FIQUEI MUITO INDIGNADO!
Sobre
essa gente que age como se não tivesse a mínima noção de nada e daqueles
comportamentos alheios inusitados, que todos já testemunhamos ou (pior ainda) com
que nos respingaram alguma vez na vida, não faz muito tempo que escrevi e
publiquei uma crônica, aqui mesmo neste espaço.
A questão é que essas coisas
acontecem com muito mais frequência do que deveriam acontecer, porque gente sem
noção, com pouco ou nenhum senso de propriedade, oportunidade e adequação é o
que mais tem no mundo! Então, uma coisa leva a outra e quando cutucamos esse
“vespeiro das gafes”, todo o enxame se levanta e vem na nossa direção!
É só falar do assunto para que as
pessoas comecem a se lembrar de alguma experiência do tipo e também para que
venham à tona da nossa memória outros fatos do mesmo gênero, que alguém nos
contou, que presenciamos ou nos quais estivemos envolvidos.
Pois foi isto o que me aconteceu,
depois que escrevi sobre o tema. Danei a me lembrar de uns absurdos — umas situações
engraçadas e outras constrangedoras — que se enquadram na mesma categoria de
“protagonismo da inconveniência”, que parece ser a especialidade de algumas
criaturas: aquelas que vieram ao mundo apenas para embaraçar os familiares,
amigos e conhecidos.
Foi quando a memória me levou de
volta à despedida de solteiro de um colega de profissão, que marcou a sua
renúncia ao celibato de maneira incomum. Diferentemente daquelas festinhas que
costumam caracterizar a transferência dos condenados, do regime aberto para o semiaberto
ou fechado, o noivo resolveu fazê-la de forma mais comportada e estruturada.
Com a ajuda da noiva e das amigas
dela, preparou uma reunião com a participação dos amigos e suas respectivas mulheres,
além da própria noiva, suas amigas e das famílias de ambos: pais, mães, irmãos,
tios e primos, parentes e aderentes. Tudo muito bem organizado e bem servido,
mas nada daquelas bobagens que os amigos adoram aprontar para os que estão
prestes a mudarem de estado civil.
A
bebida correu farta pelas mesas e a mãe do noivo, um tipo meio destrambelhado,
não se fez de rogada, na hora de consumir as “fermentadas e as destiladas”.
Bebeu todas e misturou várias, além de socializar em cada mesa, numa intimidade
de dar gosto, com os conhecidos e também com os que estava vendo pela primeira
vez. Até que, mais para o final do convescote, resolveu fazer o inusitado.
Lá pelas tantas, com a língua já
inteiramente destravada, contava a um grupo de convidados do filho, com aquele
entusiasmo típico de quem acabou de recuperar a autoestima, sobre uma cirurgia
plástica recente, na qual fizera um serviço completo: “desamassamento, solda e
pintura”, como dizem no Ceará.
Em suas próprias palavras, o
resultado de tudo ficara um primor! Se fosse um carro usado (o que, de fato,
era!), poderia ser anunciado para venda como “em estado de novo”. E no seu
regozijo incontido, somado aos muitos copos de bebida que ela esvaziara, abriu
a blusa — de onde saltaram duas maçãs, daquelas maiores — e, sem qualquer
cerimônia, exibiu os peitos para a galera, que estava presente ao glorioso
momento. A alegria foi geral, excetuando-se, naturalmente, seu marido, seus
filhos, sua futura nora e os pais desta.
De
minha parte, confesso que fiquei muito indignado com aquilo! Não que seja
moralista ou puritano, mas porque, tendo outro compromisso naquela noite, eu havia
me ausentado uns vinte ou trinta minutos antes do “grande final”. E só tomei
conhecimento do ocorrido por outros amigos, que tiveram a boa fortuna de permanecer
até mais tarde. Ah, que raiva!
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