O FUTURO DAS CRIANÇAS
Alexandre Garcia |
Esta semana, encerrei o Bom Dia Brasil com um
comentário horrorizado. Recém tínhamos mostrado o flagrante de um assalto em
que três bandidos esperam a chegada de uma família de volta a casa. Ao descerem
do carro, o casal e dois filhos pequenos, são abordados por assaltantes
armados, que querem tudo: celular, relógio, carteira e carro. Um deles espanca
o homem diante de seus filhos. Uma cena que as crianças jamais vão esquecer.
Perguntei, então, olhando para cada pessoa que nos assistia no Bom Dia: “Se não
reagirmos agora, que futuro estaremos preparando para as crianças brasileiras?”
Deixo as respostas para você que me lê. E que ouve,
todos os dias, as autoridades mentirem que no mundo é assim; e sempre
aconselhando que não reajamos, que nos entreguemos passivamente aos bandidos.
Já nos desarmaram sem desarmar os bandidos e não querem que reajamos. Tenho
dito que estamos nos educando como cordeirinhos indo passivamente para a
tosquia ou para o matadouro. Trabalhamos cinco meses por ano só para pagar
impostos e não recebemos o mais comezinho serviço público, que é o da
segurança, para nossas vidas e nossos pertences. O estado brasileiro não é um
fracasso; fracasso é nosso, que elegemos maus administradores e maus
legisladores e ainda ficamos alienados, encolhidos, ensurdecidos pelos
tamborins do carnaval e pelos gritos do futebol.
Depois do programa, a equipe do Bom Dia Brasil foi
se refazer do trabalho da madrugada com um bom lanche. E cada um da mesa -
éramos cerca de uma dúzia - tinha um episódio de vítima de assalto - às
vezes mais de um - para contar. Fiquei imaginando se um uruguaio ou um chileno
estivessem ouvindo na mesa ao lado, o quanto se surpreenderiam. Não
acreditariam que vivemos em tal situação - e não reagimos, a não ser para
contar o terror passado. É bom lembrar que a cada dia, mais de 150 brasileiros
não sobrevivem para contar. Somos os campeões mundiais em homicídios dolosos.
Dos assassinatos neste planeta, 11% são praticados aqui neste país.
Isso é uma emergência, uma catástrofe, mas ninguém
liga para isso. Nem nós nem nossos prepostos no Legislativo e no Executivo.
Aliás, muitos de nós contribuem para isso, enfraquecendo as leis,
desrespeitando fundamentos mínimos de cidadania. Somos vítimas de nós mesmos, de
nossa ignorância para a cidadania e civilidade. Será que as crianças que
botamos no mundo, nossos filhos, netos, sobrinhos, merecem esse legado? É nossa
responsabilidade prepararmos um futuro para eles. Mas é responsabilidade de
agora, presente, premente. Ou será que queremos que se lembrem de nós como os
que deixaram o banditismo tomar conta?
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