Crônica da Semana - ESTÔMAGO DE URUBÚ
Há
uma dica interessante para quem viajar por uma estrada que não conhece bem e
precisar fazer uma refeição durante o percurso. Foi a que ouvi, certa vez, de
um motorista profissional: procure sempre parar num local em que há muitos
caminhões estacionados nos horários do almoço ou jantar. Porque é quase certo
que, ali, a comida é gostosa, farta e barata.
Com o passar do tempo acabei
constatando que a dica era boa e a informação, verdadeira. De fato, nesses
restaurantes de beira de estrada em que, no período do almoço, há muitos
caminhoneiros estacionados, pode parar sem susto, porque a comida é gostosa e a
gente não se arrepende!
Eu me habituei a fazer isso nas
oportunidades em que viajo por trechos que não conheço muito bem. E, durante
certo tempo, apliquei o mesmo princípio a um restaurante que ficava numa
estrada, chamada “do Contorno”, que há na cidade onde moro. Na área de um posto
da Petrobrás, localizado à sua margem, havia um restaurante que, noutros
tempos, servia uma comida simplesmente maravilhosa. E me habituei a comer por
ali, de vez em quando.
Além do sistema de “self service” —
muito sortido e bem preparado — ainda atendia aos frequentadores com alguns
pedidos “à la carte”. Com pratos simples, mas sempre saborosos. Às vezes,
chegando de uma viagem ou mesmo estando em casa, num dia de sábado ou domingo,
eu costumava almoçar por lá. Até que, infelizmente, mudou sua administração e o
lugar perdeu a qualidade e boa parte de sua clientela. Mas isto não vem ao caso
agora.
Lembro, porém, que em determinada
ocasião, quando a comida servida naquele restaurante ainda primava pela
qualidade, eu voltava de uma viagem a Macaé, onde fora fazer uma audiência. E
cheguei, justamente, pela hora do almoço, aí entre 12 e 13 horas, quando tive a
ideia de aproveitar a passagem pela “Estrada do Contorno” e almoçar no tal
restaurante. Era um dia de verão, quente e abafado, com o sol a pino, queimando
o quengo dos que, com a cabeça desprotegida, ousassem se expor a ele por muito
tempo.
Entrei, pedi alguma coisa que queria
comer e já estava almoçando, em meio a todos aqueles motoristas de caminhões e
carretas, quando chegou mais um, suando como se tivesse acabado de sair de uma
sauna. Tomou assento numa mesa relativamente próxima da minha, sinalizou para
um dos rapazes que atendia por ali e mandou aquele pedido estrambólico:
— Eu quero um prato de mocotó e uma
vitamina de abacate!
Pense numa coisa descombinada,
calórica e absolutamente inconcebível para um dia escaldante de verão! Ao ouvir
o pedido, olhei para ele com mais atenção, querendo saber se era alguma
brincadeira, mas tudo quanto percebi foi o olhar do rapazinho, que parecia tão
espantado quanto eu. O que me fez entender que o pedido do animal era prá
valer.
Fala sério! Se fosse eu a almoçar
uma mistura explosiva daquelas, para depois sair dirigindo, tenho a mais
absoluta certeza de que haveria de enfiar o caminhão no barranco da primeira
curva que encontrasse pelo caminho, dormindo sobre o volante!
Para
pedir uma refeição dessas, com o sol de meio-dia fritando os miolos de quem
estava aqui embaixo — e ainda sob a perspectiva de sair dirigindo uma carreta
pelas estradas, logo após o almoço — o troglodita devia ter um estômago de
urubu! Naquele tempo não havia esse bordão, mas, se fosse hoje, eu teria
gritado, com certeza: “que tiro é esse, maluco?!”.
O episódio me deu uma pálida ideia
das loucuras que esses caras aprontam por aí. E a certeza de que só pode haver
uma divindade especial, que protege os caminhoneiros!
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