QUANDO TEM MÃE NO MEIO...

Wagner Fontenelle Pessôa                   
Sempre que passamos pelo Dia das Mães — e o deste ano já se foi — à margem das justíssimas homenagens que todas elas merecem, eu sempre me divirto com a total falta de noção, de certos comerciantes e agências de publicidade, ao constatar o quanto alguns são capazes de “forçar a barra”, para tentar “vender o seu peixe”, por vezes, bem na porta da churrascaria.
            "Troque a bateria do carro da mamãe e encha a velha de uma nova energia! Ilumine a vida de quem lhe deu a luz: lâmpadas e luminárias do Empório do Eletricista! Sua coroa tá gripada?! O problema tem solução, nas Farmácias do Gerubal!" E outras coisas tão absurdas quanto estas.
            Parece brincadeira, mas, de fato, não é. Porque, pondo de parte a caricatura da situação, o que se ouve, às vezes, em tais ocasiões, é algo muito próximo disto. Afirmo, sob pena de perjúrio, que já ouvi sugestões quase tão surrealistas quanto estas, como as de que o presente ideal para a mãezinha querida é uma furadeira elétrica, um jogo de pneus para o carro dela ou uma enceradeira nova.
            É possível isto?! Dá para imaginar a estupidez de uma publicidade com este apelo? Facilite a vida de quem você ama: no Dia das Mães presenteie a pessoa mais importante do mundo com uma enceradeira da loja tal! Mas acontece... O pior é que acontece!
            Tenho um amigo, no Paraná, que é dono de uma floricultura. E a propósito desta comemorativa data, já me contou alguns casos tão malucos, que mais parecem brincadeira. Certa vez, por exemplo, um sujeito entrou na loja dele e encomendou um arranjo de flores para que fosse entregue na casa de sua mãe (mãe do freguês, naturalmente). Na hora de pagar, pediu que recebessem contra a entrega.
            — Mas como? Perguntou a vendedora. O senhor vai estar lá na hora?
            — Acho que não, mas não tem problema. A mamãe paga e depois eu acerto com ela...
            E se o tipo faz uma coisa dessas com a própria mãe, imagina-se o que não será capaz de fazer com a mãe dos outros!  
            Pois isto me lembra uma figura que conheci, já faz muito tempo, na cidade do Açu (RN), o Celso Leitão, que era comerciante e chegou a ser prefeito da cidade. No armazém dele havia um empregado de muitos anos, o Tonico, que trabalhava ali desde molecote e era o “braço direito” do dono. Até que, num certo tempo, Pedro, o filho mais velho do patrão, começou a frequentar o estabelecimento, na condição de seu mais novo empregado.
            Um dia, assim meio enciumado, Tonico procurou o Celso Leitão para se queixar:
            — "Seo" Celso, eu trabalho aqui desde pequeno, zelo por suas coisas como se fossem minhas, sempre estive do seu lado... E agora, o Pedro aparece aqui, não fica nem meio dia e ganha quase duas vezes o que eu ganho. O senhor acha que isto é justo?
            Celso Leitão pensou um pouco e, olhando bem nos olhos do empregado, respondeu com uma pergunta:
            —  Escute aqui, rapaz: você deixa eu fazer com a sua mãe o que eu faço com a mãe desse menino?

            Foi a última vez que o Tonico questionou a diferença de tratamento, entre ele e o filho do empresário. Afinal de contas, quando tem a mãe da gente no meio, a demanda fica muito mais complicada... 

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