Crônica da Semana - ENQUANTO O CACETE DESCE NO LOMBO ALHEIO

Wagner Fontenelle Pessôa

Nesse período confuso pelo qual passamos no Brasil, quem estiver atento ao desenrolar dos fatos — e diante da perspectiva de que os maiorais da esquerda acabem “vendo o sol nascer quadrado” — terá percebido que se estabeleceu uma espécie de ciclo, que se repete entre os seus militantes, a cada um que vai preso ou condenado.
            É um ciclo que se desenvolve em três etapas. A primeira, da ameaça, é a do “vamos botar prá quebrar, se o grande líder for condenado ou preso”. A segunda é a do arrefecimento, com a diminuição do ímpeto, é a do “talvez a gente quebre”. E a terceira, do arrego diante do fato consumado, é a do “tomara que não quebrem a gente”. Se o distinto leitor não entendeu, eu explico melhor.
            Quando o PT galgou o governo em nível nacional, levando em seu vácuo outros partidos de esquerda, como o PSOL, o PSB e o PCdoB, por exemplo — o Lula, os “cumpanheiros” que subiram ao poder com ele e a militância desses partidos, começaram a acreditar que aquilo seria para sempre. Porque o seu projeto não era de governo e nem por algum tempo. Era um projeto de poder e, sendo possível, para sempre.
            Quem acompanhou com atenção a forma como as gestões petistas se comportaram desde 2003, com o primeiro mandato do Lula, há de ter percebido que o propósito das esquerdas era implantar no Brasil uma “república bolivariana”. Trocando em miúdos, o “bolivarianismo” (cujo nome se refere a Simón Bolívar) é um movimento de caráter marcadamente nacionalista, que, na América do Sul dos nossos dias, está associado aos regimes socialistas de tendência ditatorial.
            O Lula e seus asseclas nunca esconderam o propósito de transformar o Brasil numa “república bolivariana”, resgatando o velho e derrotado projeto de implantar em nosso país uma “ditadura do proletariado”, que fora desarticulado pelo regime militar de 1964. Só que, para percorrer todo o caminho até a consecução dos seus propósitos, precisariam contar com o apoio de Congresso. Pelo menos, até que o Poder Legislativo estivesse sob o controle absoluto do governo.
            Foi por isto que o PT se aliou ao maior partido brasileiro de aluguel, que é o PMDB. E acabou instalando um dos líderes peemedebistas, na vice-presidência da República. E aí, deu no que deu: a Dilma não segurou o cargo, para o desespero do Lula e a derrocada do seu projeto de poder. Foi aí que começou o jogo das três etapas, sob a ordem dos comandantes do partido: ameaça diante da possibilidade; diminuição do ímpeto, diante da realidade e arrego, diante do fato consumado.
            As manifestações, organizadas pelos partidos de esquerda e pelas entidades que os apoiam, levadas às ruas por grupos patrocinados de militantes — com direito a lanche, camiseta, boné e uns “caraminguás” — foram caindo num ridículo tal, que a guerra virtual contra os que lhe são contrários passou a ser muito mais intensa do que a presença dos “vermelhinhos” nas ruas.
            Ameaçaram o juiz Moro, antes que sentenciasse o Lula e o julgador tacou-lhe um pouco mais do que nove anos no lombo. Ameaçaram os desembargadores que iriam julgar o recurso do ex-presidente no TRF-4 e a 8ª turma do Tribunal aumentou a pena para um pouco mais de 12 anos. Organizaram caravanas para pressionar os magistrados em Porto Alegre e a segurança do evento manteve todo mundo acampado a quilômetros de distância! Falando sério, essa turma não está dando uma dentro!
            Há poucos dias, os “vermelhinhos” fizeram uma nova manifestação, salvo engano, em Curitiba, por conta de mais um processo desses, creio que o do sítio em Atibaia, que está se aproximando do final. A foto era patética: meia dúzia de gatos pingados, envergando suas indefectíveis bandeiras vermelhas (já que a verde e amarelo nada significa para os defensores do “bolivarianismo”).
            Devem ter sido levados, sem exagero, numas três Kombis. Na primeira, os dirigentes da CUT; na segunda, a turma da UNE; na terceira, uns manifestantes arrebanhados num acampamento do MST, aos quais foi feita a distribuição de camisetas, bonés, um pão com mortadela e uns “50 contos”, talvez.
            Enquanto isso, os intelectuais da esquerda vão muito bem, obrigado! Tomando o seu uísque escocês ou o seu champanhe francês e fazendo declarações inflamadas de apoio ao lulopetismo, ao ditador venezuelano e ao regime de Cuba. Porque não há coisa mais cômoda do que teorizar sobre o quanto o socialismo é o melhor para todos, levando uma vida de burguês, enquanto o cacete desce no lombo alheio.

           
           




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