UM HOMEM MODESTO, APESAR DE TUDO
Wagner
Fontenelle Pessôa
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Pedro Luciano é um amigo, irmão e
cunhado, tudo reunido num sujeito só, que coleciona, talvez, o melhor repertório
de histórias de bancos e bancários já ouvido por mim, depois de haver
trabalhado, até a merecida aposentadoria, no Banco do Nordeste do Brasil. De
onde, aliás, vieram muitos dos casos divertidos que já contei — aqui, ali e
alhures — neste meu inacabável prosear com os que me distinguem com a sua
leitura.
Pois
foi dele que ouvi, em nosso último encontro, esta que lhes repito agora, sobre
o que se passou em Catolé do Rocha (na Paraíba), cuja agência do BNB estava
recebendo um novo gerente, de quem — para que, depois, ninguém me diga que
estou inventando este enredo — eu lhe revelo logo o nome. Era o Martinho, que
vinha substituir o antigo gestor daquela filial, cujo designativo não me foi
dito ou não me lembro agora. O que, também, não vem ao caso.
O
fato é que o antigo gerente, procurando entrosar o seu substituto com a
coletividade, passou um período de alguns dias trabalhando ao lado do sucessor,
antes de sua partida de Catolé do Rocha. E aproveitou o tempo para apresentá-lo
aos clientes e outras pessoas importantes do lugar. Até porque, como sabem
todos, em cidade do interior, gerente de banco é uma figura de destaque, só
superada, em autoridade e galardão, pelo juiz, pelo promotor, pelo delegado e
pelo padre. Principalmente por este último, que fala em nome de Deus.
Assim,
ficaram ambos, durante aqueles dias na pequena agência do banco e, ao final do
expediente, saíam para uma cervejinha ou para comer qualquer coisa. Deixavam de
lado as conversas e a troca de informações sobre as rotinas bancárias e
passavam a falar da vidinha daquele lugar distante. Aqui e ali adentrava no
ambiente algum conhecido ou cliente, que logo era apresentado ao Martinho pelo
seu antecessor:
—
Esse aqui é o fulano, Martinho. Nosso cliente há mais de dez anos e sempre
honrou os seus compromissos conosco.
O
apresentado, numas vezes, fazia uma mesura e se retirava. Noutras, lisonjeado
pela apresentação, sentava-se um pouco com eles e "empatava" a
conversa dos dois, antes de ir embora.
Até
que num desses finais de tarde, quase à noitinha, entraram num bar, para as
libações habituais. Lá dentro, sentado sozinho numa mesa, estava um sujeito
singular, um desses tipos calados, que, no entanto, fez uma discreta reverência
para o gerente, erguendo brevemente o chapéu que trazia na cabeça.
O
antecessor de Martinho na gerência, contudo, não conteve o entusiasmo:
—
Este aqui é o "Zé da Moita", Martinho. É o gatilho mais rápido da
Paraíba! Já "derrubou" mais de vinte, só aqui em Catolé do Rocha!
E,
diante da expressão de surpresa do novo gerente, o pistoleiro fez por menos:
—
É bondade sua, doutor! É bondade sua...
Era,
como se vê, um homem modesto, apesar de tudo.
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