PF indicia Lula por propina de R$ 20 milhões da Odebrecht a sobrinho
A Polícia Federal indiciou o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva pelo crime de corrupção em razão de evidências de
propina de R$ 20 milhões mascarada em contratos da empreiteira Odebrecht, em
Angola, firmados com a empresa Exergia, cujo sócio era Taiguara Rodrigues dos
Santos, seu sobrinho.
Lula foi indiciado por
corrupção passiva, porque a PF concluiu que os contratos de Taiguara só
aconteceram em razão do parentesco e das relações da empreiteira com Lula, além
dos documentos que citam o próprio ex-presidente no negócio. Seu sobrinho e
sete executivos da empreiteira, incluindo Marcelo Odebrecht, foram indiciados
por corrupção e lavagem.
O indiciamento ocorreu após
cinco meses de investigação da Operação Janus, que devassou contratos da
empreiteira com a empresa Exergia. Em maio, a PF, com autorização da Justiça,
cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços de Taiguara em Santos. Era
uma mina de ouro para a investigação. A PF descobriu que Lula recebia três
alcunhas nas conversas: tio, presidente e “chefe maior”.
Uma das provas apreendidas pela
PF era uma espécie de diário no computador do sobrinho de Lula, com diversos
relatos da empresa e do petista. Eram textos em formato .doc, com Taiguara
falando de si mesmo em terceira pessoa. Um dos primeiros – e mais relevantes –
registros desse diário é de 2009, quando Taiguara descreve uma reunião. Ele diz
que esteve em Brasília para conversar com o tio. Registrou até a duração do
encontro: 50 minutos. Taiguara resumiu a resposta de Lula dizendo que ele deu
“carta branca” para os negócios em Angola.
Após esse encontro, com o aval
de Lula, Taiguara preparou sua empresa para arrancar um naco dos contratos
bilionários da Odebrecht em Angola, financiados com dinheiro do BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social). Como ÉPOCA revelou no ano passado, Lula
fazia lobby para a empreiteira sob o pretexto de palestras, usando o status de
ex-presidente para viabilizar obras fora do país bancadas pelo banco estatal.
O tio resolve
Além do diário, a PF conseguiu
recuperar mensagens de WhatsApp enviadas por Taiguara. Um dos destinatários
favoritos era um segurança do ex-presidente Lula, de nome Valmir Morais.
Funcionário da Presidência da República, ele acompanhava Lula após o mandato.
Como ÉPOCA revelou no início deste ano, Valmir era um dos seguranças que foram
111 vezes a Atibaia, no sítio que Lula diz não ser dele. A PF descobriu que o
segurança era, também, um homem de recados do ex-presidente, que não usava
celular. Numa das mensagens, Taiguara disse que havia chegado de Angola e
precisava, com urgência, de uma reunião com o tio.
Outro lote de mensagens era com
um parceiro de Taiguara em sua empresa, a Exergia. O conteúdo das conversas era
explícito. Numa delas, Taiguara fala que um projeto com a Odebrecht era uma
ficção – o contrato depois foi firmado. Em outra, já em 2015, eles reclamavam
das dificuldades em fechar negócios. Na ocasião, a Lava Jato já tinha atingido
a empreiteira. Taiguara, de novo, ia direto ao ponto: ia falar com o tio para
resolver os impasses com a Odebrecht.
No total, foram 16 contratos da
Odebrecht com a empresa de Taiguara, uma parceria próspera, longa e
diversificada. A conclusão da PF é contundente: a empresa foi criada apenas
para receber dinheiro da empreiteira, sem prestar serviços. Não havia outros
clientes ou indícios de qualquer serviço executado. Sobram, contudo, documentos
que mostram uma gastança de Taiguara, incluindo outros familiares de Lula, que
tinham até o plano de saúde pago com o dinheiro da Exergia. Havia, claro, itens
de luxo, como roupas e carros.
Conforme os documentos eram
analisados, a investigação avançava. Uma perícia concluiu pela “incapacidade
técnica e operacional” da Exergia. Soma-se a um documento interno da Odebrecht,
que qualificava o serviço contratado de “imprestável”. A conclusão da PF foi
uma só: era
impossível a nanica empresa de Santos executar as obras milionárias
em Angola.
As mensagens de Taiguara
citando Lula não eram mera bravata de um familiar se aproveitando do status de
um parente famoso. A investigação descobriu ainda diversas reuniões de Taiguara
no Instituto Lula. Houve, também, um encontro num hotel cinco estrelas em
Angola. O primeiro indício surgiu de uma mensagem do próprio Taiguara a um
segurança de Lula. Ele pedia um encontro, informava que estava no mesmo hotel do
tio e citava o quarto. Lula esteve lá duas vezes, sob o pretexto de dar
palestras. As duas foram pagas pela Odebrecht.
Procurada, a
defesa de Lula enviou a seguinte nota por meio do Instituto Lula:
O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva tem sua vida investigada há 40 anos, teve todas as suas contas e
de seus familiares devassadas, seu sigilo bancário, fiscal e telefônico
quebrado e não foi encontrada nenhuma
irregularidade. Lula não ocupa mais nenhum cargo público desde 1º de janeiro de
2011, e sempre agiu dentro da lei antes, durante e depois de ocupar dois
mandatos eleitos como presidente da República. A defesa do ex-presidente irá
analisar o documento da Polícia Federal, vazado para a imprensa e divulgado com
sensacionalismo antes do acesso da defesa, porque essa prática deixa claro que
não são processos sérios de investigação, e sim uma campanha de massacre
midiático para produzir manchetes na imprensa e tentar destruir a imagem do
ex-presidente mais popular da história do país.
ÉPOCA ainda não localizou os
advogados de Taiguara, mas tão logo obtenha um posicionamento atualizará esta
reportagem para contemplar adequadamente a versão dos citados. Na CPI do BNDES,
ele disse que não houve influência de Lula no negócio.
No papel, Taiguara nem sequer é
sobrinho de Lula. Ele é filho de Jacinto Ribeiro dos Santos, o Lambari, amigo
de Lula e irmão da primeira mulher do ex-presidente, já morta. Mas o parentesco
aí se deu por afinidade. E a Odebrecht cimentou essa relação.
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