Crônica da semana- O MÉTODO OTAVIANO DE NATAÇÃO
No
tempo da minha “infantilidade”, como diria o Vicente Matheus — um ex-presidente
do Corinthians, que se notabilizou pela sua ignorância e pelas bobagens que
dizia — não havia esse negócio de matricular as crianças em aulas de natação,
para que aprendessem a nadar em diversos estilos, no espaço de uma piscina.
Naquela época, para dizer a verdade, a maioria das cidades brasileiras de médio
para pequeno porte, sequer possuía uma piscina acessível ao público, em
colégios ou clubes sociais.
Em
Cachoeiro de Itapemirim, por exemplo, até o início da década de 1960, só havia
dois clubes: o “Caçadores” (Caçadores Carnavalescos Clube) e o “Ita”, sendo o
primeiro deles o preferido pela elite da sociedade cachoeirense. Mas nenhum dos
dois possuía uma piscina em sua sede, porque as atividades de ambos se
limitavam, mesmo, às festas, aos bailes e outros eventos de salão, como
desfiles de moda e a apresentação eventual de algum artista, grupo ou
orquestra, vindos de fora. Somente depois é que se instalou por ali o “Jaraguá
Tênis Clube”. E, salvo engano, foi este o primeiro a ter uma piscina em sua
sede.
Como
é possível perceber, naquele tempo distante, os clubes das cidades do interior se
preocupavam mais com a convivência entre as pessoas do que com a formação de
atletas, para que a cidade, o estado ou o país brilhassem no cenário esportivo
do Brasil e do mundo. Sobretudo, quando se tratasse de modalidades que, para a
sua prática, exigissem instalações ou equipamentos específicos. Como a natação,
por exemplo.
Dançava-se
muito, mas nadava-se pouco, porque não havia piscinas disponíveis para isto. E,
com raras exceções, a maioria das crianças aprendia a nadar mesmo era nos
remansos do rio Itapemirim ou nas águas do mar de Marataízes, durante as
temporadas de verão.
Janeiro
e fevereiro eram dois meses de puro “dolce far niente”, no intervalo entre o
ano letivo findo e o que ainda iria começar. Era quando nós — absolutamente
ignorantes de um negócio chamado “melanoma” (ou câncer de pele) — ficávamos
“tostando” ao sol, de domingo a domingo, das 8 horas da manhã até mais de
meio-dia. Porque o bonito era voltar da temporada de praia totalmente bronzeado
para o recomeço das aulas.
Aprender
a nadar, como dito, era um exercício de pura intuição, à custa de beber
bastante água salgada ou doce, dependendo de onde era feito o aprendizado. As crianças
mais experientes ajudavam os que ainda estavam por aprender, naquela velha e
sempre boa técnica da tentativa/erro/tentativa. A gente afundava por vezes sem
fim, retornando à superfície depois de “caldos” monumentais, com os olhos
arregalados, mas ainda dispostos a continuar tentando. Até pegar o jeito certo
de nadar, que, na maioria dos casos, não era de peito, nem de costas ou no estilo
borboleta: era à moda “cachorrinho” mesmo!
Enquanto
isso, os pais e mães conversavam na areia, pegando sol ou à sombra de uma
barraca e sem demonstrar a mínima preocupação com o fato de que a meninada
poderia estar bebendo mais água do que seria conveniente. No máximo, algum
deles dizia, de vez em quando:
— Não vai muito fundo aí,
menino!
Ora,
bolas, “fundo” era qualquer coisa que passasse da altura do pescoço do moleque!
Mas ninguém se levantava da barraca ou ia até onde estavam as crianças, para
conferir... Mesmo assim, estranhamente, quase não se ouvia falar em casos de
afogamento. Talvez, porque Deus nos protegesse; talvez porque o mar fosse menos
impiedoso naqueles tempos do que parece ser agora.
Mas
isso não é nada, se comparado ao método pelo qual a minha sogra aprendeu a
nadar sob a orientação do pai dela, Seu Otaviano, que viria a ser o bisavô dos
meus filhos.
Eles
moravam na roça e por perto havia um rio. A menina tinha uns cinco para seis
anos, quando certo dia, indo tomar um banho com o pai e as irmãs, num remanso
que ficava próximo, ela disse que queria aprender a nadar.
O
pai não se fez de rogado: segurou a pequena Ruth por um braço, rodou com ela e
a jogou dentro d’água. Ela começou a bater os bracinhos e aprendeu, instantaneamente
e por instinto de sobrevivência, uma técnica nova de como fazer aquilo. Estava
inaugurado, desse modo, o “Método Otaviano de Natação”.
Mas,
pense num sujeito bruto e ignorante!
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