Invasão de pequenos caranguejos em gargaú, fenômeno causa curiosidade.
Centenas de pequenos caranguejos “brotando do chão”, essa foi à cena presenciada por quem passava na manhã desta segunda-feira (08/12), sob a pequena ponte, próximo a Praça de São Pedro, na Localidade de Gargaú, Litoral de São Francisco de Itabapoana. Até antigos moradores da comunidade se assustaram com a quantidade dos crustáceos que chegavam a invadir a pequena rua, principal ligação do Bairro Barra Velha com o centro da localidade. Diante do fenômeno, fomos buscar respostas com Ilzomar Soares Filho, Biólogo Marinho que também é morador da localidade e desenvolve importantes ações comunitárias de preservação dos mangues de Gargaú. Segundo Ilzomar, a lua exerce grande influência sobre a vida na terra, sobretudo no ambiente marinho, uma vez que as marés são fortemente dependentes da posição da lua em relação ao nosso planeta, e com isso diversos organismos marinhos costeiros, entre eles o caranguejo, têm suas atividades relacionadas às variações das marés; e exatamente hoje (8) tem a chamada “maré grande”, pois estamos na fase da Lua Cheia.
O Biólogo informou
também que o manguezal de gargaú é muito próximo ao mar e ao Rio Paraíba do
Sul, e com um período longo de poucas chuvas,
possibilitou a entrada de grande fluxo de água marinha -como ocorreu no local
do fenômeno- ocupando áreas enormes e
pouca presença de água doce, o que atrasou a saída dos caranguejos, que
neste período, fim de primavera dá-se a ecdise(muda) onde os
caranguejos estão enterrados nos buracos aguardando a hora exata de sair com
segurança e ter a mistura da água marinha e dulcícola(temperada) para que
realizem uma nova etapa no ciclo, importante para manutenção da espécie. Os
pequenos caranguejos da foto, são também da espécie conhecida como Uça, e
popularmente conhecida entre moradores da localidade por “Chama Maré ou Espera Maré”.
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Ilzomar Soares (foto arquivo) |
O Biólogo demonstra
grande preocupação quanto ao futuro dos manguezais. “Temos uma grande preocupação, pois nosso ambiente pode apresentar outras
alterações devido às mudanças climáticas, despejo de efluentes, ocupação
irregular, e cata do animal sem a consciência de preservar as fêmeas,
provocando ao longo dos anos uma forte diminuição na totalização da comunidade
do Uça(espécie encontrada em Gargaú),influenciando também no tamanho e na
qualidade, necessitando de estudos e
levantamentos para melhor conhecimento da espécie e do local” disse Ilzomar
que está escrevendo um livro sobre a história ambiental de Gargaú a partir de
1758, e que deverá ser lançado no final
do 1º semestre de 2015.
Dados
importantes:
O sistema
estuarino-lagunar(ambiente
aquático de transição entre um rio e o mar), em Gargaú pertence ao rio
Paraíba do Sul e se apresenta com sucessões de faixas arenosas em sua desembocadura
(SILVA, 2001) se caracterizando como uma planície costeira, apresentando
comportamento instável devido à presença de inundações periódicas influenciadas
pela maré (MME, 1983). Toda dinâmica local favorece a presença de manguezais,
ecossistema de grande importância econômica por ser fonte de recursos
pesqueiros e extrativistas usados pela população local (LACERDA, 2003) além de
exercer várias funções como: estabilizador dos sedimentos transportados; grande
produtor primário e considerados verdadeiros viveiros de peixes, crustáceos e
moluscos, que utilizam-no para alimentação, reprodução, desova, crescimento e
proteção (ARAÚJO, MACIEL, 1979). Daí a importância de um amplo estudo para que
este ecossistema se conserve e seja explorado de maneira que não se torne
escasso (VANNUCCI, 2003). O manguezal da região é considerado o segundo maior
do estado e é tombado como ‘área de Mata Atlântica’ pelo Decreto Estadual de
06/03/1991.
Fotos: Eliete Oliveira
Um comentário
Parabéns pela bela reportagem que conseguiu de maneira sutil , abordar de forma tão didática um tema tão complexo.
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