Divisa do RJ e ES pode mudar/ São Francisco de Itabapoana deverá perder território
Seca do Rio Itabapoana trouxe consequências
negativas e muitos pescadores mudaram de profissão
A seca do Rio Itabapoana, na cidade de São
Francisco de Itabapoana, trouxe consequências negativas para os moradores da
região. A escassez dos peixes fez com que muitos destes profissionais
abandonassem a pescaria para buscar outro meio de sobrevivência. E não é só
isso. Com a mudança do traçado do Rio Itabapoana, a divisa entre o Rio de
Janeiro e o Espírito Santo pode ser alterada. Como consequência, o estado do
Rio de Janeiro deve perder uma área de aproximadamente 470 campos de futebol.
Quem mora nestas regiões já teme o impacto da mudança.
É possível perceber que o volume de água está baixo
e o rio principal se afastou de onde ficava. No local que antes passava o Rio
Itabapoana, hoje é possível ver pouca água, pouca correnteza e muito
assoreamento. O mato alto indica que a água não chega mais na área há muito
tempo.
A divisa dos dois estados vai mudar em 20 trechos
entre os municípios de São Francisco de Itabapoana, RJ, e em Mimoso do Sul e
Presidente Kennedy – do lado capixaba. O que passará a valer é o traçado atual
do Rio Itabapoana: a linha reta que ele faz quando passa nas localidades.
Segundo a pesquisa do (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de
Servidores Públicos do Rio), Ceperj, as mudanças serão
mais sentidas dentro de
propriedades e não nos trechos de vilarejos.
Na localidade de Máquina, em São Francisco, a
notícia não chegou ainda, mas tem morador que não está satisfeito com a
novidade. “Meus negócios são todos aqui. Praticamente moro no estado do Rio, eu
não tenho nada no Espírito Santo”, disse o gerente Edilson Gomes Linhares.
Já na localidade de Lagoa Feia, é possível perceber
um cenário de carência, com muitos moradores que sempre dependeram do rio. O
lugar, que antes tinha como a principal renda a pesca, presencia a seca
castigar e fazer os peixes desaparecerem. “Diminuiu muito a quantidade de
peixe. Antes, este rio dava muito peixe, agora só dá quando tem enchente. Mas
eu creio que vai melhorar e peço a Deus pra dar mais peixe para nós”, lamentou
o pescador Deosmar Teixeira.
O movimento na Colônia de Pescadores também sofreu
as consequências. Isaías dos Santos era pescador profissional e um dos membros
da colônia, mas precisou abandonar a profissão e agora é vendedor de peixe. O
carregamento que ele comercializa vem de Linhares, no Espírito Santo. “Tem uns
dois anos que o nosso peixe acabou, aí eles fornecem o peixe pra gente e a
gente vende para sobreviver. Se não fosse a indenização do seguro piracema, a
gente ia passar fome neste período. A diminuição dos peixes prejudicou muito,
porque aqui era muita fartura de peixe”, lembrou.
A pescadora Silvana Bueno é outro exemplo de quem
sofre com a falta dos peixes. “Com a diminuição do pescado, os moradores foram
procurar serviços em outras áreas. Os governantes fazem reuniões para
incentivar a pesca e falam para a gente incentivar nossos filhos a serem
pescadores, mas não tem como. Se nem pra gente que é adulto está fácil, como a
gente vai incentivar os filhos da gente a não estudar e viver da pesca? Aqui é um
lugar esquecido por todo mundo, mas é o lugar da gente, a gente foi criado
assim”, desabafou.
Segundo o presidente do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Baixo Paraíba do Sul e Itabapoana, João Gomes de Siqueira,
redefinir a divisa é apenas o primeiro passo e o comitê – junto com outras
instituições – pretende agora entender as necessidades de quem vive na região.
“Nós temos que ter decisões técnicas e consensuais e levar em conta os aspectos
sociais e econômicos. Representamos a indústria, a pesca, a agricultura e os
próprios governos estaduais e municipais. Todos temos que nos reunir com a
sociedade para que possa haver um consenso entre os envolvidos. O meio ambiente
também será levado em consideração e então tomaremos as decisões melhores”,
explicou.Reportagem/Terceiravia.
2 comentários
Não existe nenhuma possibilidade de máquina e lagoa feia passarem a fazer parte do Espírito Santo, uma coisa que fica bem clara é que nesse trecho São Francisco de Itabapoana vai ganhar território, pois o Rio que vai passar a determinar a nova divisa está em terras capixabas.
Pena não aproveitar o embalo e desfazer a famigerada "emancipação".
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