar Cardoso, talvez o mais afamado brasileiro nesse ramo de negócio, que continuou a vender a sua "marca", mesmo depois de morto. Por meio de um grupo de espertos futurólogos, autointitulados “os discípulos de Omar Cardoso”.
Nos anos 70, eu também me lembro, havia na cidade de Fortaleza um desses magos, que fazia muito sucesso e que adotava o sugestivo pseudônimo de Professor Kardo Alikan. Coincidentemente, também tinha um sotaque portenho e dava conselhos aos ouvintes, sobretudo em questões financeiras e afetivas, num programa de rádio que contava, então, com uma apreciável audiência, na capital cearense.
Todos os dias, de segunda a sexta-feira, lá estava ele, pelas ondas do rádio, dizendo coisas, aos seus ouvintes e consulentes, tais como:
— Não se desespere, minha filha, que ele voltará para você....
É certo que muita gente levava suas previsões a sério, o que lhe garantia o sucesso do programa. Mas outros — e muitos outros — escutavam as suas predições no rádio, de vez em quando, por mera diversão.
Era este, por exemplo, o caso de um certo funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, que saindo do trabalho, costumava ligar o rádio do carro no programa do astrólogo, assim como faziam alguns dos seus colegas de trabalho.
Pois houve um dia em que o bancário estava num restaurante à beira mar, quando, de uma mesa próxima, ouviu alguém falando, com aquele sotaque carregado e aquele timbre de voz conhecido. Virou-se e não conteve a reação:
— Professor Kardo Alikan! Que prazer encontrá-lo! Sou ouvinte do seu programa... Eu e vários companheiros de trabalho, lá do BNB...
O astrólogo não se fez de rogado. Demonstrando satisfação pelo reconhecimento público, tratou-o de forma afável e ainda informou:
— Tenho muitos clientes naquele estabelecimento creditício, meu rapaz. Muitos mesmo!
Surpreso com a informação, o bancário não se conteve e perguntou ao astrólogo:
— E o pessoal de lá tem tanto problema assim, professor?
— Não! Esclareceu melhor o vidente. As consultas são muitas, mas os problemas são sempre os mesmos: falta de dinheiro e chifre!
Como se vê, daquele tempo para cá, os brasileiros nem mudaram tanto assim...
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