Crônica da semana: SANTINHO DESGRAÇADO

Wagner Fontenelle Pessôa
            Como costumam dizer por aí, cautela e caldo de galinha são coisas sempre benéficas — menos para a galinha, naturalmente — que nenhum de nós deve considerar dispensáveis, porque nunca fizeram mal a ninguém. Além disso, todas as outras coisas que as pessoas nos ofereçam, por bem intencionadas que sejam, devem ser analisadas com bastante cuidado, antes que resolvamos aceitá-las.
            Excetuando-se o chamado "amor de mãe", há muitos oferecimentos "desinteressados" que se podem constituir numa armadilha, muitas vezes embalada por aquela conhecida frase: "eu não sou dessas que existem por aí". E, desse ponto até o inocente descobrir que ela era, sim, dessas que andam por aí, a desgraça já estará feita.
            Mas nem só de eventuais decepções afetivas vivem os homens. E nem as mulheres, porque elas também arcam lá com o seu quinhão de expectativas frustradas, no que tange às ilusões do coração. Esses enganos também podem ocorrer em relação a muitas outras coisas, que nos oferecem com gentileza, doçura e até com boas intenções, mas que nos levam a quebrar a cara, aqui, ali ou acolá.
            Tenho um amigo que vive em Salvador e que mantém, com os demais residentes do prédio em que mora, relações de cordialidade à distância, como convém às pessoas mais prudentes. Mesmo assim, por ocasião de alguma confraternização promovida pela
síndica, num desses finais de ano, um dos seus vizinhos pegou-se de conversa com ele e acabou por convidá-lo, para que o acompanhasse a um grupo de meditação que frequentava regularmente.
             Sendo avesso a esse negócio de oração e meditação, o convidado agradeceu e meio que declinou do convite, dizendo que oportunamente combinariam, quando isto fosse possível, sua ida a uma das reuniões do grupo, que tinha um nome engraçado, como "Natureza e Paz", "Felicidade Natural", ou coisa que o valha.
            Na verdade, o meu amigo não tinha a menor intenção de participar de qualquer reunião do grupo. Mas era só o vizinho se encontrar com ele, que reforçava o convite, tecendo rasgados elogios aos benefícios que a presença nesses encontros costumava trazer aos participantes. E dizia que era ótimo, sobretudo para quem possuía uma rotina de vida estressante, como a que um e outro possuíam. E tanto insistiu que, certo dia, o convidado resolveu acompanhá-lo a uma das reuniões.
            Tudo acontecia num pequeno salão, com cadeiras dispostas em várias fileiras, nas quais se distribuíam os participantes, como se o local fosse destinado a alguma palestra ou culto. Iniciada a sessão, apareceu lá na frente um sujeito, que parecia ser o líder do grupo, que falou aos presentes sobre as "forças da natureza", numa locução que não deixava muito claro onde aquilo iria dar. Ao final, disse que passariam à meditação individual, enquanto, em pequenos copinhos de plástico, alguns auxiliares do encontro serviam um chazinho para os convidados.
            Pelo sabor, sugeria ser de alguma erva ou raiz, bem ao gosto desses esotéricos. E, uma vez tomado o chá, todos fecharam os olhos e passaram à etapa da meditação. Porém, como o meu amigo não estivesse devidamente concentrado, o tal "guru" veio de lá e chegando ao seu lado perguntou-lhe se estava sentindo alguma coisa ou se estava tudo bem. Depois, recomendou-lhe que fechasse os olhos e se concentrasse, como os demais. Pois foi que fez, até que — conforme me contou — segundos depois, ouviu um assobio estridente, como se houvessem enfiado uma sirene dentro das suas orelhas.
            Sem entender nada, abriu os olhos e se viu num desses carrinhos de montanha russa, acompanhado por ninguém menos do que toda a turma do Walt Disney: o Pluto, o Pato Donald, o Mickey, o Pateta, a Minnie... E vai por aí afora! E lá foi ele, de montanha abaixo, acompanhado de meia Disneylândia, com todos os personagens aos berros, naquele mergulho que parecia não ter mais fim!
            Ele não soube me dizer o tempo que durou aquela loucura. Mas é provável que, em tempo real, tenha durado bem menos do que aquilo que lhe pareceu na ocasião. Só então ele foi compreender que havia tomado um chá alucinógeno, daqueles bravos! Foi quando teve a total compreensão do que significava aquele papo furado de "forças da natureza", que precedera a sua primeira e última experiência de alucinação programada.

            Pelos efeitos e consequências, tudo leva a crer que o que lhe deram a beber foi o tal chá do "Santo Daime". Ah, que santinho desgraçado, este!

Um comentário

Anônimo disse...

Por favor pessoal da imprensa brasileira, coloca alguma nota sobre Lula e caso do TRIPLEX do Guarujá. Eu sei que tem muito assunto pra se falar: olimpíadas, eleições, mas o estrago que foi feito na vida do cara que quase o levou a prisão, agora quando PF chega a conclusão que não tem elementos para indiciar o Lula a nossa imprensa vai se calar? Temos manchetes só nos chamados ” blogs sujos”, como Damous, sobre o triplex do Guarujá: “Vou sugerir ao Lula que processe e cobre indenizações pesadas, a começar do juiz Moro, que usa o cargo para perseguição política”
http://www.viomundo.com.br/denuncias/damous-sobre-o-triplex-do-guaruja-vou-sugerir-ao-ex-presidente-lula-que-processe-e-cobre-indenizacoes-pesadas-a-comecar-do-juiz-sergio-moro-que-usa-o-cargo-para-perseguicao-politica.html