PMs são presos suspeitos pela morte da vereadora Marielle Franco

A Polícia Civil do Rio prendeu na manhã desta terça-feira (12) dois suspeitos de participarem do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), morta em 14 de março do ano passado em um crime ainda não esclarecido.

Integrantes da Delegacia de Homicídios e do Ministério Público do Rio deflagraram uma operação para prender dois acusados de estarem no carro utilizado no crime. Um deles é policial militar reformado e o outro é ex-PM. A ação foi feita com equipes reduzidas para evitar chamar atenção. Às 5h, equipes já cumpriam mandados de prisão em endereços dos suspeitos. Segundo nota divulgada pelo Ministério Público do Rio, um dos presos é o policial militar reformado Ronnie Lessa, 48.

Ele seria um dos suspeitos de ter disparado a arma que matou a vereadora e seu motorista, Anderson Gomes. Gomes levava Marielle e uma assessora de um evento da Lapa, centro, para a Tijuca, zona norte. No meio do caminho, em uma região do centro conhecida como Cidade Nova, um carro emparelhou com a do vereadora e uma pessoa disparou, segundo a polícia, uma arma automática.

De acordo com a promotoria, "a empreitada criminosa foi meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado". A denúncia da Promotoria identifica Lessa como executor do crime.

Ronnie Lessa chegou a ser homenageado na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) com uma moção de louvor apresentada pelo deputado Pedro Fernandes Filho, avô de Pedro Fernandes Neto (PDT), atual secretário estadual de educação.


Em 1998, ao propor a moção, o parlamentar afirmou que o policial era digno da homenagem por "honrar, permanentemente, com suas posturas, atitudes e desempenho profissional, a sua condição humana e de militar discreto mas eficaz".

O segundo suspeito preso foi o ex-policial militar Élcio Vieira de Queiroz, 46. Ele estaria, segundo o Ministério Público, no carro quando os tiros foram disparados.

Além dos pedidos de prisão, o Ministério Público também pediu a suspensão da remuneração e do porte de arma de Lessa. Também foi pedido à Justiça indenização por danos morais das famílias da vítima e pensão em favor do filho de Anderson Gomes até ele completar 24 anos.

Os dois presos devem passar a noite na Delegacia de Homicídios do Rio, para onde foram levados após serem presos por volta das 4h desta terça.

A Folha apurou que os dois também foram denunciados por tentativa de homicídio da assessora de Marielle que sobreviveu ao atentado. Segundo a denúncia, Marielle teria sido morta em razão de sua militância em favor dos direitos humanos. A operação desta manhã foi a primeira com a participação do Ministério Público do Rio, por meio do Gaeco, que é o grupo de combate ao crime organizado. Essa unidade investiga crimes principalmente relacionados às milícias no Rio.

A ação foi batizada de Lume, em referência ao Buraco do Lume, praça no centro do Rio em que parlamentares do PSOL costumam se reunir para falar de seus mandatos, toda sexta-feira. Marielle tinha um projeto no local chamado Lume Feminista.“É inconteste que Marielle Francisco da Silva foi sumariamente executada em razão da atuação política na defesa das causas que defendia”, diz a denúncia.

A Folha apurou que os presos foram levados para a Delegacia de Homicídios, que lidera as investigações. Está prevista para as 11h uma coletiva com as autoridades do caso.


Lessa foi preso em sua casa, no condomínio Vivendas da Barra, na Barra da Tijuca, zona oeste. O local é o mesmo em que o presidente Jair Bolsonaro tem casa. Os trechos da denúncia divulgados até o momento não mencionam o nome do presidente. Ao menos 34 imóveis ligados à investigação tiveram mandados de busca e apreensão expedidos. Não há notícia até o momento de quais desses locais têm relação com a família Bolsonaro.

De acordo com o jornal O Globo, Lessa entrou na lista de suspeitos após ser vítima de uma emboscada, em 28 de abril, trinta dias depois do assassinato da vereadora. A suspeita seria que pessoas envolvidas no crime teriam tentado promover uma queima de arquivo.

Os investigadores também teriam identificado que o policial reformado teria feito pesquisas sobre a rotina de Marielle e sobre eventos que participaria semanas antes do crime.
CADÊ O MANDANTE?

Mônica Benício, viúva de Marielle Franco, disse à Folha que considera a operação desta terça (12) um passo importante nas investigações, mas lamentou que a principal pergunta —quem mandou matar a vereadora— ainda não tenha sido respondida. "Não basta prender mercenários, é importante saber quem mandou articular tudo isso e qual foi a motivação", afirmou.

Ela também criticou a demora das autoridades para entregar respostas sobre o assassinato, que completará um ano no dia 14 de março. "Considero esse tempo de um ano uma demora muito grande para uma execução que foi um crime político, de repercussão internacional. Lamentável que a gente chegue a um ano para poder responder a esta primeira etapa, que é importante, mas que não é principal", disse.

Mônica afirmou, no entanto, que nunca perdeu a esperança de que o crime será solucionado. "O Brasil hoje deve satisfação ao mundo. Não há, para mim, a possibilidade de isso não ser respondido. Não é só pela preservação da memória da Marielle, mas pela garantia da nossa democracia."

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