Estreia no Blog/Artigo TEMPOS MODERNOS

“O Blog do Carlos Jorge alcançou números de acessos bem satisfatórios, aumentando também a nossa responsabilidade em disponibilizar conteúdos de qualidade e que sejam úteis no dia-a-dia dos nossos leitores/internautas. A partir deste mês, passamos a contar com importante colaboração do amigo Fernando Fontenelle, que trará textos reflexivos sobre a realidade econômica e política do País, boa leitura.” 
Fernando Fontenelle (*)
Sendo parte da plateia que assiste as diversas fases do espetáculo político-jurídico encenado no Brasil, nos últimos tempos, algumas reflexões se impõem, a respeito de determinados comportamentos sociais.
Em outros tempos, já distantes, bem informada era a pessoa que lesse um ou talvez dois jornais por dia e assistisse, à noite, pela televisão o grande telejornal. E olhe lá. As opiniões sobre política, futebol, crimes e escândalos eram trocadas às refeições, em casa ou nos
locais públicos.
A maioria de nós era poupada das análises e comentários alheios e se restringia a ter que engolir aquilo que era produzido pelos jornalistas – alguns nem tão jornalistas assim – a favor ou contra nossas opiniões individuais. Mas mesmo em tempos tão diferentes, sempre foi difícil para qualquer ser pensante aguentar a presença daqueles tipos detentores da “velha opinião formada sobre tudo”, como dizia Raul Seixas. Sabe aquela pessoa que conhece melhor todo assunto e qualquer tema?  E que mal aguarda, impaciente, alguém expressar alguma coisa ou que lê sem concentração um texto, palpitando de emoção pela brilhante abordagem que fará em seguida?  Pois é, esse tipo existe desde sempre, mas o pior é que hoje deram a ele espaço na mídia.
Para que se tenha uma noção mais real do nível educacional e cultural dos viventes da “pátria educadora” basta perder um tempinho, ao final de uma reportagem, crônica, opinião ou qualquer coisa publicada nos jornais, blogs, sites ou milhões de opções disponíveis na mídia eletrônica. E ler, no máximo, os primeiros comentários dos leitores. Esses tipos indigestos estão lá, inteligentes como nunca. E junto, “analistas e comentaristas” de toda ordem. Lunáticos, solitários, desesperados, esquisitos, ignorantes e muito, muito mais mesmo. Às vezes, falando grandes bobagens, agredindo, ofendendo, tentando polemizar sobre o nada. Mas sempre poluindo até os melhores e mais sérios assuntos. Despejando todo o ressentimento que lhes queima a alma e lhes consome a vida.
Uma vez, Tutty Vasquez, brilhante e inteligente blogueiro cuja característica é tratar as más notícias com bom humor, postou um comentário na coluna que escrevia para o Estadão e na qual costumava responder com atenção e picardia aos comentários de seu público. Naquela ocasião, teve seu espaço invadido por uma horda de ignorantes, tão intensa e absurda, que precisou bloquear a área destinada aos leitores da coluna.
Todos têm o direito de expressar sua opinião, mas isso é diferente do que está sendo comentado aqui.  Os absurdos e o radicalismo irracional são tantos, o primarismo é tão inacreditável que nenhum tipo de contrapartida eficiente pode ser pensada. Em compensação, ninguém precisa ler se não quiser, basta ignorar e não perder tempo com essa montanha de lixo.
Esse assunto veio à tona pelos episódios recentes expostos na mídia, e especialmente, pelo espetáculo patrocinado pelos políticos brasileiros, todos eles, sem distinção de ideologia, partido, origem e pretensões de poder. Sem excetuar quem ganhou ou quem perdeu. Sem destacar os que estão com o rabo preso nos escândalos da corrupção ou aqueles que ainda não estão. E nem mesmo estarão, que algum divino os proteja.
As performances que se desenrolam à nossa frente são de tal forma inacreditáveis que ocorre, aqui, uma espécie de delírio. Se algumas centenas desses leitores citados fossem eleitos e passassem a exercer funções no poder legislativo, o que seria da  pátria? Se isso que está sendo assistido não fecha definitivamente a Nação, podemos acreditar que com outros malucos irresponsáveis não seria diferente.
Ofensas, injúrias, ressentimentos, irresponsabilidades, cinismo, não é isso que estamos assistindo? O que sentem crianças em fase de formação da personalidade vendo tudo isso? Há os que com parentes e educadores, atentos a essa realidade, têm seu discernimento reforçado.  Mas há outras que, infelizmente, vão absorver essas mazelas como normais.  E não se pode ignorar que as crianças estão chegando muito cedo à informação. Internet e televisão, principalmente.
A própria mídia séria, assim chamada, muitas vezes dá exemplos ruins quando é tendenciosa e também quando mente e difama de maneira irresponsável.
O caldo midiático está indigesto. Contas no exterior para abrigar dinheiro de propina, homens públicos, até então exemplos de probidade, encarcerados. Alguns desses ainda jogando o jogo da corrupção em outros campos, ídolos políticos se definindo como jararacas vivas, investigados pela Justiça conduzindo processos e ritos na maior desfaçatez. Lobos em pele de cordeiro e cordeiros sendo assados nos churrascos de comemoração por bilhões desviados ainda não descobertos.
Então vamos fazer nossa mudança individual e gritar por nossos direitos, agora e para todo o sempre, pensando nas gerações futuras. Que assim seja!
(*) O autor é consultor e sócio da Projeckmarck Ensino Empresarial e Consultoria Ltda., empresa responsável por treinamentos, desenvolvimento e gestão de pessoas.

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