Crônica da semana/ A CADEIRINHA DO PENSAMENTO
Wagner Fontenelle Pessôa
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Acho
que foi aí pelo começo da década de 1980 que o escritor, jornalista,
compositor, poeta, dramaturgo e médico Pedro Bloch lançou um livro, todo
escrito a partir de fatos e ditos infantis colhidos em sua clínica de
foniatria, que virou um verdadeiro "best seller", para o mercado
editorial brasileiro de então: "Criança diz cada uma!".
Na verdade, ele não escreveu apenas
este livro no gênero, mas creio que foi este o que alcançou maior sucesso junto
ao público leitor. Era composto por uma série de pequenas histórias e casos,
perguntas inusitadas e respostas absolutamente impensáveis, envolvendo seus
pequenos clientes do consultório, que ele presenciara ou que lhe foram narrados
pelos próprios pais.
O tempo passou, o mundo girou e
ainda gira, mas as crianças são sempre crianças. E elas continuam a nos apanhar
desprevenidos com frases, perguntas e intervenções que jamais poderíamos
esperar delas. Creio, até, que, como os petizes de hoje são mais informados do
que os das gerações de algumas ou muitas décadas passadas, estaremos continuamente
sujeitos a ter surpresas, por algo que nos dirão ou haverão de nos perguntar,
em certo momento da nossa convivência com elas.
Às vezes, os adultos conversam entre
si e supõem que alguma criança, brincando ali por perto não esteja dando conta
do assunto ou não entenderá do que estão falando. Um tolo engano, porque todos
nós, que já estamos crescidinhos, passamos pela fase da infância e deveríamos
nos lembrar que — muitas vezes de caso pensado — meninos e meninas prestam
atenção em tudo o que os mais velhos falam, uns aos outros, nessas conversas
familiares.
Seria
possível lembrar e mencionar dezenas de ocasiões em que os meus próprios filhos
e sobrinhos, assim como os filhos e sobrinhos de amigos ou conhecidos meus
disseram coisas divertidas, para melhor exemplificar esta circunstância. Mas
prefiro referir-me a uma só delas, pela sua absoluta atualidade.
O neto do meu irmão — que se chama
Fernando, assim como o seu pai e seu avô — é uma figura engraçadíssima e que
tem, para a sua pouca idade, apenas três anos de vida, uma vivacidade,
esperteza e inteligência notáveis! Usa os recursos dessas novas tecnologias de
informação e comunicação com uma facilidade que nós, os mais velhos, estamos
longe de utilizar. Como acontece, aliás, com todos os "nativos
digitais".
Pois estava o Fernandinho, num final
de semana desses, lá pela casa do avô, não sei se ocupado com a televisão ou
brincando com algum joguinho no "tablet", enquanto a minha cunhada e
o meu irmão conversavam acerca dessas coisas do país e sobre como a presidente
vinha se conduzindo de forma desastrosa, tanto política, quanto
administrativamente.
O assunto ia por essa altura, quando
o pequeno, que pensavam andar com a cabecinha longe dalí, de repente, olhou
para eles e perguntou, de um jeito inesperado:
— A Dilma está fazendo bobagem,
vovô?
Apanhado de surpresa pela pergunta,
em torno de um tema que não deveria estar interessando e nem ocupando aquela
cabecinha, o meu irmão respondeu:
— Está sim, meu filho. Está fazendo
muita bobagem...
Foi quando o molequinho, do alto da
sabedoria adquirida em seus três anos de idade, apresentou a solução:
— Então bota ela na "cadeirinha
do pensamento".
Suponho que essa tal "cadeirinha
do pensamento" sugerida por ele seja uma espécie suave de castigo que os
pais ou professoras aplicam, em casa ou na escolinha que frequenta, quando o
pequerrucho está se danando. Uma forma de levar a criança a parar um pouco para
"pensar" na bobagem que está fazendo.
E acho que o Fernandinho está
certíssimo! Com essa Dilma, se nada parece resolver — nem a queda da
popularidade, nem a ameaça do impeachment, nem o risco de ir para a cadeia —
talvez o melhor seja obrigá-la a sentar-se na "cadeirinha do pensamento".
Para que ela, finalmente, compreenda todas as bobagens que está fazendo neste
país...
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