Artigo/ A lama da Samarco se confunde com a lama institucional



Duas semanas depois do maior desastre ambiental da História causado por rompimento de barragem de rejeitos minerais, o país acompanha perplexo (com uma baita sensação de insegurança e impunidade) o avanço dessa tsunami de lama fétida sobre os mais de 800Km de distância que separam Mariana (MG) de Linhares (ES). O encontro com o mar - previsto para acontecer a partir de amanhã - inaugurará uma nova etapa nesse ciclo hediondo de destruição, com riscos inclusive sobre os recifes de corais de Abrolhos, um autêntico santuário ecológico que serve de refúgio para aproximadamente 500 espécies marinhas.
A tragédia expôs a monumental fragilidade e inoperância da DNPM (a quem cabe a fiscalização de todas essas barragens de rejeitos) que conta com apenas 20 fiscais para vistoriar as 402 barragens cadastradas. Desses 20 fiscais, apenas 5 fizeram cursos de especialização e possuiriam a devida capacitação técnica para o exercício da função. Em resumo: não há fiscalização de fato. A Presidente Dilma, que prometeu deixar o Rio Doce ainda melhor do que antes do vazamento, nada disse sobre o sucateamento da DNPM. Outro silêncio constrangedor é o do relator do Código de Mineração, deputado Leonardo Quintão (PMDB/MG), que se elegeu com 40% dos recursos de campanha doados pelas mineradoras e tem um irmão administrando duas empresas do setor. O evidente conflito de interesses não parece inibir o deputado, que se refugia no silêncio em torno do assunto com a cumplicidade dos colegas (17 dos 37 parlamentares que analisam o Código foram eleitos com financiamento das mineradoras).
A lama da Samarco se confunde com a lama institucional onde chafurdam os interesses privados em detrimento do interesse público. Quantas barragens ainda precisam colapsar para que o Brasil aprenda a lição? Não há desenvolvimento de verdade onde os riscos ambientais e sociais forem menosprezados. Mineração é atividade de risco. Colaboração: André Trigueiro, jornalista/Artigo publicado em sua página no Face.

Um comentário

Anônimo disse...

Quanto mais multa a Samarco pagar,mais desempregados a cidade de Mariana terá. Falso moralismo