Crônica da semana: O PODER DE UM CRACHÁ
O
sujeito era de uma arrogância só! Sendo delegado de polícia, achava que, com as
credenciais que possuía, tudo lhe era permitido. E, ao menor sinal de
contestação à sua conduta ou iniciativa, esfregava o crachá no nariz do
circunstante e, aos gritos de "resistência à autoridade" e "obstrução
da Justiça", reduzia os que parecessem ignorar a sua autoridade a
"pouca coisa" ou "quase nada".
Nos últimos tempos andava metido
numa investigação sobre a produção e venda de entorpecentes. Mais
especificamente, sobre a produção e venda da maconha. E havia tido notícia de
que algumas propriedades na região estariam sendo utilizadas para o plantio da
"canabis sativa", aquela que serve de matéria prima para que
aficionados, de todas as faixas etárias, preparem um "cigarrinho do
Capeta" ou deem um "tapa na planta", de vez em quando.
Só que o X9 (o dedo-duro, o alcaguete)
que lhe trouxera a informação não soubera precisar qual ou quais propriedades
andavam se prestando a este papel. Ou quem seria o responsável pelo dito
plantio. Então — decidira o delegado — o
negócio era investigar, dar umas incertas nas terras dos sitiantes e pequenos
proprietários, para, talvez, efetuar umas prisões em flagrante. E, num sábado,
bem cedinho, mal amanhecendo o dia, lá foi ele, com a sua equipe, em dois ou
três veículos, para tentar levar adiante o seu plano de ação.
A caminho, instruiu os auxiliares:
— Em cada lugar onde a gente chegar,
vocês ficam dentro dos carros e eu vou na frente, sozinho, para não despertar
muita atenção. Aí, quando eu encontrar alguma coisa, dou um sinal e vocês completam
a abordagem.
No primeiro sítio, sem pedir
licença, empurrou logo o portão da cerca e quando a dona da casa apareceu, ele
mostrou o crachá e, dizendo que havia recebido denúncias de uma plantação de
maconha, foi logo no rumo do quintal, sem esperar pela autorização, diante o
olhar espantado na mulher.
Mas, como se tratava de uma pequena
gleba de terra, logo pode visualizar toda a sua extensão e, lá no fundo, o
marido, com um ancinho, a fazer a limpeza de uma simples plantação de tomates.
E antes que o pobre homem pudesse entender o que aquele sujeito fazia por ali,
ele já havia se retirado, em direção à próxima propriedade.
A equipe do delegado passou pelo
próximo sítio, um pouco maior e também não encontrou nada. Passou pela terceira
propriedade e quando chegou à quarta, de maiores dimensões, encontrou o dono da
pequena fazenda sentado na varanda, pitando um cigarro de palha. A abordagem
feita pelo delegado foi a mesma:
— Preciso inspecionar a sua fazenda.
Há uma denúncia de que estão plantando maconha por aqui!
Tranquilamente,
o proprietário lhe disse:
— Tudo bem, mas só não vá naquele
campo ali... Disse, apontando para uma área que ficava um pouco mais distante.
Foi
o quanto bastou para despertar a ira e a habitual arrogância do policial:
— Quem é você, seu cretino, para me
dizer onde eu posso ou não posso ir, quando estou no exercício das minhas
funções? Este crachá — e disse quase esfregando a sua identificação funcional
no nariz do pequeno fazendeiro — me confere autoridade para ir onde eu quiser!
Para entrar em qualquer propriedade onde possa estar sendo praticado um crime!
E não preciso explicar nada para fazer isto! Fui claro ou preciso desenhar?!
O homenzinho fez que sim só com a
cabeça, pediu desculpas e voltou a se sentar no banco da varanda, enquanto o
delegado, para mostrar o quando podia e instigado pela restrição que lhe fora
apresentada, marchou direto para o cercado que lhe indicara o dono da
propriedade, ao qual chegou e foi logo entrando.
Poucos minutos depois, ouviu-se uma
gritaria e quando os policiais da equipe já partiam em direção ao cercado,
levando suas mãos às armas, viu-se o delegado, correndo para preservar a sua
integridade física, enquanto era perseguido pelo touro Berimbau, o maior e mais
arisco reprodutor da fazenda.
A cada passo, o animal ia encurtando
a distância para o policial em fuga, deixando a impressão de que este seria
chifrado, antes que conseguisse chegar a um lugar seguro. Apavorado, o delegado
gritava por socorro, enquanto o dono da propriedade e do animal, correndo em
direção à cerca, gritava a plenos pulmões:
— O seu crachá!... Mostra o seu
crachá prá ele!!!
Pelo visto, o delegado superestimou
o poder daquele crachá, porque só acordou no dia seguinte, numa cama de
hospital, com os dois braços e algumas costelas quebradas, além de um profundo
corte na região dos músculos glúteos. Ou seja, na bunda!
Um comentário
Justo o que eu procurava sobre modelo de cracha, preciso urgente de crachas
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