QUE FELIZ NATAL, QUE NADA!

Li no domingo passado, aqui mesmo neste Blog, entre uma nota política e outra, de utilidade pública, a postagem sobre um evento evangélico, promovido por uma igreja instalada na conhecida e curtida Praia de Santa Clara, no bonito litoral de São Francisco do Itabapoana.

         Mas o que chamou a minha atenção,
foi a denominação da igreja promotora do encontro. Em lugar de chamar-se Igreja Batista de Santa Clara, indicativo da sua localização, resolveu adotar o de Igreja Batista Praia Clara. O que, parece bastante claro — como a praia e a própria santa — tem o visível e equivocado intento de não mencionar a homenageada da Igreja Católica.

         Não ponho, nestas linhas, nenhum propósito de defesa da canonizada, do catolicismo ou seja lá do que for. Mas apenas um certo grau de estranheza, porque Santa Clara é, no caso, apenas o designativo de um lugar. Mesmo que, em sua origem, tenha sido uma homenagem à santa católica. Como São Paulo, Santa Catarina e outros mais.

         Na época das grandes navegações e no período Colonial, isto era muito comum. Como as viagens para o "novo mundo" tinham um caráter exploratório e de catequese, a cargo dos jesuítas, muitos lugares e acidentes geográficos foram aquinhoados com nomes de santos da igreja católica. E esta prática ainda perdurou pelo período imperial, por serem católicos os membros da Família Real Portuguesa.

         Atualmente, porém, esses nomes não nos remetem mais a tais homenagens. Porque, rigorosamente, são apenas a indicação e a identificação de cidades, rios, baías, ilhas, cabos, istmos e outros acidentes do gênero. Desnecessário, portanto, buscar um atalho para escapar de dizer o nome completo do lugar, para que isto não pareça uma espécie de homenagem a um ícone de outra religião.

         Seria o mesmo que, sendo o sujeito ateu e, querendo abrir um negócio no noroeste fluminense — bem na divisa do Rio de Janeiro com o Espírito Santo, onde se encontram as duas Bom Jesus — pusesse, no empreendimento, o estranho nome de "Hotel Mau Jesus do Itabapoana". Afinal de contas, pensaria ele, "não estou aqui para botar azeitona na empada de ninguém"! Uma infantil preocupação.

         Mas, desse tipo de tolo sectarismo, religioso ou político, o que conheço de mais divertido diz respeito à rivalidade antiga, existente entre duas cidades do Rio Grande do Norte. Natal, que é o centro político e administrativo do Estado e Mossoró, que é a cidade mais importante, depois da capital. Competindo entre si, pelo desenvolvimento, destaque e importância no contexto estadual, as duas sociedades não perdem a chance de se debocharem reciprocamente, trocando farpas e ironias.

         Os natalenses contam por exemplo, que nos períodos de final de ano as gráficas da outra cidade trabalham a todo vapor, para imprimirem cartões que os mossoroenses enviarão aos seus amigos e parentes, onde as mensagens dizem: "Feliz Mossoró e Próspero Ano Novo!"

         Porque é claro que um natural de boa cepa, daquela cidade, não iria desejar um feliz Natal a ninguém. Era só o que faltava! Que nem a Igreja Batista de Praia Clara.