Crônica da Semana - POBRE CORAÇÃO DE ESTUDANTE!
Muitas
vezes eu me espantei, ao viver como professor, situações tão semelhantes a
coisas que me aconteceram ou que vi acontecerem, quando ainda era um aluno que,
por instantes, tive a sensação de que o tempo não havia passado. Os alunos
continuam a ter o mesmo espírito, como se isto fosse uma coisa atávica, transmitida
de geração a geração. Continuam a fazer o que sempre fizeram e a agir como
sempre agiram. Só que, agora, com muito menos embaraço.
Aluno
continua a ser ótimo em inventar apelido para todo mundo, em imitar o jeito e
os cacoetes dos professores e em mentir, sem qualquer constrangimento, para se
desculpar do exercício que não fez ou da pesquisa que não aprontou no prazo
certo.
Copiar um trabalho todinho de um ou mais livros, com a esperança de que o desatento professor fosse dar a nota apenas pela capa e pelo número de páginas, era coisa comum para a minha e para outras gerações de estudantes. E continuam a fazer a mesma coisa... Só que, agora, copiam diretamente da Internet. Ou seja, é a mesma pouca vergonha, com muito mais tecnologia.
Copiar um trabalho todinho de um ou mais livros, com a esperança de que o desatento professor fosse dar a nota apenas pela capa e pelo número de páginas, era coisa comum para a minha e para outras gerações de estudantes. E continuam a fazer a mesma coisa... Só que, agora, copiam diretamente da Internet. Ou seja, é a mesma pouca vergonha, com muito mais tecnologia.
Havia
aquela insuportável mania de copiar a matéria de uma disciplina na aula de
outra. Uma coisa que qualquer professor detestava, mas que ninguém conseguia
impedir os alunos de fazerem. Isso era assim... Porque agora, o que impacienta
e exaspera os docentes são os tais dispositivos móveis na sala de aula, como
tablets e smartphones!
Tem também aquele tipo de aluno que
passa o ano letivo todo querendo levar o professor “no bico”. Falta prá
caramba, faz quase todas as provas em segunda chamada e, no seu dizer, está
sempre enfrentando uns problemas excepcionais, para justificar a sua péssima
frequência e desempenho.
Tive uma aluna que, num único semestre
letivo, separou os pais, sofreu uma ameaça de sequestro — o que a impedia de ir
à aula, segundo a sua justificativa — estava sendo perseguida por um
ex-namorado e o marido da vizinha ainda tentava seduzi-la... É possível
acreditar em tanta desgraça junta?
Quanto à disciplina... Ah, Isto
realmente mudou e mudou muito! Já não há mais tanto rigor e formalismo na
relação dos alunos com a escola e com os professores ou funcionários, como
havia noutros tempos. Melhorou sim! Mas, infelizmente, passou da medida.
Como professor, sei que um estudante
não deve viver acuado por um sistema excessivamente disciplinador. Porém, em
sentido contrário, quando alguém se exceder em sua conduta no ambiente escolar
ou acadêmico, é preciso que haja um regulamento adequado para sancioná-lo. O
que, hoje em dia, parece não estar acontecendo mais, graças a uma série de
conceitos e paradigmas absolutamente idiotas, que a moderna pedagogia e o
Estatuto da Criança e do Adolescente vêm impondo às relações entre a escola, os
professores e os alunos.
Mas, deixando isso de lado, o que posso dizer
é que o passar dos anos não apagou das minhas lembranças a sensação de medo que
nós tínhamos, quando éramos flagrados numa falta disciplinar.
Parecia que o mundo todo iria desabar
na cabeça da gente, porque a possibilidade de chegar com uma suspensão em casa,
era a certeza de que teríamos de enfrentar outros castigos e punições, no plano
familiar. Por isto, qualquer aluno que se prezasse, quando se via diante da
aflitiva possibilidade de ganhar uns dias de “gancho”, tentava apelar para a
comiseração do Chefe de Disciplina.
Só que, via de regra, este (o chefe de
disciplina) era uma besta quadrada, que não tinha comiseração nenhuma e nem
conhecia o significado desta palavra. Pois ainda confirmava a sentença de
morte, para o pobre condenado, com uma expressão de alegria estampada no rosto:
— Vou lhe dar três dias de descanso,
moço!
Era como uma facada no coração. Até o
anjo da guarda sentia a estocada! Era a morte antes da própria execução! Pois
foi numa dessas que um colega meu, em desespero de causa, tentou um último
recurso, dizendo para a cavalgadura que o sentenciava:
— Se o senhor me suspender, eu me jogo da ponte, quando for para casa!
— Se o senhor me suspender, eu me jogo da ponte, quando for para casa!
A ponte, no caso, era a que tínhamos de
atravessar todos os dias, a caminho do Liceu de Cachoeiro de Itapemirim. Mas de
nada adiantou, pois o Chefe de Disciplina não se comoveu com a ameaça e ainda
fez pouco do “pretenso suicida”:
— Pois então, moço, pule do lado
esquerdo da ponte, onde o rio tem mais pedra e você morre mais depressa.
As coisas eram bem diferentes de
hoje... E como padecia, naqueles tempos, um pobre coração de estudante!
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