Crônica da semana: ESCAPOU FEDENDO
Wagner Fontenelle Pessôa |
Se há uma coisa que eu muito admire é
a capacidade que algumas pessoas possuem de improvisar uma resposta ou uma
saída honrosa, diante de situações difíceis, potencialmente perigosas ou,
apenas, constrangedoras. Confrontados com uma circunstância embaraçosa, alguns
ficam com aquele ar apatetado, de quem foi descoberto no meio de um pulo mal
dado ou abatido em pleno voo. Outros, ao contrário, encontram e utilizam uma
forma divertida ou hábil de escapar daquele constrangimento.
O
que diferencia os que sucumbem dos que não sucumbem, diante do que costumamos
chamar de uma "saia justa" ou de uma "calça arriada", é a
capacidade que uns possuem, mas outros não possuem, de reagir de forma
criativa, quando submetidos ao inesperado. É aquilo que conhecemos como verve —
uma espécie de inspiração — que o anjo da guarda lhes manda nesses momentos, para
os quais não se haviam preparado.
O
nosso folclore político está abarrotado de exemplos, de como essas coisas
acontecem. Alguns verdadeiros e outros adaptados, que talvez não sirvam como
registro
histórico, mas servirão para demonstrar uma admirável facilidade para
o improviso, que caracteriza a gente brasileira. Embora levando em conta que,
para a classe política, lavada e enxaguada na bandalheira, sair pela tangente
das situações embaraçosa seja uma espécie de exercício de cada dia.
Das
Minas Gerais e de seus espertíssimos políticos, são contados ótimos casos! Do
Rio Grande do Sul e do Nordeste também. Para dizer com sinceridade, histórias de políticos que escapam de
momentos constrangedores e nem tremem a cara, acho que existem em todos os
cantos do Brasil.
Particularmente,
eu tenho preferência por alguns. Como o daquele chefe político do interior pernambucano
que, em tempos idos, sendo candidato à reeleição para a Prefeitura, mandou pintar
com tinta preta a sua propaganda, em alguns muros da cidade: "Para
Prefeito - Vote no Coronel Justino".
Um
gaiato da oposição, com a mesma tinta preta, foi na propaganda do candidato e
acrescentou um "Não", deixando os muros pintados da seguinte forma:
"Para Prefeito - NÃO vote no Coronel Justino ".
Na
terceira noite, a mando do coronel, os muros receberam um novo acréscimo em
seus dizeres, que acabaram ficando assim: "Para Prefeito - NÃO vote no
Coronel Justino, PARA VER O QUE LHE ACONTECE!"
Contudo,
nem só dos políticos escolados nascem os melhores improvisos, com os quais
alguns se livram de situações difíceis ou embaraçosas, como dito ao início
destas considerações. Às vezes, esse repente acontece com pessoas bem mais
simples, ainda que não menos astutas.
E
um bom exemplo, que agora me ocorre, é o daquele sujeito que tomava conta de
uma banca de melancias instalada na frente de uma vendinha, na periferia de
alguma cidade de médio porte. Fazia isso a serviço do dono do estabelecimento,
que também era o proprietário da banca e das melancias. Até que um dia lhe
aparece um tipo que mais parecia um "armário"! Alto, forte, corpulento
e com uma cara de poucos amigos, o forasteiro disse ao responsável pelas
melancias, apontando para uma delas:
—
Vou levar a metade dessa aqui!
O
vendedor olhou para o forasteiro e respondeu, como a estabelecer as condições
do comércio:
—
Aqui nós não vendemos meia melancia. Tem que levar tudo ou não leva nada!
A
reação do comprador foi agarrar o outro pela gola da camisa e berrar em seus
ouvidos:
—
VOU LEVAR A METADE DESTA OU QUEBRO A PORCARIA DESSA BANCA, CHUTO ESSAS
MELANCIAS TODAS E AINDA LHE METO A MÃO NA CARA!!!! ESTÁ ENTENDENDO?!
Assustado,
o vendedor se retraiu e, tentando aliviar a ira do outro, explicou que as
melancias não eram dele, mas que iria falar com o proprietário e já voltava.
Entrou rápido e ligeiro na venda e foi logo dizendo para o chefe, que estava do
outro lado do balcão:
—
Olha aqui, chefe! Tem um vagabundo aí fora dizendo que só vai levar meia
melancia. E que se eu não vender, ele vai quebrar a banca toda...
Interrompeu
o que ia dizendo, ao sentir um bafo quente no pescoço. E, quando se virou,
percebeu que, bem atrás dele, estava plantada aquela jamanta — o abusado pretendente
a comprar meia melancia — que o acompanhara ao interior da loja, sem que houvesse
se dado conta disto. Foi quando ele, num repente, completou a frase, apontando
para o que estava na sua retaguarda:
—
...Mas a sorte é que este simpático cavalheiro aqui está a fim de ficar com a
outra metade da peça!
Escapou
"fedendo", como dizem por aí. O que, com certeza, é muito melhor do
que morrer cheiroso!
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