Crônica da semana- AS APARÊNCIAS REALMENTE ENGANAM

Wagner Fontenelle Pessôa                                
            Não existe nada menos verdadeiro do que aquele ditado, cujo propósito é nos fazer acreditar que "a primeira impressão é a que fica". Não sei de onde saiu tamanha tolice, porque todo mundo já passou por situações que desmentem essa crença por completo. Existem pessoas com quem simpatizamos muito num primeiro encontro, mas que, depois, se revelam desagradáveis, inconvenientes ou possuidoras de péssimo caráter. Assim como existem outras que, ao contrário, não nos causam lá uma boa impressão à primeira vista, mas que, com o passar do tempo, acabam entrando para aquele círculo de amigos queridos que temos.
             Alguma coisa me diz, porém, que tais equívocos de avaliação, com mais frequência, costumam acometer as mulheres do que os homens. Talvez, pela peculiar maneira feminina de pensar sobre o futuro e de fazer deduções sobre as coisas da vida. Deve ser por este motivo que, quando estão apaixonadas e querendo se casar, sempre imaginam haverem encontrado "aquele príncipe" dos romances, que o destino lhes reservou. Para, algum tempo depois descobrirem que, na verdade, o príncipe não passava de um sapo. Ou seja, que foram iludidas por um mero batráquio, disfarçado sob a capa de uma nobreza que não possuía.
            É este, aliás, um dos motivos pelos quais muitas mulheres — mas não todas, é claro! — gostam de frequentar, regularmente, os ditos salões de beleza. Porque, além de se embelezarem (umas mais e outras menos), ainda conseguem se atualizar sobre os últimos e mais picantes detalhes da vida alheia. E, melhor que tudo, realizam uma espécie de catarse coletiva, contando suas mazelas matrimoniais ou desilusões amorosas para outras mulheres, naquela forma de confidência em que a recíproca também é verdadeira. É o que se poderia chamar de uma "terapia de grupo" barata e conveniente.
            Homens menos experientes nas coisas do casamento e no entendimento da alma feminina, de vez em quando, resolvem acompanhar suas parceiras e aproveitar para cortar o cabelo no mesmo salão, enquanto elas fazem os pés, as mãos e o que mais for necessário fazer. Não cometa uma tolice dessas, meu rapaz! Porque você irá perturbar o bom andamento daquela "confraria", restringir a espontaneidade das meninas e ainda correrá o risco de sair de lá com o visual do Cauby Peixoto. Pois é a isto que os cabeleireiros chamam de "corte unissex": aquele que deixa você com cara de gay.
            Mas, se tais conjecturas sobre os equívocos das primeiras impressões e os enganos da avaliação feminina me ocorrem neste momento, é por conta de um fato que não tem nada a ver com os salões de beleza e nem mesmo aconteceu no Brasil. Embora envolva um homem e uma mulher, sendo ela rica, bonita e bem produzida. Na verdade, uma baronesa, pertencente à aristocracia britânica, a quem devemos uma das mais claras demonstrações de que, realmente, as aparências enganam. E o ocorrido se resume ao seguinte:
            A baronesa Michelle Mone, que também é uma bem sucedida empresária (no ramo de lingeries), cometeu — por deixar-se levar pelas aparências — uma monumental gafe, quando participava de uma conferência para empreendedores no Vietnã. Após sua fala, subiu ao palco uma "criança", para entregar-lhe umas flores. E ela, carinhosa e agradecida, pegou o pequeno vietnamita no colo e posou com ele, para uma foto.
            Até aí, nada de mais, não fosse o fato de que, enquanto a baronesa posava para a foto, lá dá plateia vieram gritos indignados:
            — Bota ele no chão! Eu sou a esposa dele!
            Os organizadores do evento caíram numa sonora gargalhada, porque, na verdade, não se tratava de uma criança, mas de um anão, chamado Nguyen Tan Phat, casado e com 22 anos de idade. E Michelle Mone, absolutamente constrangida, usou o Twitter para se explicar depois:
            — Falando para 3 mil pessoas, achei que ele teria uns 6 anos e o peguei no colo. Mas é um homem! Foi um momento muito constrangedor...
            Diante de fatos como este, é possível chegar a duas conclusões: a primeira, é que as aparências realmente enganam; a segunda, é que as mulheres precisam perder essa mania de fazer deduções apressadas, pelo tamanho das coisas e das pessoas.


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