Aos 14 anos, adolescente já matou cinco pessoas

Na primeira vez que André (nome fictício) pegou em uma arma, ele tinha 12 anos. Aos 14 anos, o adolescente tem um “currículo criminal” com a acusação de cinco assassinatos e nenhuma certeza sobre o próprio futuro. “É normal matar. É apenas apertar o gatilho. Numa guerra, onde é derramado sangue, não há fim e não tem como voltar atrás”, afirmou o garoto, que confessou à polícia ter executado as cinco pessoas a tiros.
André foi apreendido durante uma operação da Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra. Ele possuía três mandados de busca e apreensão pelas mortes. “Ele confessou todos os assassinatos e ainda deu detalhes. Falou com frieza de cada um deles, como se fosse algo que faz parte da rotina dele”, contou o delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da DCCV de Serra.
São crimes que possuem ligação com a guerra entre gangues que disputam o tráfico de drogas em um dos bairros do município.
Infelizmente, o dia a dia tem mostrado à polícia que cada vez mais garotos integram facções criminosas. “Adolescentes são recrutados pelo tráfico cada vez mais novos. A certeza de que terão uma punição mais branda para os menores de idade é o que faz com que eles sejam aliciados pelos traficantes para matar”, relata o delegado Sandi Mori.
Porém, a preocupação do delegado com a situação vai além. “Quando há participação de adultos no mesmo crime, os menores são orientados pelos traficantes a assumirem a responsabilidade sozinhos.”
ARMAS
Dono de frases curtas, André fala abertamente sobre os crimes: “A primeira pessoa que eu matei foi com um ‘três oitão’ (revólver calibre 38). Mas já usei uma escopeta calibre 12, o estrago é maior.”
Longe da sala de aula há mais de um ano, o garoto diz que entrou para o tráfico de drogas pelo dinheiro. “Dependendo do dia recebia até R$ 500 pra tomar conta da boca de fumo, de 19h às 7h”, comentou o garoto, que gastava o valor com aluguel, armas e festas.
Para o delegado, é preciso evitar que adolescentes sejam “adotados” pelo tráfico. “É um trabalho que compreende diversos ramos do poder público, como ensino, atividades de lazer e profissionalizante que ocupem o dia a dia desses jovens, evitando que seja aberto espaço para o tráfico intervir”, observou.
"É DURO E CRUEL PERDER UM FILHO PARA O CRIME", DIZ PAI
A expressão de tristeza se misturava com as lágrimas de um comerciante de 38 anos, pai de André. Foi ele quem acompanhou o depoimento do filho e ficou ao lado dele durante todo o tempo em que o adolescente permaneceu na delegacia prestando depoimento.
“É doloroso vir parar em uma delegacia. Nunca me envolvi com nada errado, nunca bebi ou fumei. Eu sei que ‘do outro lado’ tem dinheiro, influência e amizades para o crime. Mas se fossem amigos de verdade, eles que estariam aqui na delegacia”, desabafou o pai do adolescente.
A mãe, angustiada, aguardou em silêncio na recepção da delegacia, até que pudesse ver o filho antes dele ir para a unidade de internação.
Para o pai, a tristeza da apreensão se mistura à preocupação de quando André ganhar a liberdade novamente. “Eu esperava que ele fosse melhor do que eu fui. É duro e cruel para um pai perder um filho para crime aos 14 anos. Eu fui agente funerário por anos e carreguei o caixão do filho dos outros, mortos pelo tráfico. Não estou preparado para carregar o caixão do meu filho. Pretendo que ele vá morar fora do Brasil quando sair”, afirmou o comerciante, que ainda tem esperanças de ver o filho livre longe do mundo do tráfico.
COMO MEDO DE SER MORTO, GAROTO MUDOU DE CIDADE
André foi apreendido dentro da casa da mãe, em Vitória, local onde tentou se esconder, não da polícia, mas dos inimigos que o procuravam nas ruas. "Em agosto, ele e o comparsa foram para Nova Carapina e foram alvos de disparos. O amigo do adolescente foi levado para o hospital e morto ao receber alta. O menor de idade também teve que sair da região e foi para Vitória”, explicou o delegado Rodrigo Sandi Mori, titular da Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) da Serra.
Mas, na casa da mãe, o garoto que demonstrava frieza para atirar várias vezes nos seus rivais do tráfico, teve que seguir regras. “Não coloco arma dentro da casa da minha mãe, por respeito a ela. Nem um ‘baseado’ posso ter em mãos lá. Meus pais me deram escolhas, mas eu escolhi essa vida. Tenho um irmão de 5 anos e jamais deixaria ele entrar nessa vida”, afirmou André, que diz ser usuário de maconha.
André foi encaminhado para a Unidade de Internação Provisória, (Unai) onde permanece apreendido para cumprimento de medidas socio-educativas por, no máximo, três anos, como previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Fonte: Gazeta Online.

Nenhum comentário