EU SEI DO QUE VOCÊ GOSTA...


Tempo bom é aquele do começo de um casamento! Porque, com as exceções de sempre, tudo é prazer e diversão, no início de uma vida a dois. E até mesmo as mancadas e os “micos” que um costuma cometer diante do outro — servem de motivo para se rir depois. É a jovem esposa, que não sabe preparar um simples café para o maridinho; é o marido que nunca trocou um botijão de gás na casa da mamãe e, por isto, fica todo atrapalhado, no momento de fazê-lo. E disso para mais. 

Pois é daí que, sem saber, ele começa a fornecer à mulher, embora tão prematuramente, a munição necessária para que, num futuro não muito distante, ela lhe meta um rótulo de “inútil”, num daqueles momentos de confidências matrimoniais que as mulheres costumam e gostam de fazer entre si. Obviamente, com todo o apoio da sogra do infeliz, se esta estiver presente ao convescote. 

Ocorrem, por certo, embaraços ou ocasiões de algum constrangimento que ambos experimentam, de vez em quando. Às vezes, pela falta de prática no trato das questões domésticas. Noutras, pela falta do entrosamento, que ainda não chegou para os “pombinhos”. Isto quando a motivação para estas coisas não tem raízes mais profundas, que decorrem de um desnivelamento entre os recém-casados. E nisto, sim, é que pode estar o prenúncio de graves dificuldades no futuro do casamento. 

Lembro, por exemplo, de uns conhecidos meus que, em viagem de lua de mel a Campos do Jordão, foram certa noite a um restaurante. E ao entrarem, a mulher percebeu que, numa mesa próxima, outro casal degustava um “fondue” de carne. Cheia de charme, ela disse ao jovem marido: 

— Meu bem, hoje eu vou querer “fondue”... 

Sem saber do que se tratava e achando engraçada a palavra (que se pronuncia “fondi”), o maridinho respondeu, cheio de malícia e nenhum refinamento: 

— Deixa só a gente chegar ao hotel, que você vai ver o que é bom prá tosse! 

Sorrindo, ela explicou, ainda naquela fase em que a mulher transige em relação à falta de estilo do marido: 

— Deixe de ser bobo... “Fondue” é isso que eles estão comendo aí na mesa do lado... Eu adoooooro “fondue”! 

No momento, morreram de rir da ignorância dele. Mas, anos depois, ela se lembraria desse episódio numa roda de amigas, para concluir que se tratava de um “grosso”. Porque é assim mesmo: depois de uns bons anos de vida conjugal, o que pareceu divertido na lua de mel e nos primeiros anos do casamento, será impiedosamente narrado como “mais uma do casca grossa” com quem ela se casou. E que, só para esclarecer, nunca fora mais refinado, desde quando se conheceram. 

Pois é exatamente assim que se se originam as insatisfações no casamento, conforme alguém já disse: a mulher se casa acreditando que conseguirá mudar o marido; mas ele não muda. E o homem se casa acreditando que a mulher nunca haverá de mudar; mas ela muda! No entanto, decorrerão alguns anos, desde a fase em que ela se dirige ao marido com chamamentos carinhosos (como gato, paixão ou aquele meloso “mô”), até aquela em que esses carinhos serão substituídos por outros apelidos, menos sutis (como traste, grosso e imprestável). 

Mas não é bem disto que eu pretendia tratar, senão, daquela primeira fase da vida a dois, cheia de chamego, atenção, carinho e, sobretudo, do desejo incontido, de um pelo outro. 

Pois foi numa fase dessas que aquele casal, apaixonadíssimo partiu para a lua de mel, em uma cidade serrana. E como a vontade acumulada era grande, chegou ao hotel numa sexta-feira, ao cair da tarde, permanecendo no apartamento — de onde pediam o café da manhã e alguns lanches rápidos — até o almoço do domingo, quando desceram ao restaurante, para fazer uma primeira refeição de verdade. 

Vinham, ambos, visivelmente abatidos, olheiras acentuadas, com certa lerdeza de movimentos, além de algum empecilho no caminhar. Verdadeiramente exauridos! Tomaram assento numa das mesas — ela, com um pouco mais de dificuldade do que ele — e logo veio o “maitre” com o cardápio, que, como manda o figurino, ofereceu, em primeiro lugar, à mulher. A jovem esposa o folheou sem muita atenção e, fazendo um charminho para o marido, entregou-lhe o “menu”, dizendo, toda cocote: 

— Meu amor, você já sabe do que eu gosto, né? 

Foi quando ele, deixando transparecer a exaustão na expressão do rosto, respondeu-lhe com um sorriso maroto: 

— Eu sei do que você gosta... Mas a gente também precisa se alimentar, você não acha?! 

Ah... Que fase boa é essa tal de lua de mel!





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