Lula deixa sindicato a pé em meio a tumulto e se entrega à Polícia Federal
Depois da senadora e presidente do PT, Gleise Hoffman, avisar aos
militantes de que a Polícia Federal deu um ultimato para que o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se entregasse, o petista resolveu sair a pé, por
volta das 18h45, do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC pela rua depois de ser
impedido pelos próprios militantes quando estava em um carro. Lula entrou em um
carro descaracterizado da PF e já está sob custódia da instituição.
Por volta das 18h, Gleisi Hoffmann disse em discurso aos militantes que
a PF havia dado “meia hora” para que resolvessem o impasse: “Se Lula não
sair, ele será responsabilizado juridicamente por isso”. A possibilidade de que
Lula tenha também a prisão preventiva decretada, devido à desobediência civil e
ameaça à ordem pública, não é descartada pela própria defesa, o que
dificultaria ainda mais a situação do ex-presidente.
Por volta das 17h, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a
entrar em um carro para deixar a sede do sindicato. No entanto, militantes do
petista impediram a saída do veículo do local. Lula saiu novamente do automóvel
e voltou ao prédio até conseguir sair de novo quase duas horas depois.
A expectativa era que ele seguisse diretamente para o aeroporto de
Congonhas, onde já há um avião da FAB à sua espera, mas antes o ex-presidente
passará pela Superintendência da Polícia Federal, no bairro da Lapa, onde fará
o obrigatório exame de corpo de delito. No entanto, a polícia segue mantendo
sigilo sobre a logística da prisão. Em Curitiba, segundo informações, Lula será
embarcado em um helicóptero que o levará para a carceragem da PF.
Mais cedo, ao fazer o seu primeiro discurso após a ordem de prisão
expedida pelo juiz federal Sérgio Moro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse que estava pronto para atender à determinação da Justiça. Nessa
sexta-feira (6), ele recusou se entregar à PF no prazo de até as 17h dado por
Moro. Após o discurso, durante uma missa em homenagem à ex-primeira-dama Marisa
Letícia, ele retornou para o sindicato, onde almoçou com familiares e aliados.
A ideia era que ele “descansasse” um pouco, segundo o presidente do Instituto
Lula, Paulo Okamotto.
Uma movimentação segue no portão lateral do sindicato, onde inclusive um
plástico chegou a ser colocado para dificultar a visibilidade na parte interna
do estacionamento coberto. No entanto, há outras saídas da sede. A previsão era
que Lula deixasse o sindicato num carro da Polícia Federal descaracterizado, a
partir das 16h30.
Ao discursar, Lula afirmou: "Eu vou atender ao mandado deles porque
quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que
acontece é por minha causa, eu já fui condenado a três anos de cadeia porque um
juiz de Manaus entendeu que eu não preciso de armas, mas eu tenho uma língua
ferina", disse, complementando: — A morte de um combatente não para a
revolução.
Lula deixou o prédio do sindicato pela primeira vez neste sábado (7),
por volta das 10h40, para participar da missa em memória de Marisa Letícia, que
completaria neste sábado 68 anos. Depois da homenagem, Lula fez o discurso de
um caminhão de som, ao lado de aliados, como a ex-presidente Dilma Rousseff; o
presidente estadual do PT, Luiz Marinho; os ex-ministros Fernando Haddad e os
pré-candidatos à Presidência Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB).
No discurso, ele ainda disse que o juiz Sérgio Moro mentiu ao confirmar
a acusação de que o tríplex era dele. Lula foi condenado pelo Tribunal Regional
Federal (TRF-4) pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
— Estou sendo processado, mas tenho dito claramente. Sou o único ser
humano processado por um apartamento que não é meu. Que o (jornal) O Globo
mentiu quando disse que era meu. A que a Lava-Jato mentiu quando disse que era
meu. Eu pensei que o juiz Moro ia resolver e ele mentiu também — disse Lula.
Diante da militância, ele abordou vários assuntos. Defendeu uma nova
constituinte, elogiou candidatos às eleições que estavam com ele no palco,
criticou a ideia de privatizar estatais como o BNDES e a Caixa Econômica
Federal. Mas logo voltava ao tema principal do ato e atacava a forma como vem
sendo tratado pela justiça.
— Não estou acima da Justiça. Se não acreditasse, eu tinha proposto uma
revolução nesse país. Acredito numa Justiça justa que faz processo baseado nos
autos, na prova concreta que tem a arma do crime — disse ele, continuando:
— O que não posso admitir é um procurador que fez um powerpoint e foi
pra TV dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o
Brasil. E que o Lula, por ser a figura mais importante, e ele é o chefe. E se o
Lula é o chefe não preciso de prova, eu tenho convicção. Guarde a convicção
dele para os comparsas.
Fonte: Folha1
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