HABILITAÇÃO PROFISSIONAL

Wagner Fontenelle Pessôa 
Dia desses, recebi, no meio daquela vasta e descartável correspondência que nos aparece todos os dias pela internet, uma dessas mensagens que contam histórias pra lá de conhecidas, embora adaptadas para personagens novos. Coisa que, aliás, rola pela rede de computadores quase todos os dias.
            Não faz muito que recebi, na mesma semana e de três ou quatro fontes, uma pequena história, por certo saída da pena de alguma mulher, sobre um episódio, dito verídico, que teria ocorrido entre o Barack e a Michelle Obama. Algo que eu já ouvira, há mais de dez anos, com outros personagens, sobre a astúcia das mulheres, em relação aos homens. No que, aliás, para me fazer acreditar, ninguém precisa inventar história nenhuma!
            Respondi a um dos amigos que me mandou este caso, dizendo-lhe que eu duvidava muito daquele diálogo entre o presidente dos Estados Unidos e a primeira dama. Mas, se era para demonstrar as habilidades femininas no “manejo” de seus homens, eu, sim, conhecia um caso que lhe poderia servir de bom exemplo. E lhe narrei a seguinte história:
            Havia um conhecido de conhecidos meus, lá em Fortaleza, que era sistematicamente chifrado por um compadre, a quem a sua mulher (não a do meu interlocutor, mas a do corno, naturalmente!) prestava favores, digamos, "de natureza eventual e sem vínculo empregatício".
           Pelo menos em dois dias da semana, o compadre, jantava com o cabrão e a sua hospitaleira cara-metade. Após o que, convenientemente, o dono da casa pedia desculpas, porque precisava caminhar um pouco, para ajudar a digestão, deixando o convidado em animada conversa com a sua "amantíssima esposa".
          Digestão danada de difícil de fazer, esta, que durava bem umas duas horas, até que ele retornava. E, ao entrar em casa, desde o portão, fazia mais barulho do que o necessário. De tal forma que sempre encontrava o compadre já nas despedidas ou, pelo menos, refestelado numa poltrona, tomando o seu licor e fumando o seu cigarrinho.
            É fato que, algumas vezes, flagrava o compadre calçado na sua pantufa predileta ou envergando o seu “robe de chambre” preferido. Mas fingia não perceber nada disso, nem mesmo quando o compadre voltava ao quarto do casal, para se trocar e ir embora.
            Num certo dia, porém, deu-se que o marido cansou-se mais cedo da caminhada, ou o compadre demorou-se mais do que o costume, nos afagos da mulher alheia. E sendo assim, quando o primeiro retornou ao recôndito do lar conjugal, ainda encontrou o segundo trancando em seu quarto, em animada conversa com a comadre. E tão animada estava a parola, que era possível ouví-la, pela janela, do banco do jardim, em que o corno foi sentar-se, para esperar que o outro desocupasse a sua cama, sem constrangê-lo.
            Pois a conversa, lá na alcova, chegara, justamente, ao ponto em que o compadre dizia à mulher do outro:
            — Está próximo o aniversário do seu marido e eu ainda nem comprei o presente dele. Estive pensando em lhe dar um terno. Afinal de contas, ele é sempre tão hospitaleiro e generoso comigo, que gostaria de presenteá-lo com alguma coisa melhor, mais fina... O que é que você acha?
            A mulher disse que achava a ideia muito boa e o "pegador" emendou:
            — Mas eu estou em dúvida quanto à cor... Não sei bem qual é a cor que ele prefere. Me dê aí uma ideia.
            Mas, antes que a mulher pudesse opinar, do lado de fora da janela, o corno sussurrou:
            — Azul... "Ele" adora azul...

            Para "manobrar" dois homens, assim, com essa facilidade toda, uma mulher dessas só podia ter uma carteira de habilitação profissional. Ora, se não!

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