Crônica da semana: FRONTEIRAS DA IMBECILIDADE
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Wagner Fontenelle Pessôa
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Consta que Albert Einstein, o autor da
"teoria da relatividade" teria dito, certa vez: "só há duas coisas
verdadeiramente infinitas; o universo e a imbecilidade humana". Ou seja,
quando supomos já haver alcançado os limites de um ou de outra, descobrimos que
ainda há muito mais para ser descoberto ou percebido, nesses espaços sem
fronteiras.
Pode
ser que o exponencial físico nunca haja, realmente, pronunciado essa sentença.
Mas, genial como era, não surpreenderia se a houvesse dito. Pois, por um lado,
conseguiu demonstrar à comunidade científica a infinitude do universo. Enquanto,
por outro, parece evidente demais que a imbecilidade de certas pessoas é um
filão inesgotável.
O
Brasil é um país que nos dá a oportunidade de confirmar este fato, a cada dia
ou quase todos os dias. Inclusive, a cada novo período de carnaval, quando
somos levados a redobrar a nossa certeza de que os imbecís de todo gênero são
uma espécie em processo de franca multiplicação.
Já
houve o momento em que uma parcela da mídia, representantes de diversas
congregações religiosas, a Liga das Escolas de Samba e o próprio órgão oficial
de turismo do Rio de Janeiro se dedicaram, por dias e semanas, a discutir a
possibilidade ou não de
que as mulheres da Marquês de Sapucaí mostrassem a sua
genitália desnuda durante o desfile de carnaval. E acabaram optando por um tal
de "tapa-sexo", que mais mostra do que esconde, aquilo que uns não
querem esconder e outros apenas fingem que não querem ver.
Noutro
ano, a imprensa e os "paparazzi" (aqueles fotógrafos que vivem
procurando flagrar um momento na intimidade dos famosos) consumiram horas a fio
de conversa mole, em torno de um lance ocorrido no Sambódromo, quando o então presidente
Itamar Franco encantou-se por uma modelo de segunda categoria — uma tal de
Lilian Ramos — e a convidou para ir ao camarote presidencial.
A
criatura, por evidente, aceitou o convite. Mas, saindo da chamada área da dispersão,
após o desfile da sua Escola, vestiu uma saia curta e esqueceu-se de cobrir
suas intimidades com aquela peça íntima essencial, pelo menos, para quem vai se
apresentar em público diante do chefe do Poder Executivo. Então, foi aquele
show à parte, para fotógrafos e repórteres, com o mineiro presidente de mãos
dadas com a modelo. Estando ela, como esclarecido, com as "Alterosas"
inteiramente à mostra.
Meninos,
eu vi! E isso rendeu conversa na mídia para mais de um semestre. Mas, aqui
entre nós, não é muita falta de assunto? Pois neste ano de 2017 o assunto e
evidência da imbecilidade que grassa, em torno do tema carnaval, são de outra
natureza: a censura a uma série de músicas do tradicional repertório carnavalesco.
Umas, de gosto discutível, reconheçamos. E outras, que são verdadeiros
clássicos do cancioneiro popular, nesses tempos de folia.
O
problema, porém, não se localiza na questão do veto a essas músicas, embora
devamos considerar que, se voltarmos aos tempos da censura, o repertório do
"funk" — e de outros ritmos de natureza semelhante — estarão correndo
sérios riscos, pelo chulo que há em grande número de suas letras. O que
evidencia a imbecilidade que há nisto, são as motivações dessa "censura
branca", que é causada, exclusivamente pelo patrulhamento que se instalou
no Brasil, quando o tema é a diversidade sexual, a etnia e o direito das
minorias. É quando tudo se transforma em homofobia, racismo e discriminação.
Só
para evidenciar o argumento, vamos a alguns exemplos. "A cabeleira do
Zezé" (de João Roberto Kelly), que é do inicio da década de 1960, na
verdade, foi motivada pela moda dos cabelos longos, que grande parte daquela
geração começou a usar, por influência, sobretudo dos Beatles e de outros
conjuntos musicais daqueles tempos. Não tem nada a ver com a opção sexual de
ninguém! Mas aí aparecem os "patrulheiros" dos pensamentos, palavras
e obras alheias, para sugerir que a música tem um conteúdo homofóbico.
Do
mesmo modo, "O teu cabelo não nega" (do Lamartine Babo), que é quase
um patrimônio musical a ser tombado, de repente, passou a ser interpretado como
de conteúdo racista. Mas logo o Lalá, que louvava as mulatas em suas melodias e
que conclui a letra dizendo "mulata eu quero o teu amor"? Que raio de
racismo é esse?!
Fico,
apenas, com essas duas, porque, de outro jeito, esta crônica acabaria se
transformando num ensaio, o que não é o meu propósito. De qualquer jeito, quero
encerrar estas linhas, lembrando uma frase célebre do não menos célebre
dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues: "Os idiotas vão tomar conta do
mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade".
E
reafirmo o meu entendimento de que a sociedade brasileira está dando uma
robusta contribuição para alargar aquelas infinitas fronteiras da imbecilidade,
às quais se referiu Albert Einstein, citado ao início desta conversa.
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