Caos: Estiagem já gerou 50% de perda na agricultura e compromete a safra 2018


“Hoje a gente vive não o estado de emergência, mais de calamidade pública. A gente escuta muita bobagem por falta de conhecimento técnico. É preciso andar na lavoura, no campo, correr os pastos. Animais estão morrendo e outros estão sendo vendidos para não morrer no campo”. A afirmação é do presidente do Sindicato da Indústria Sucroenergética do Estado do Rio de Janeiro e da Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro (Siserj), Frederico Paes. Segundo ele, as culturas brancas como banana, abacaxi, feijão e mandioca estão sendo disseminadas.
Para a próxima safra, a lavoura de cana de açúcar já perdeu 50% por causa da falta de chuva. A produção será suficiente apenas para colocar uma das três usinas em operação. Frederico afirma que a agricultura está à beira do caos.
“Precisa chover muito para manter esses 50% (perda já existente). Não há como qualificar o que está acontecendo com o campo. Tem que andar no campo, conversar com o produtor para ver o que está acontecendo”, afirma o presidente, informando que 2018 é um ano preocupante para o produtor que sai de casa de manhã e volta sem ver a chuva.
O presidente destaca, ainda, que “as lagoas secaram, sem nenhum tipo de drenagem. Em 2014 tivemos a pior estiagem dos últimos 100 anos, mas naquela época os lençóis estavam razoáveis por causa dos anos anteriores. Agora não tivemos chuva suficiente em 2015 e 2016, por isso o estrago pode ser maior”.
Técnicos, Sindicatos, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), Associação dos Produtores de Cana, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro) defendem que o município decrete situação de emergência.
“Não resolve a situação de falta de chuva, mais anemiza a situação futura do produtor. Por exemplo, acesso a financiamento para recompor as lavouras, montar projetos de irrigação e outros fatores que podem ajudar ao produtor através do governo federal. Campos não é um oásis, todos os municípios vizinhos decretaram. Estamos no deserto. Esperamos que o prefeito Rafael Diniz respeite a situação técnica”, explicou Frederico.
MUDANÇA CLIMÁTICA
Especialistas afirmam que o clima na região mudou.  Eles dizem que depois de quatro anos sem chuva, o clima na região é semelhante ao semiárido. Depois da grande seca de 2014 — a maior seca do século com apenas 500 milímetros de chuva — o índice assemelha ao agreste nordestino. “É impossível fazer agricultura e pecuária com essa precipitação”, disse Paes.
Tito Inojosa, presidente da Associação dos Produtores de Cana (Asflucan), afirma: "Estamos sem apoio. No ano de 2018 teremos quebra na produção, por isso entendemos que o decreto de emergência vai amenizar a situação do produtor que já perdeu metade da produção”, disse.
De acordo com Inojosa, a Asflucan tem tentado amenizar a situação. “Estamos com parceiros e na semana que vem serão instaladas bombas flutuantes nos canais de Coqueiros e Cambayba e assim vamos conseguir levar água para baixada. A ação não resolve mais ameniza porque aumento o lençol freático”, acrescentou.
Segundo o relatório “Efeitos do clima sobre a produtividade da cana-de-açúcar”, que teve como base dados do Posto Climatológico do Campus da UFRRJ e elaborado pelo diretor do Campus, Jair Felipe Garcia Pereira Ramalho, verifica-se que as chuvas do ciclo 2016-2017 não foram suficientes para atender a demanda da cultura, constatando-se, até o final de maio, déficits de 1193,9 mm para o ciclo das lavouras plantadas no início de 2016 (cana-planta) e déficits de 816,9 mm e 806,94 mm para os ciclos das socas colhidas em junho e setembro de 2016, respectivamente.
SAFRA 2017
As três usinas de cana-de-açúcar (Coagro, Paraíso e Canabrava), moeram juntas nesta safra 1 milhão de toneladas de cana, gerando 3 mil novos postos de trabalho. A Coagro produziu 560 mil sacos de açúcar e 25 milhões de litros de álcool.
“Um prejuízo enorme para os produtores. Em percentuais levantamentos pelo Sindicato da Indústria Sucroenergética é que o faturamento será na ordem de 40 a 50% menor do que no ano passado”, disse o presidente do Siserj, Frederico Paes.
Alguns fatores são apontados para a redução. “Os preços dos produtos da cana estão baixos, principalmente o açúcar. Todos os órgãos de consultoria indicavam um ano razoável para o açúcar, mais o mercado internacional deu um descontrole total e o produto caiu abaixo do custo de produção. Então, a usina não pode fazer só álcool, têm que fazer os dois produtos, nos trabalhamos abaixo do custo de produção”, afirmou Paes.
Segundo o Frederico, a lei 5990/2011 prevê o final das queimadas de forma gradativa por isso cada usina tem que atender a legislação. A Coagro, por exemplo, tem nove colhedeiras próprias que foram usadas pelos cooperados nesta safra.
DECRETO DE EMERGÊNCIA
O coordenador de Defesa Civil de Campos, Geremias Nogueira Neto, informa que, para decretar Situação de Emergência, é necessário atender a Instrução Normativa nº 02, de 20 de dezembro de 2016, do Ministério da Integração Nacional. Nela, são estabelecidos procedimentos e critérios que norteiam municípios, estados e a União na avaliação dos dados coletados pelos órgãos envolvidos.
O superintendente de Agricultura e Pecuária, Nildo Cardoso, explica, também, que não se pode entrar com um pedido de situação de Emergência de forma abrupta, principalmente pelo fato de que é necessário levantamento constante e detalhado das consequências da estiagem na cidade, levando em consideração sua dimensão territorial e número de habitantes. É necessária interação com as entidades do setor e com os órgãos competentes envolvidos para monitoramento da situação e avaliação dos procedimentos que já estão sendo adotados, como as intervenções de máquinas nos canais da Baixada, que tem o objetivo de aliviar os efeitos da estiagem para os produtores rurais.
O abastecimento de água potável se encontra regular e, pontualmente, onde há a necessidade de abastecimento (em localidades não atendidas pela concessionária Águas do Paraíba, por exemplo), a Empresa Municipal de Habitação atende com carros pipa.
Em Campos, o monitoramento continua sendo realizado de forma constante e, e até o momento, os resultados do levantamento não alcançaram os parâmetros estabelecidos pela instrução normativa nº 02, segundo parecer técnico, que é o instrumento legal, baseado na instrução normativa do Ministério da Integração Nacional. Em contrapartida, todas as medidas que se fazem necessárias para minimizar os efeitos da estiagem estão sendo realizadas pelos órgãos municipais.
Criado conselho para minimizar efeitos da estiagem
Na última sexta-feira (10/11) os secretários estaduais da Casa Civil, Christino Áureo, da Agricultura, Jair Bittencourt, e da Defesa Civil, Cel.Roberto Robadey,  se reuniram na prefeitura de Santo Antônio de Pádua, com prefeitos, vereadores, secretários de Agricultura, Defesa Civil e Ambiente dos municípios do Norte e Noroeste fluminense, para a implantação do Conselho Regional de Mitigação dos Efeitos da Estiagem.
O objetivo foi apresentar propostas e ações para minimizar os problemas crônicos e crescentes causados pela seca que atinge aquelas Regiões. 16 municípios do Norte e Noroeste fluminense já decretaram Estado de Emergência, 13 deles já estão com a decisão homologada pelo Estado. Desses, 11 já tiveram também o reconhecimento da situação de emergência pelo governo federal.
“É um chamamento à mobilização de várias instâncias públicas e privadas para uma situação que vem se agravando ao longo dos anos. As mudanças climáticas são questões mundiais, mas através do Conselho pretendemos sensibilizar o governo federal e outras instituições como a Câmara Federal para apoiar com recursos e intensificar as ações para a mitigação de seus efeitos – frisou Christino Áureo.
Fonte Redação/Ascom


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