Crônica da semana/ NÃO FAÇO A MÍNIMA IDEIA!
Wagner
Fontenelle Pessôa
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Estas
tecnologias mais modernas de informação e comunicação, como ninguém haverá de
negar, trazem muitas facilidades para todos nós. É muito melhor, por exemplo,
resolver a necessidade de uma consulta ou saque rápidos em conta bancária
através de um terminal eletrônico, do que entrar na agência — depois de retirar
uma senha num outro terminal — e ficar, não sei quanto tempo, esperando que o
painel anuncie a sua vez de ser atendido.
É o mesmo que se pode dizer dos
telefones móveis, que nos dispensam de carregar um cartão para uso dos
telefones públicos, atualmente quase desaparecidos das cidades de médio ou
grande porte, pela sua absoluta inutilidade. Afinal de contas, num país que tem
mais de 200 milhões de telefones móveis, os chamados "orelhões" só
serviriam para duas finalidades: para serem depredados por vândalos e para por
as pessoas da fila, à espera de usá-los, numa situação de risco, em certas
horas do dia ou da noite.
Com a rapidez com que essas novas
tecnologias avançam e se renovam, aliás, o próprio telefone celular já é tido
como ultrapassado, substituído que foi por dispositivos móveis com maiores
recursos, como tablets, Iphones e smartphones, que oferecem aos usuários muitas
outras possibilidades, além da comunicação por voz. Oferecem todas as
possibilidades de acesso à internet, como qualquer computador doméstico e uma
diversidade de aplicativos sem fim. Inclusive, como sabido por todos, o
infernal "corretor automático de texto".
Pois é exatamente aí que temos uma
das facetas ruins de tudo isto. Porque, se por um lado, o tal do corretor
automático traz ao usuário desses editores de texto a garantia de indicar-lhe
os equívocos da sua digitação, por outro, de vez em sempre, o corretor do
dispositivo corrige, sem a sua permissão, aquilo que você digitou, mas ele não
reconhece, para uma palavra que ele reconhece, mas você não digitou. E a razão
disto, é simples de entender.
Sempre que alguém digita num
dispositivo desses, mas o corretor não identifica a palavra, ele lhe oferece
três ou quatro opções de palavras registradas em sua biblioteca. E se, na
pressa, o digitador não percebe isto, ele grafa aquela que considera a mais
provável, na intenção do usuário. Neste caso, só há duas formas possíveis de
enfrentar o problema: você desativa o corretor automático do seu equipamento ou
vigia o corretor, para corrigi-lo, quando necessário.
É por este motivo que, aqui e ali,
em meio à preparação de uma mensagem, aparece uma palavra que você não digitou
e nem pretendeu digitar em seu texto. Como "desenho", em lugar de
"desejo"; "danosa", em lugar de "famosa";
"penitente", em lugar de "pertinente" ou
"imoral", no lugar onde deveria aparecer a palavra
"umbral".
Algumas
vezes, tais "correções" não resultam em nada mais do que um erro no
texto, que podem ou não prejudicar a compreensão do seu sentido. Noutras,
porém, podem resultar em verdadeiras gafes ou situações verdadeiramente
ridículas, para quem enviou a mensagem. Como aconteceu, neste final de ano, com
um amigo meu — especialíssimo amigo, por sinal — que possui uma empresa no ramo
da consultoria e que, já no apagar das luzes de suas atividades em 2015,
resolveu responder e enviar todas as mensagens que, de costume, encaminha à sua
clientela, como parte da sua política de relacionamento com os clientes.
Preparou um texto e, valendo-se do
Whatsapp, que é, atualmente, o aplicativo padrão para essas coisas, ia
alterando só o nome do destinatário e enviando a mensagem para cada empresa ou
empresário que recorrera aos seus serviços de consultoria no ano que findava.
Dentre estes, um cliente novo, chamado Cleiton, para quem havia realizado um
trabalho, pela primeira vez, mas com o qual não tinha nenhuma proximidade
pessoal.
E, havendo recebido, antes, uma
atenciosa mensagem do dito empresário, agradecendo pelo apoio e assistência que
recebera da consultoria do meu amigo, este respondeu-lhe de maneira gentil e
afetuosa, embora sem o propósito de parecer íntimo, o que não seria
profissional e nem a relação pessoal entre eles justificaria: "Caro
Cleiton, acredite que foi um prazer estar junto a você durante este ano de
2015...".
Enviou a mensagem e passou à
próxima. Mas somente ao concluir a tarefa, revendo as que enviara, foi que se
deu conta de que para o Cleiton, graças à intromissão da droga do corretor
automático, longe do que pretendera, fora remetido o seguinte texto:
"Caro Clitóris, foi um prazer
estar junto a você durante este ano de 2015...".
Agora, me pergunte o prezado leitor:
como é que se explica uma situação ridícula dessas, para um cliente com o qual
não se tem nenhuma intimidade? Pergunte, que a minha resposta será a seguinte: eu
não faço a mínima ideia!
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