Crônica da semana - MAIS DE MIL PALHAÇOS NO SALÃO
Wagner Fontenelle Pessôa |
Neste espaço para o qual escrevo todas
as semanas, como parece evidente, tenho preferência pelos temas mais lúdicos. Hoje,
porém, vou ceder a vez para um assunto que, por seu significado e importância,
tanto dá para rir, quanto dá para chorar: o primeiro encontro entre os
candidatos à presidência da República, no pleito de 2018.
O Grupo Band de Comunicação, por
todos os seus veículos, obviamente irá se agarrar à afirmação de que esse
debate — que pode ser chamado de tudo, menos de debate — foi um completo sucesso.
Afinal de contas, o investimento feito no evento, o contingente de pessoas que
o mesmo envolveu e o grau de sofisticação que a ele se aplicou foram inéditos, como
o público bem conseguiu perceber.
Mas,
na verdade, o tão esperado confronto entre os aspirantes ao cargo, conseguiu o
que parecia impensável: foi morno, quase monótono, fazendo com que os
candidatos lembrassem alguns versos épicos do grande poeta Olavo Bilac: “Pobres de ideias, ávidos de foros, rudes
pastores de servil rebanho”... Porque, com certeza, a preocupação de todos
eles estava mais centrada em pedir votos ao eleitorado do que em propor
soluções para os graves problemas nacionais.
Projetos
para uma eventual gestão, planos para um possível governo e explicações sobre
como pretendem solucionar as grandes dificuldades que o Brasil enfrenta em determinadas
áreas, nenhum deles ofereceu e nem mesmo parecia conhecer. Ninguém conseguiu
passar do campo das generalidades. Dessa forma, aquela imensa parcela de
eleitores ainda indecisos — a dois meses do encontro com as urnas — ficou sem
saber como, de maneira efetiva, cada um daqueles postulantes ao cargo de primeiro
mandatário do país, pensa resolver todos os problemas que afligem a sociedade
brasileira.
No
confronto direto, o telespectador, internauta e ouvinte não testemunharam nada
além da troca de algumas farpas, naquilo que se poderia considerar como os
momentos mais emocionantes do evento. Não que fosse desejável ver ou ouvir ofensas
e baixarias entre eles, o que, igualmente, em nada haveria de contribuir para a
decisão do eleitor. Mas o que se esperava (e teria dado sentido a esse debate)
era que os participantes esclarecessem como planejam atacar, concretamente,
problemas relativos à saúde, segurança, educação, saneamento, trabalho e tantos
outros mais.
Isto,
de fato não aconteceu. E algumas soluções sugeridas pelos aspirantes à cadeira
de presidente do Brasil foram rasas e primárias, mesmo que coerentes com o seu
perfil e com o seu discurso habitual. O Bolsonaro afirma que irá resolver os
problemas da educação criando um colégio militar em cada capital de estado. O
Alkmin, que nada enxerga além do umbigo paulistano, acha que o que se faz em
São Paulo servirá de modelo para resolver todos os problemas do país. O Ciro
faz uma promessa eleitoreira de retirar o nome de todos os brasileiros do SPC,
mas não consegue explicar como isto poderá ser feito.
A Marina fala com grande desenvoltura
acerca do meio ambiente, sem justificar, no entanto, porque jamais fez qualquer
manifestação sobre aquele que foi o mais grave crime contra a natureza já
praticado em nosso território: a tragédia de Mariana. O Álvaro Dias,
questionado sobre temas que não domina, como o feminicídio, respondia fugindo
completamente ao assunto e retomando o seu bordão de que “é preciso refundar a
República”, mas sem esclarecer o que isso significa.
O Meirelles queria reduzir tudo ao
seu “economês”, na vã suposição, típica de quem ocupou a pasta da Fazenda, de
que, a simples afirmação de que irá reduzir os juros, retomar o emprego e baixar
a inflação, será suficiente para que os brasileiros depositem nele seus votos e
suas esperanças. Sabe de nada, o inocente! E o cabo Daciolo... Bem, esse é
inqualificável: só não relincha por pura modéstia!
Apesar
de sua habitual elegância, com aquele clima “quase parando” do programa, o
desconforto do apresentador do debate, jornalista Ricardo Boechat, era
perceptível! Tanto que, a certa altura, ele escorregou na própria ânsia para a
ironia e disse ao Ciro Gomes o que seria impensável, para o moderador de um evento
dessa natureza: “Perdeu, playboy!”.
Em seguida, meio que se desculpou, dizendo que estava apenas reproduzindo uma
coisa que o próprio candidato já dissera.
Foi
um encontro lamentável, para dizer o mínimo. E, em que pese o aumento dos
índices de audiência que as emissoras do Grupo Band certamente lograram — e nem
poderia ter sido diferente — em nada contribuiu para que eleitores indecisos
tenham conseguido definir suas preferências eleitorais para 2018.
Se
quiséssemos comparar com uma apresentação de escolas de samba, poderíamos dizer
que foi um desfile de muitas fantasias (algumas, bem fora da realidade), com um
enredo requentado e piorado de outros carnavais e, além de tudo, com uma péssima
evolução! Por tais razões, a escolha do rei Momo continua indefinida. E a única
coisa certa é que há muito “mais de mil palhaços no salão”...
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