Artigo da semana/ AS DUAS EXPERIÊNCIAS
Wagner
Fontenelle Pessôa
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Havia em Fortaleza, na Rua Guilherme Rocha, quase esquina
com a Praça do Ferreira, o restaurante do Clube do Advogado, que, se ainda
existe, não funciona mais no mesmo lugar. A comida desse restaurante era muito
saborosa, o que explicava a numerosa e variada clientela que o frequentava. Que
não se limitava aos profissionais da advocacia, mas, também, a outros
profissionais liberais, bancários e empresários.
Também havia por lá um garçom, muito conhecido e estimado
pelos frequentadores da casa. Dentre estes, o meu cunhado e amigo fraternal,
Pedro Luciano — um refinado "gourmet", por sinal — que era grande
apreciador do "filé no sal grosso", que o cardápio do restaurante
oferecia. Pois é precisamente sobre esse garçom, o simpático e sincero José
Raimundo, que versa o caso que me proponho a contar.
Certa vez indo ao Clube do Advogado, o Pedro dividiu a
mesa com um conhecido seu. Que, vendo passar o garçom, perguntou-lhe com ar
divertido, enquanto esperavam pelos respectivos pedidos:
— Você já ouviu o José Raimundo contar sobre "as
duas experiências" que ele teve?
E, diante de uma certa hesitação do interlocutor, que não
sabia a qual tipo de assunto se referia essa experiência em duplicidade e nem sendo
do seu feitio chafurdar as particularidades alheias, chamou o tipo e lhe pediu:
— Zé Raimundo, conte aí para o Dr. Pedro sobre as suas "duas
experiências".
Sem nenhum constrangimento, o garçom contou, de uma
assentada só, o que, por certo, estava acostumado a repetir, para a risadaria dos
clientes mais chegados:
— Eu já tive as "duas experiências": tanto
flagrar a minha mulher com outro sujeito na cama, como ser flagrado na cama com
a mulher de outro sujeito!
Pois, quando imaginou que a história terminava por aí, o
meu cunhado foi surpreendido por outra pergunta, do seu colega de mesa ao
garçom:
— Mas diga, sinceramente, José Raimundo, Se você tivesse
que repetir uma dessas duas experiências, qual das duas você gostaria de ter
outra vez?
Sem titubear, veio a resposta do inquirido:
— Prá falar a verdade, eu preferia flagrar a minha mulher,
de novo, com outro cara na cama.
E, diante do espanto de quem ouvia aquilo pela primeira
vez, esclareceu:
— É porque, na experiência de ser flagrado, o susto é
grande demais!
Era um sujeito prático, esse José Raimundo. Porque
compreendeu, pela experiência, que a perspectiva de levar uma facada ou um tiro
pelas costas deve ser bem mais assustadora do que a de levar um simples par de
chifres!
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