Crônica da semana: PARA TUDO HÁ UMA BOA EXPLICAÇÃO
Wagner Fontenelle Pessôa
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Desde
a época em que Machado de Assis escreveu um dos seus melhores romances — O Alienista
— até os dias atuais, a psiquiatria já se modificou bastante. Tanto na
conceituação das patologias que lhe cabe estudar, quanto em relação aos métodos
de que se vale, para o tratamento das doenças mentais.
No passado, os psiquiatras já
entenderam que a internação em estabelecimentos especializados nesse campo seria,
quase sempre, o melhor encaminhamento, para a maioria dos casos de portadores
de distúrbios mentais. Algo que a moderna psiquiatria, só considera
recomendável para as situações mais agudas. Isto, se não falarmos sobre
terapias verdadeiramente absurdas, como a do eletrochoque, aplicadas, muitas
das vezes, de forma indiscriminada e sem o consentimento das famílias ou dos
responsáveis pelos pacientes.
Pois a mencionada obra de Machado de
Assis se refere, exatamente, ao tempo em que um psiquiatra decidia, sozinho e
de forma quase autoritária, sobre a necessidade desse tipo de internação. E
narra a trajetória de um médico, o doutor Simão Bacamarte, que constrói um
manicômio — a Casa Verde — onde manda internar todos os pacientes
que lhe caem
nas mãos. Visto que, por qualquer motivo, identifica neles os sintomas de uma
loucura, latente ou manifesta.
Até que, no final, depois de
internar quase toda a população da cidade, inclusive sua própria mulher, acaba diagnosticando
a si mesmo como portador de um grave desequilíbrio mental. E determina a sua
própria internação, que era, ao termo e ao cabo de tudo, o único verdadeiramente
insano, nessa divertida trama.
Por absurda que seja, a história tem
um enredo muito engraçado, que até já serviu de tema, para um seriado ou novela
de televisão. Mas não deixa de ser uma espécie de caricatura da ciência psiquiátrica
e de seus profissionais, nos tempos de antigamente. Numa época em que muitas
pessoas — e isto não tem a menor graça — foram internadas e mantidas em asilos
para doentes psiquiátricos, por anos ou por toda sua vida, sem nenhuma razão
para isto.
Do mesmo modo, noutros momentos e
muito mais que agora, o doido era um assíduo frequentador do anedotário
nacional. Assim como o bêbado, o português, o papagaio, o judeu e outros
personagens mais, quando a sociedade brasileira estava mais preocupada com o
riso do que com a sofreguidão do "politicamente correto". Tempos
bons, aqueles, em que se podia contar uma piada, sem primeiro olhar para os
lados e assegurar-se de que a gracinha não resultaria num processo por danos
morais!
É desse tempo, pois, que vem aquela
história em que estavam os internos de um asilo, num dos corredores da
instituição, disputando, entre si, quem conseguiria colocar o pé na posição
mais alta da parede ao fundo. Cada um deles, por vez, tomava carreira e dava um
salto, para deixar na parede já bastante suja, a marca do seu pé. E assim se
divertiam e matavam o tempo, quando chegou uma das internas e perguntou o que
estavam fazendo.
Explicaram o que era aquela
competição e ela disse que queria brincar também. Disseram que era uma
brincadeira só para os homens, mas como ela começou a se alterar, dizendo que
queria, porque queria, participar daquilo, um dos mais "centrados"
convenceu os outros de que o melhor seria deixá-la tentar logo. Certamente teria
um péssimo resultado e cairia fora da brincadeira. Assim, abriram o espaço para
que a insistente fizesse a sua tentativa.
Só que, contrariando a expectativa
geral, a maluquinha tomou distância, fez carreira e... Marcou sua pegada acima
das de todos os homens participantes daquele jogo. Ficaram todos espantados com
isso e um dos doidos disse ao outro:
— Você viu, cara, a altura onde ela conseguiu
colocar o pé?
Mas o outro, sem mostrar grande
surpresa e amesquinhando o feito da interna, fez pouco da situação:
— Vi, sim! Mas você viu, também, o
tamanho da "dobradiça" que ela tem?!
Para tudo há uma boa explicação. E,
sendo assim, realmente, não foi vantagem nenhuma...
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