HIP! HIP! HURRA!!!




Wagner Fontenelle Pessôa               

Depois de muitos planos e de muito planejamento, aquele grupo de amigos, todos apaixonados pela caça esportiva, finalmente, estava conseguindo realizar seu grande sonho, acalentado desde os doces anos da juventude: fazer um safári na África.

            Dos seis, que formavam aquela confraria fraternal, apenas o Guimba não iria, acometido de um problema persistente no joelho, que mal o deixava andar nas calçadas e ruas da cidade em que moravam. Que dirá no terreno irregular
da savana, por onde teriam de caminhar. Assim, apesar da insistência dos demais, ele, mesmo lamentando, deixou claro que não iria de jeito nenhum, para não correr o risco de estar pior na volta do que na ida.

            Mas iriam os outros cinco: o Turco, o Gaguinho, o Japa, o Biquara e o Teco-Teco, apelidos pelos quais se chamavam, desde a adolescência, por razões mais ou menos óbvias: o nariz
de um, a gagueira de outro, os olhos puxados do terceiro, a boca avermelhada do quarto e as "orelhas de abano" do último. Apenas para esclarecer.

            Utilizando-se dos serviços e apoio de uma agência de viagens, especializada nesse tipo de turismo, numa noite, cheio de entusiasmo, o grupo decolou de São Paulo em direção a certo país da África, em que haveria de realizar aquele sonho, sonhado por tanto tempo.

            Dispensável que seja detalhada a rota que o voo seguiu ou os aspectos mais específicos da chegada, o traslado ao hotel — onde passaram a primeira noite, para adaptar-se ao fuso horário local — e, ao amanhecer do outro dia, a sua viagem até o interior da savana, para o acampamento onde permaneceriam durante a realização do safári. Basta dizer que chegaram lá e que se instalaram nas respectivas barracas.

            Portavam uma autorização especial para abater alguns animais, em número e espécies determinados. E, para criar o clima compatível com o tamanho da aventura, o guia lhes disse que eles se revezariam em turnos de hora e meia, na vigilância, para avisar sobre a aproximação de algum animal de maior porte, nas noites do acampamento. Que era formado por um grupo de barracas dormitório e outra, para apoio e refeitório, dispostas num circulo, ao centro do qual era acesa a fogueira, depois que o sol se punha.

            Pois foi assim que, lá pela terceira noite, depois de um dia proveitoso para o propósito dos caçadores — com o abate de alguns espécimes — após o jantar, ficaram conversando e se gabando mutuamente pelos resultados obtidos, quando chegou a hora do Gaguinho entrar no turno da vigilância.

            Ele se foi, para fazer a ronda ao acampamento e ficaram os outros, incluindo o guia, a conversarem animadamente e a beberem, entusiasmados com suas próprias narrativas. E retornou mais tarde, quando a bebedeira já se encontrava naquela fase em que tudo é um motivo para se brindar, o que o grupo fazia, aos berros e a com voz enrolada. O Gaguinho chegou apressado e já foi gritando:

            — Hip! Hip! Hip!

            E a turma respondia, também aos gritos:

             Hurra! Hurra!

            E, novamente, o Gaguinho gritava, erguendo os braços:

            — Hip! Hip! Hip!

            E o resto do grupo, já "nas últimas", devolvia com entusiasmo:

            — Hurra! Hurra!

            Foi quando entrou no acampamento, a toda velocidade, aquele enorme HIPOPÓTAMO, que derrubou as barracas, mesas e cadeiras de armar, acabando com a alegria dos excursionistas. É que, mesmo depois de tantos anos de convivência, de vez em quando, os amigos ainda não entendiam muito bem o que o Gaguinho queria dizer.

3 comentários

Campos disse...

Muito boa vossas narrativas Sr Wagner ,estou rindo muito e Carlos Jorge com as vossas presença virtual abrilhantou mais ainda o blog.

Campos disse...

Parabéns pelas narrativas Sr Wagner muito divertida, Carlos Jorge abrilhantou mais o blog com a vossa presença.

Campos disse...

Gosto muito das narrativas do Sr Wagner o que vem mais ainda abrilhantar o blog,estou rindo muito,parabéns.