Crônica da semana - A PECULIAR NATUREZA MASCULINA

Wagner Fontenelle Pessôa                                       
Num dia desses, uma das minhas primas, legítima representante da estirpe dos Fontenelle, postou uma espécie de desabafo ou protesto indignado, em seu perfil numa rede social:
            — A pessoa corta 3 (TRÊS!!!) dedos (gordos) no comprimento do cabelo e o namorado nem nota.
            Esta é uma reclamação mais ou menos recorrente entre as mulheres, que parecem não entender como é que um sujeito, com dois olhos na cara, consegue olhar para a sua mulher, namorada ou companheira, sem perceber que elas cortaram um, dois ou três dedos — por mais gordos que sejam! — da sua mais ou menos vasta cabeleira.
            Em situações assim, o ressentimento delas decorre do fato de que (na quase totalidade dos casos) interpretam a desatenção masculina para esses detalhes como puro e simples desinteresse. Em relação a elas ou àquilo que é importante para elas. E se magoam com essas coisas, porque não entendem o motivo pelo qual eles se comportam assim. Mas posso garantir que não é por desatenção! Acontece que o homem é um observador focado; ele não “escaneia” a imagem toda, como as mulheres costumam fazer.
            Diante de uma vitrine, muito frequentemente, se o homem vê um objeto que o agrada ou que ele está procurando, entra na loja e diz ao vendedor:
            — Eu gostaria de ver esse produto aqui.
            E mesmo que o lojista queira mostrar-lhe outras opções, ele agradece, dispensa e insiste na sua escolha por aquele que está na vitrine. Esse comportamento pode ter exceções, mas esta é a regra geral. O homem foca em algo e não se preocupa com as adjacências.
            A mulher, ao contrário, mapeia a vitrine por completo, ainda que não tenha, pelo menos no momento, a menor intenção de comprar coisa alguma. Embora, intimamente, toda mulher sempre tenha a intenção de comprar alguma coisa. É por isso que, toda vez que necessito presentear alguém e não sei muito bem o que seria mais adequado, eu me aconselho com alguma mulher. Geralmente, a resposta vem rápida:
            — Na loja tal, que fica no shopping qual, tem tal coisa, que está custando tanto! Acho que será um bom presente...
            O tiro é na mosca! Quase sempre gasto menos do que gastaria se decidisse por conta própria. E o meu presente parece agradar ao presenteado. Porque as mulheres são assim mesmo! Detalhistas, prestam atenção nas pequenas coisas: tanto nas suas, quanto nas das outras mulheres. Enquanto os homens, ainda que olhem encantados para uma mulher, não costumam perceber, de imediato, se o cabelo delas está um dedo mais curto ou se ela acabou de afinar as sobrancelhas.
            Os estudiosos dizem que isso é o resultado da divisão de tarefas entre homens e mulheres, ainda nos primórdios da humanidade. Às mulheres cabia a tarefa de coletar os frutos e, para isto, elas tinham de escolher os melhores, o que desenvolveu nelas esse instinto de seleção. Olham para tudo, analisando os detalhes, antes de escolherem aquilo que lhes interessa ou não. Do mesmo modo, aliás, como fazem em relação aos homens também!
            Aos homens, por outro lado, cumpria a obrigação de prover o clã com a caça e a pesca. Vindo daí esse condicionamento de focar o olhar no objeto do seu interesse, que é o seu alvo, sem se preocupar se o animal tem o pelo mais comprido ou mais curto! E aí, segundo os antropólogos, essas características teriam permanecido em nós, por atavismo. E em nós ainda permanecem, para o desgosto de tantas mulheres, que não levam a Antropologia em consideração.
            Lembro-me de certa vez em que fui até a casa dos meus filhos, por algum motivo e, ao chegar, fui recebido pela mãe deles, que me fez uma observação e uma recomendação:
            — Mariana cortou o cabelo... Por favor, elogie!
            Assenti com a cabeça, porque a minha filha já vinha chegando também. E, depois de dar um abraço e um beijo nela, eu fiz o elogio, tentando demonstrar naturalidade:
            — Querida, você cortou o cabelo?! Mas ficou lindo, meu amor!
            Ela pôs em mim aquele olhar de incredulidade e respondeu, com um sorriso:
            — Foi mamãe quem te avisou, não foi?

            Eu poderia ter tentado negar. Mas a verdade era tão aparente, que caímos os três na risada. E isso atenuou a minha vontade de esganar a mãe dela, que me fizera pagar aquele tremendo “mico”! Nada mais me restava fazer, afinal. Porque, como estou tentando demonstrar, essa é a peculiar natureza masculina...

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