Crônica da semana - DESEJOS DE MULHER


          Essa conversa de desejos intensos e singulares, que as mulheres sentem durante a gravidez, é algo que sempre me encafifou. Porque eu posso compreender que as transformações químicas ou psicológicas, por que passam as grávidas no período da gestação, causem nelas a necessidade de comer certas coisas ou as façam ficar mais emotivas. Mas há umas tantas vontades que, sinceramente, eu sempre achei que ficassem mais no campo da chantagem emocional.
         Parece que, em tais casos, é o próprio organismo que, para compensar as transformações bioquímicas por que passa a futura mamãe, cria nela essa compulsão que convencionamos chamar de “desejos das grávidas”. Do mesmo modo que, em certos períodos do mês, um grande número de mulheres sente aquela vontade desesperada de comer chocolate.
         A maioria dos homens, aliás, compreende mal esses acessos de desejo feminino pela ingestão de chocolate, que as acometem de quando em quando, independentemente do fato de que muitos — homens ou mulheres — sejam aquilo que se costuma chamar de chocólatras. Isto é, viciados no consumo do produto. A maioria dos homens entende que, estando a mulher num daqueles períodos em que tudo parece despertar nelas um ódio mortal ou uma tristeza profunda, uma barra ou duas de chocolate consegue acalmá-las e reequilibrar as coisas.
         Não é verdade. O chocolate, neste caso, não é a solução, mas parte do problema. Porque as causas que despertam nelas essa “fúria assassina” ou “essa vontade inexplicável de chorar”, são as mesmas que nelas despertam aquela vontade desesperada de comer um chocolatinho... Portanto, se você se sente muito esperto porque, identificando esse estado de ânimo alterado na sua parceira, comprou para ela alguns bombons, fique sabendo, que só irá apaziguar uma parte da fera. E que ainda corre risco de vida.
            Mas deixemos o trato deste interessante tema para os especialistas e voltemos aos desejos estrambólicos das gestantes, que deram causa a este texto. Como eu dizia, posso compreender certas vontades das grávidas, tanto as de natureza emocional, quanto as de natureza gastronômica, pelas razões sobre as quais já falei anteriormente.
            Porém, tenho cá comigo uma forte desconfiança — quase certeza — de que algumas mulheres se aproveitam disso para dar vazão a fantasias, extravagâncias e esquisitices, que nada têm a ver com a sublime perspectiva de trazerem alguém a este mundo. Sinceramente, posso entender que uma grávida tenha ânsias de comer cajá verde ou carambola madura. Todavia não posso crer na autenticidade de um desejo em que a gestante queira comer abricó, exigindo que o fruto seja colhido pelo marido, pendurado de cabeça para baixo, como se fosse um morcego!
         É sério, não estou brincando! Já ouvi contar dessas coisas e até muito pior! A última foi a de uma mulher prenhe que queria comer jabuticaba, às quatro horas da madrugada. Mas só servia se fosse colhida pelo desafortunado pai da criança. Ora, tenha santa paciência! Vai me convencer que isso lá é desejo de grávida para ser levado a sério?
         Contudo, no que diz respeito a esse tipo de bizarrice, a história mais esquisita de que tenho conhecimento — e, além de estranha, ridícula para o marido! — foi a de uma gestante, lá na cidade que é o berço da minha família. Ocorre que a mulher, no curso da gravidez, começou a sentir um impulso incontido de ver o “Chico Ferreira, melado de óleo”.
            Esse tal Chico era o mecânico, que tinha uma pequena oficina na cidade. E a grávida começou a sentir um desejo incontrolável de ver o homem, todo lambuzado de óleo, como sempre estava enquanto cuidava do seu ofício. O marido, com medo que ela perdesse a criança, passava com a “desejosa”, várias vezes ao dia, pela porta da oficina, cabisbaixo, para que a mulher satisfizesse a estranha vontade.
         Cabisbaixo, sobretudo, porque a grávida confidenciara esse desejo anômalo para alguma amiga inconfidente e a história se espalhou. Cidade pequena, todo mundo sabendo e o pobre marido “pagando aquele mico”, todo dia.
            Chico Ferreira melado de óleo? Sei não... Mas a gestante jurava que era apenas um desejo de mulher grávida.



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