Crônica da semana/ NA PIA BATISMAL DAS OPERAÇÕES POLICIAIS
Wagner Fontenelle Pessôa
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As
operações policiais, sobretudo aquelas cujo foco está no desbaratamento de
quadrilhas e esquemas criminosos que envolvem a corrupção, a lavagem de
dinheiro e o desvio dos recursos públicos, sempre contaram com o entusiasmo e o
apoio da sociedade.
De
alguns anos para cá, no entanto, esse tipo de investigação — que mobiliza as
polícias federal e estaduais, assim como os membros Ministério Público, para
desaguar no Poder Judiciário — ganhou um especial apoio dos nossos cidadãos e passou
a ter um destaque singular no noticiário de todos os dias. Por vir ao encontro
de uma antiga expectativa das pessoas de bem, de que os criminosos, em
particular os do colarinho branco, sejam exemplarmente punidos pelos crimes que
cometem contra este país.
Nesse contexto, porém, um aspecto
que se destaca são os nomes com que essas operações são batizadas, que em nada
alteram a importância e o resultado delas, mas integram o marketing que os
investigadores pretendem fazer do seu trabalho. Alguns, absolutamente forçados;
outros de difícil pronúncia (pelo menos, quando começam a aparecer na mídia);
mas todos — absolutamente todos — com um propósito publicitário.
Dentre os mais curiosos, poderia ser
citada, por exemplo, a “Operação Timóteo”. Provavelmente, numa referência à
passagem em que o personagem bíblico diz: “Os que querem ficar ricos caem em
tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos”. É uma
referência indireta a um dos seus investigados: o conhecido Pastor Silas
Malafaia, um daqueles que pensa que Deus é surdo.
Outro
caso é o da “Operação Barba Negra”, que desarticulou uma organização
especializada em crimes de pirataria, em prejuízo dos direitos autorais de
muitos, porque um dos mais célebres piratas da História foi, justamente, o
capitão Barba Negra. Também houve a “Operação Salve Jorge”, que investigou um
esquema de tráfico humano em 2016, numa menção a uma novela da tevê Globo, que
abordava esse tema.
E assim como essas, vão as operações
das polícias sendo batizadas por designativos — a maioria dos quais é
absolutamente obscura para a compreensão comum — que só se tornam
compreensíveis para o público após ser a motivação desses nomes esclarecida pela
imprensa: Operação Pixuleco, Operação Pinóquio, Operação Hidra de Lerna,
Operação Arquivo X... E dezenas de outras mais.
Não será com o propósito de manter o
sigilo sobre essas investigações que lhes são dados tais nomes esquisitos.
Porque, sendo por isso, cada uma delas deveria receber um simples número de
código. E assim, despertariam muito menor atenção para aquilo que estão
investigando. Na verdade (e como já mencionado) a criação e divulgação desses
nomes faz parte do charme e do marketing que os “arapongas” querem imprimir ao
seu trabalho, perante o público e a mídia.
Pois se é por este motivo, quero
deixar aqui algumas sugestões, que podem ser aproveitadas em futuras operações
policiais, ao mesmo tempo em que os investigadores prestariam uma justa e
merecida homenagem à nossa música e aos nossos compositores, que não perdem
nada em criatividade, para as polícias ou para os membros do Ministério Público
do Brasil:
Investigação sobre amantes de
políticos (como a do Renan Calheiros e a do Lula), mantidas com recursos do
contribuinte – “Matriz e Filial”. Investigação de crimes praticados por grupos
homofóbicos – “Olha a Cabeleira do Zezé”. Investigação do crime de sonegação,
pela indústria de bebidas – “As águas vão rolar”. Investigação contra casos de
corrupção passiva de servidores públicos – “Me dá um dinheiro aí”. Investigação
de crimes ou ações de grupos racistas – “O teu cabelo não nega”.
São apenas sugestões, mas que nada
ficam a dever aos nomes que já são dados a esses procedimentos na pia batismal
das operações policiais, com as quais nos defrontamos a cada dia. Pelo menos,
cairão mais rapidamente no entendimento e na memória da população. Afinal de
contas, neste nosso país, tudo sempre acaba em feriadão ou carnaval...
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