E a casa desmoronou de vez no Rio de Janeiro
RIO
- O Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) é alvo de nova etapa da Operação da
Polícia Federal no Rio. A delação premiada do ex-presidente do órgão Jonas
Lopes de Carvalho Filho levou à ação contra cinco conselheiros em pelo menos
dois esquemas de arrecadação de propina para fazer vista grossa para
irregularidades praticadas por empreiteiras e empresas de ônibus que operam no
estado. São alvos de prisão preventiva os conselheiros Aloysio Neves (atual
presidente); Domingos Brazão, José Gomes Graciosa, Marco Antônio Alencar e José
Maurício Nolasco. Já o presidente da Alerj, Jorge Picciani (PMDB), é alvo de
condução coercitiva. A força-tarefa batizou a operação de "O Quinto do
Ouro".
A
força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) e 150 agentes da Polícia
Federal cumprem, desde as 6 horas desta quarta-feira, 43 mandados, a maioria
deles na cidade do Rio, em Duque de Caxias e São João do Meriti. Por se tratar
de uma investigação que tem como alvos membros de um Tribunal de Contas
Estadual, os trabalhos correm sob a Presidência de um Ministro do STJ no curso
de um Inquérito Judicial.
A
operação de hoje tem como principal suporte, além da delação do ex-presidente
do TCE Jonas Lopes de Carvalho Filho, a de seu filho, o advogado Jonas Lopes de Carvalho
Neto, homologadas recentemente pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça,
Félix Fischer.
Além
das acusações de terem recebido 1% de propina sobre o valor dos contratos de
obras para não incomodar as empreiteiras - reveladas pelo GLOBO no âmbito da
Operação Calicute - durante o governo de Sérgio Cabral (2007-2014), os
conselheiros são investigados também por obterem vantagens indevidas a partir
do controle do saldo excedente não utilizado pelos usuários dos bilhetes
eletrônicos do RioCard.
Apontado
como o coordenador da caixinha das empreiteiras, Jonas decidiu colaborar com as
autoridades após ser levado, sob condução coercitiva, para depor em dezembro do
ano passado na Polícia Federal do Rio. A mesma operação, batizada de
Descontrole, também conduziu o filho de Jonas e o operador de mercado
financeiro Jorge Luiz Mendes Pereira da Silva, o Doda, suspeito de ser o
coletor da propina. A delação de Jonas compromete cinco conselheiros: Aloysio
Neves (atual presidente); Domingos Brazão, José Gomes Graciosa, Marco Antônio
Alencar e José Maurício Nolasco.
ESQUEMA
COMEÇOU NA GESTÃO CABRAL
A
primeira notícia de que o TCE estava envolvido no esquema de pagamento de
propina comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral foi publicada pelo GLOBO em
22 de junho do ano passado. Clóvis Renato Numa Peixoto Primo, ex-dirigente da
Andrade Gutierrez e colaborador da Justiça, revelou ao Ministério Público
Federal (MPF) que, além da propina de 5% do valor dos contratos pagos a Cabral,
havia também uma caixinha do TCE, no valor de 1% dos contratos, acertada com o
então secretário estadual de Governo, Wilson Carlos.
Clóvis
Numa era colaborador da operação Radioatividade, que investigava corrupção nas
obras da usina nuclear de Angra 3. No primeiro depoimento, ele citou que a caixinha
começou na gestão do então presidente José Maurício Nolasco. Depois, em novo
depoimento, disse que não tinha certeza de quem presidia o tribunal quando o
esquema teve início.
O
esquema de corrupção no TCE começou entre 2009 e 2010, segundo a delação de
executivos, quando o governo Cabral transformou o Rio em canteiro de obras com
vistas à Copa do Mundo (2014) e aos Jogos Olímpicos do ano passado. Além dos 5%
para Cabral e 1% para o TCE, delatores da Andrade Gutierrez e, posteriormente,
da Carioca Engenharia mencionaram mais 1% para o então secretário estadual de
Obras, Hudson Braga, a título de "taxa de oxigênio". Desde novembro
do ano passado, Cabral, Wilson e Hudson estão presos.
A
colaboração de outro executivo da Andrade, Alberto Quintaes, e mais as
investigações da Operação Calicute, responsável pela prisão dos três,
reforçaram as acusações contra os envolvidos no esquema.
O
QUINTO DO OURO
O
nome da operação é uma referência à figura histórica do “Quinto da Coroa”, um
imposto correspondente a 20% que a Coroa Portuguesa cobrava dos mineradores de
Ouro no período do Brasil Colônia. Uma das mais conhecidas formas de
recolhimento ocorria mediante a obtenção de “certificados de recolhimento"
pelas casas de fundição. Apesar do rigor na criação de urna estrutura
administrativa e fiscal, visando sobretudo a cobrança dos quintos, o imposto
era desviado. Afonso Sardinha, o moço, em seu documento (1604) declarou que
guardava o ouro em pó em vasos de barro. Outro uso comum era o de imagens
sacras ocas para esconder o ouro (daí a expressão "santo do pau oco”). Fonte:
O Globo
Nenhum comentário
Postar um comentário