CAUTELA E CALDO DE GALINHA
Wagner Fontenelle Pessôa |
Se existe uma coisa positiva que adquirimos, com o
passar do tempo, é a calma para agir e reagir diante de certas situações.
Porque o açodamento da juventude, como gostava de dizer um amigo meu, às vezes,
"põe o cidadão num precipício". Só tenho a lamentar é que esse mesmo
amigo, também haja se apressado um pouco em relação à própria existência,
partindo deste mundo antes de chegar aos quarenta anos de idade.
Ele
se foi, mas deixou-me a sua acertada cogitação como herança e conselho, que, de
tempos em tempos, por um fato aqui e outro ali, a vida me tem confirmado: decisões
tomadas no calor das emoções, sempre ou quase sempre nos fazem errar no tempero
e salgar o pirão.
E a
maturidade, como eu ia dizendo, nos traz essa compreensão, embora a minha avó
materna dissesse que certas pessoas passam, diretamente, de verde para podre,
sem
jamais amadurecerem. Concordo e estou certo de que tinha razão a velhinha!
Mas
o que me traz a essas reflexões de agora é a lembrança longínqua de um fato
ocorrido há muitas décadas, envolvendo os membros do Conselho Estadual de
Cultura mineiro, numa época em que andei fazendo um dos muitos estágios da
minha vida, na bucólica cidade de Ouro Preto, onde vivi por uns cinco anos. E o
que aprendi com esse episódio, foi que, quando alguma coisa está ruim e você
não tem como melhorar, pelo menos, não piore, por favor!
Foi a lição que um velhinho, membro
do Conselho Estadual de Cultura de Minas Gerais, deu aos demais conselheiros,
num movimento que fizeram — isto lá pela década de 1970 — pelo aumento do “jeton”, que é, como todos sabem, aquela
gratificação que alguns órgãos colegiados pagam aos seus membros, a cada
reunião.
Naquela
época, em que a moeda nacional ainda era o cruzeiro, os conselheiros do CEC de
Minas estavam ganhando duzentos cruzeiros por reunião. Até que descobriram que
os membros do Conselho Estadual de Educação — que, então, desfrutava de um
"status" muito mais elevado — estavam recebendo, pelo menos, cinco
vezes esse valor, por reunião de que participassem.
Foi um “Deus nos acuda"! E,
diante da recusa do governo estadual em fazer esta equiparação, alguns
conselheiros mais jovens lançaram um movimento pela equiparação da gratificação
em ambos os colegiados, adotando o seguinte “slogan”: AUMENTO IMEDIATO DO JETON!
MIL CRUZEIROS OU NADA!
Foi
aqui que aquele conselheiro, mais idoso e mais experiente, ponderou, junto aos
seus colegas mais afoitos:
—
Calma, gente! Assim também não! É melhor mudar o lema para: MIL CRUZEIROS OU
DUZENTOS CRUZEIROS!
Afinal
de contas, duzentos cruzeiros os conselheiros já estavam recebendo. O que prova
e comprova o conhecido dito popular de que "cautela e caldo de galinha não
fazem mal a ninguém".
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