TCE investiga 84 políticos por gastos suspeitos
Rio - Uma farra com dinheiro público em nome do conhecimento sobre
leis, projetos e administração do Parlamento envolve 48 das 91 câmaras de
vereadores fiscalizadas pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). São passagens
aéreas, cursos suspeitos de serem fajutos, hospedagens em hotéis de luxo e
falta de documentos para comprovar os gastos e critérios de escolha dos
pacotes. Com base em processos em tramitação na Corte do período auditado de
2010 a 2014, O DIA levantou
que há R$ 33 milhões sob investigação. Segundo cálculos do TCE, casos alvos de
auditorias envolvendo R$ 18,7 milhões já foram levados às sessões plenárias,
pelo menos uma vez, para avaliação dos conselheiros.
O município recordista em 'milhagens' para parlamentares e servidores
estudarem é Mangaratiba. Em quatro anos foram investidos R$ 10,8 milhões. Um
dos casos que mais chama atenção dos auditores é o do servidor Lins Cesar Dias.
Em diárias e cursos, ele recebeu R$ 625.518.24, valor atualizado em 2015. O que
segundo projeção do corpo instrutivo do TCE, daria para bancar dez cursos de
mestrados em Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas, cada vaga
avaliada em R$ 57.624, em 2016.
"Algumas pendências estão sendo informadas ao tribunal. Mas acho o
aprimoramento importante. Os vereadores eleitos são pescadores, pessoas que
trabalham em obra, vendedores que não entendem de Lei. Na minha gestão, estamos
fazendo licitação com 50 empresas para contratar cursos", afirmou Vitor
Tenório Santos, do PDT, atual presidente da Câmara de Vereadores de
Mangaratiba, que não era o gestor da Casa durante o período auditado.
O pente-fino sobre as irregularidades que tragam os recursos dos
municípios começou em 2014 depois que a coluna Informe do DIA denunciou as viagens dos vereadores de
São João de Meriti, um dos municípios mais pobres da Baixada Fluminense. Uma
espécie de excursão para Foz do Iguaçu, no Paraná, pela bagatela de R$ 97 mil.
A partir daí, o tribunal anunciou inspeções extraordinárias em todas as câmaras
do estado.
O resultado da análise dos R$ 2,2 milhões em aprimoramento por São João
de Meriti são irregularidades, como passeios turísticos, em cursos de
capacitação em João Pessoa (Paraíba); Balneário de Camburiú (Santa Catarina);
Fortaleza (Ceará); Porto Seguro (Bahia) e Natal (Rio Grande do Norte). Em
março, o TCE decidiu que o ex-presidente Antônio Carlos Cardoso Corrêa, de 2010
a 2012, tem que recolher ao erário R$ 699.802,87 e pagar também multa de R$
9.599,70, e o ex-presidente Joel Rodrigues Sobrinho, entre 2013 e 2014,
devolver R$ 358.344,56 e ser multado ainda em R$ 9.599,70. Procurados, eles,
que não se reelegeram, não foram localizados.
Atual presidente da Câmara de São João de Meriti, Davi Perini Vermelho,
do DEM, alegou que não foi notificado sobre a decisão. No segundo mandato, ele
disse que lembra, sem detalhes, de uma viagem à Paraíba. "Não vi
irregularidade. Participei de dois ou três congressos e recebemos o diploma. Um
vereador pede para ir a Brasília para conseguir emenda, verba para o município,
tenho que aprovar", justificou. Segundo ele, na sua gestão, a partir de
janeiro, autorizou viagens que não ultrapassam a R$ 50 mil. "Agora, todo
mundo quer bater em político. Um vereador recebe R$ 12 mil, de salário bruto,
mas líquido são só R$ 8 mil", protestou.
Em dois lugares ao mesmo tempo
A auditoria do TCE identificou que vereadores dos municípios podem ser
considerados, no mínimo, 'ninjas', daqueles com capacidade para estar em dois
locais ao mesmo tempo. Em Mangaratiba, os auditores encontraram 29 vezes casos
que vereadores receberam a diária das viagens para participação em cursos e
congressos, mas assinaram presença nas sessões. Eles receberam valores que
somados chegam a R$ 290.359,87.
Em 2010, o vereador Edison Ramos, do PMDB, ganhou seis diárias para
participar do XI Seminário Interestadual de Agentes Públicos, em Fortaleza,
Ceará, entre os dias 1 e 6 de março daquele ano, mas ele também consta na lista
de presença da sessão plenária do dia 1. Procurado na Câmara de Vereadores,
mais de uma vez, a reportagem foi informada de que ele não estava em seu
gabinete. Outros nove vereadores 'ninjas' foram identificados em Petrópolis
quando deveriam estar em cursos em Belo Horizonte (Minas Gerais), Vitória,
(Espírito Santo), João Pessoas (Paraíba) e Brasília. O que leva muitos
auditores a defenderem que as viagens são complemento salarial irregular.
Fonte: O dia.
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