PARECIDO DEMAIS COMIGO!

Se existe algo que sempre me intrigou foi esse negócio de as pessoas serem fisicamente parecidas, às vezes, de um jeito extraordinário, como se houvessem sido moldadas num mesmo molde. Por exemplo, os gêmeos monozigóticos, também chamados idênticos ou univitelinos. Mas não é a genética dos gêmeos que me impressiona; é o fato de existirem, neste mundo de Deus, indivíduos com um grau tão elevado de semelhança física, como se produzidos em série. 

Portanto, aqui não me refiro a esses gêmeos, que são o resultado de um mesmo óvulo e um só espermatozoide, possuindo o mesmo genoma, o que, de algum modo já explica a sua incrível semelhança. Nem aos asiáticos — principalmente os japoneses e chineses — que, sob o olhar ocidental, são quase todos iguais e, como os eletrônicos que também produzem, parecem ser fabricados em série e com alguns componentes miniaturizados. 

O que espicaça a minha curiosidade é entender como duas pessoas podem se parecer tanto e qual é a causa disso. Quanto aos irmãos, primos e consanguíneos de maneira geral, é compreensível. O mistério, para mim é quando isso acontece com aqueles que não têm qualquer grau de parentesco, que nem se conhecem e, não raras vezes, vivem em lugares e regiões afastadas, para que não pese nenhuma dúvida sobre a honorabilidade de seus pais e, principalmente, de suas mães. 

Todo mundo conhece ou já conheceu alguém que se parece com outro alguém, que também conhece. E de vez em quando se surpreende com esses encontros, sendo inevitável dizer aquela frase, que todos pronunciamos — aqui, ali ou acolá — durante a vida: “Nossa, mas você é igualzinho a um primo (um amigo, um conhecido que mencionamos na oportunidade) que eu tenho!”. A pessoa fica sem ter o que responder e o registro de que ela tem um sósia fica feito, sem nenhuma serventia. 

Na realidade, também há muita gente que nos acha parecidíssimo com alguma outra pessoa, com quem não nos parecemos nem um pouco. Em menor número, porém, é verdade que existem casos de sósias espantosamente perfeitos. 

Há poucos dias, por exemplo, ao entrar num restaurante, vi uma conhecida com quem já não me encontrava há bastante tempo, conversando com um sujeito. Da porta mesmo, fiz-lhe um aceno animado. Mas ela não pareceu tão feliz em me ver. Voltou-se para o cara e continuou a conversar, como se eu nem existisse. Fiquei um tanto constrangido com aquilo e só pude deduzir que se tratasse de um namorado novo, daquele tipo ciumento, que não só pretende controlar o presente e futuro, mas também o passado da criatura. Coisa típica de homem babaquara... 

Diante dessa deplorável hipótese, não me aproximei do casal, mas, ao sair, eu perguntei ao recepcionista se ele conhecia aquela pessoa e se o nome dela era tal. O rapaz me disse que não: o nome dela era outro. Deve ter vindo daí a sua indiferença pelo meu cumprimento efusivo. Mas pense em duas pessoas iguais! Inacreditável que não fosse ela porque uma era a outra todinha: do biótipo ao formato do rosto; da cor dos olhos e dos cabelos ao jeito de prendê-los. Absolutamente iguais! 

Porém, a minha experiência mais estranha, em relação a esse tipo de coisa, aconteceu comigo mesmo, numa viagem de trabalho, que fiz a Brasília. Eu chegara pela manhã e no horário do almoço fui até o restaurante do hotel, no qual, por algum motivo eu nunca me hospedara antes. Escolhi uma mesa e me sentei, fiz o meu pedido e fiquei esperando que o trouxessem. 

Depois dei uma olhada no ambiente e tomei um susto, quando vi sentado em outra mesa, um pouco mais distante, um sujeito que era o meu sósia perfeito: exatamente igual a mim! O formato do rosto, os cabelos, a barba e até os óculos! A estatura, eu não pude avaliar, porque estávamos ambos sentados. Mas foi um lance rápido e fiquei tão impressionado com aquilo que embora ele estivesse de lado e não me olhasse também, cheguei a pensar em ir até a mesa dele, só para conferir. 

Antes disso, porém, percebi que, além do mais, estávamos usando um terno da mesma cor e tonalidade. E me dei conta de que não era meu sósia porcaria nenhuma! Era a minha própria imagem refletida, de um espelho noutro espelho, ambos imaculadamente limpos, que cobriam duas das paredes do restaurante, do piso ao teto. 

Eu me senti um perfeito idiota e comecei a rir sozinho, do susto que levara e daquela fração de tempo que demorei, para reconhecer que aquele era eu mesmo. Mas uma coisa eu posso garantir e dizer em meu favor: o tal do “sósia” era parecido demais comigo! E, talvez, isso explique a confusão...

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